A ignorância é, sim, terrível para o cristianismo. Aquele que não compreende a Palavra facilmente se leva por um fanatismo infundado, adentra o paganismo cristão, com seu politeísmo... Mas, do outro lado, dentro o povo mais versado na Palavra, também existe um grande problema: o cristianismo teórico.
Eu mesmo já fui um "cristão teórico" por alguns anos. Não que eu fosse culto na Palavra dos 12 aos 15, mas tive uma pequena experiência que pode servir de exemplo. Com meus 12, quase adentrando a adolescência, acabei sendo seduzido por aquilo que seduz quase todo o guri nessa idade e acabei me prendendo nisso... porque é muito fácil fazê-lo com internet e liberdade. Nem preciso falar do que se tratava. O fato é que com meus 13 comecei a debater fervorosamente criacionismo na internet, em comundades criacionistas e céticas do Orkut. Por quase dois anos eu tinha um compromisso quase que diário em fóruns, criando e respondendo tópicos com energia interminável. Por mais um ou dois anos eu segui estudando muito esse assunto e, volta e meia, dando o ar da presença em meio aos ateus. O problema é que eu continuava pecando, no final, em parte tentando me livrar, mas não efetivamente. Eu sabia que erraria novamente... ou melhor, eu deixava essa porta aberta.
Por "sorte" o meu pecado, a minha preguiça espiritual, a minha falta de temor se limitou ao meu relacionamento individual com Deus e ao meu computador com internet e, pela graça de um Pai que não desiste, eu consegui me desvencilhar da arapuca. Satanás colocara a isca, mas minha parte bestial, como humano, é que me fez farejá-la. Depois dessa luta intensa, o grande monstro em meu interior fora diminuído.
"Cristianismo teórico". Foi isso que eu vivi até os meus 15 anos, até tomar uma decisão séria por Deus. É claro que não deixei de errar, mas a transformação faz parte de um processo gradual e constante. Bom, a questão é que, mesmo errando posteriormente, meu cristianismo estava deixando de ser teórico, apenas, se tornava um cristianismo prático, o conhecimento, gradativamente, foi se equilibrando e condizendo com o agir, embora ainda, infelizmente, há um pouco mais de teoria do que prática em meu viver... mas a mudança ainda ocorre.
Ok, chega de falar de mim. Vamos falar do que é, de modo geral, o cristão teórico e qual seu grande problema:
Um cristão teórico é aquele que não poupa seu dinheiro na compra de livros teológicos e cristãos em geral, que possui uma verdadeira biblioteca deles, além de inúmeras versões da Bíblia, em várias línguas e traduções. O cristão teórico pode ter um curso completo de teologia, uma infinidade de versículos decorados e ser o rei dos debates acerca da Bíblia. Mas, embora tenha isso tudo - o que é muito bom -, não vive. Sabe boa parte do que a Palavra diz e não pratica metade. Estuda teologia por esporte, Deus não é mais "alguém" para ele, Deus se tornou um conjunto de letras, uma fria combinação de palavras lidas e concepções filosóficas. Talvez até o indivíduo não seja frio, mas não põe em prática a essência do cristianismo, buscando mais para si do que visando a salvação dos outros... prefere discutir arminianismo e calvinismo do que falar do Evangelho em si.
O cristão teórico não é apenas aquele que possui um acervo admirável que não lhe produz mudança, mas todo e qualquer cristão que tenha algum conhecimento sobre Deus e Bíblia, mas não pratica, era aqui que eu me encaixei uns anos atrás. Vai aos cultos, pensa em mil assuntos durante a pregação e o louvor, sai ansioso para voltar para casa e "jogar computador" ou assistir televisão. Não lembra de nada que o pastor falou. Durante a semana Deus fica por último, os colegas da escola ou outros próximos é que ditam as regras. Não há clara evidência de que ele se trata de um cristão.
Pior ainda é quando esse cristão teórico começa a caminhar para um anticristianismo. Como? Quando coopera para a destruição da imagem e do testemunho da Igreja perante o mundo, largando-se na perdição, na libertinagem, na vulgaridade. Sobre esses eu já falei muito outrora.
O cristianismo teórico produz, por fim, a concepção mais nojenta, mais podre de fé: "o cristão não praticante". Ora! Se um suposto lenhador não corta, nunca lenha, então ele não é lenhador! Se um indivíduo se diz caçador, mas não tem coragem para matar uma mosca, então não é caçador! Poxa, toda a doutrina de vida possui aspectos marcantes e que devem ser vividos... é impossível me dizer ser algo se não faço nada do que ele condiciona a fazer! O "cristão não praticante" simplesmente não é cristão. Ele negou o chamado do Espírito, ele negou a Boa Nova, pois não vive uma novidade de vida. Ele, simplesmente, está condenado. O pior é que pensa que Deus é uma máquina que processa informações, capaz de considerá-lo Filho simplesmente porque o rótulo diz isso. Ora, Deus não é cego, Deus não é manipulável, DEUS É DEUS!
O cristianismo teórico pode ser partilhado não só por cristãos, mas por ateus, umbandistas, satanistas... porque trata-se, apenas, de conhecimento bíblico e teológico, qualquer um pode tê-lo no seu nível superficial. A diferença do cristão, a única que pode ser evidente, é a vivência. Apenas isso! Infelizmente, com a lei que profissionaliza o posto de pastor - o que, de certo modo é bom -, uma corja de pastores quase que ateus poderá adentrar os templos, pois bastará estudo, conhecimento teórico e condição de "dar aula" para a multidão. Algo assim já está acontecendo na Europa e noutros lugares.
O "mundo" percebe a falta de interesse. O "mundo" percebe a ironia, a contradição. Qualquer um que tenha algum senso de moral consegue perceber a pouca vergonha que se abate nas igrejas e, conseqüentemente, não desejar fazer parte dessa sacanagem. É óbvio que se a Bíblia fala algo, este deve ser considerado! Até os incrédulos sabem disso... mas eles não têm dever algum para com a Palavra, nós sim! Ah, eles vêem a hipocrisia de vidas mortas pregando a Vida Eterna! Eles vêem!
Deus, desde o começo, criou o homem para se relacionar com Ele. Por que, então, hoje Ele aceitaria apenas o jogo de rituais e um cronograma frio de vida espiritual? Deus não se importa mais com a quantidade de conhecimento que você possui dEle do que com a quantidade de sua vida que você pode oferecer para Ele! É preferível aquele que pouco conhece, mas regula sua vida com base nisso, do que o que muito sabe, mas vive de forma adversa a tal conhecimento. Deus vê o coração, a vontade, o desejo! Deus vê a integridade da vida espiritual, a coerência da teoria com a prática! -É claro que não desculpas para os cristãos que, tendo oportunidade, preferem não conhecer mais de Deus e permanecer na ignorância... Esses Deus também vê, percebe sua falta de temor e interesse!
A questão é o que o indivíduo faz mediante o que tem oportunidade de conhecer sobre Deus. Por isso, facilmente concebo o fato de que povos primitivos que nunca ouviram falar de Deus, terão um julgamento justo, mediante a coerência de suas vidas para com aquilo que concebiam ser a verdade. Pense só: o membro de uma tribo concebe, analisando a maravilhosa natureza, a existência de uma divindade absoluta e criadora e a respeita, a procura. De certo modo, mediante o acesso ao conhecimento que possui, este indivíduo está, sim, procurando o verdadeiro Deus! E Deus irá, no dia do Juízo, analisar esse fator determinante! Ele é justo!!
Pense nisso, leitor. É preferível viver a mentira como sendo verdade do que viver a Verdade como se fosse mentira! E, não se esqueça: Jesus não veio pregar uma nova religião, ele veio pregar uma nova forma de viver!
Natanael Castoldi
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Aproveito para encaixar aqui um artigo do meu pai, sobre como concebemo Deus, o que está diretamente ligado à nossa postura para com ele:
QUE CONCEITO VOCÊ TEM DE DEUS?
Quando falo da minha infância, uma das lembranças mais vívidas diz respeito ao meu avô materno, João Batista Tiecker. Ele possuía uma personalidade cativante, porém contraditória. Era um homem de grande zelo religioso, mas ao mesmo tempo aprisionado ao vício do cigarro e do álcool. Aliás, essa é uma triste realidade em quase todas as famílias do contexto cultural que herdamos. Mas o que o distinguia dos demais homens que conheci na minha infância, é que ele assumia, mesmo dentro das suas limitações, o papel de líder espiritual de sua casa. Uma raridade!
Já compartilhei isso em outros artigos que escrevi, que muitas vezes ele me colocava sentado em uma de suas pernas e lia para mim histórias bíblicas. Isso marcou profundamente a minha infância. Ali foram lançadas as primeiras sementes que ao germinar, despertaram em mim a busca de Deus. Contudo, se dependesse somente das impressões que recebi dele, eu teria apenas uma parte da revelação; a parte que estava ligada a um conceito reconhecidamente católico: O medo.
É bom que tenhamos medo de Deus, pois a própria Palavra diz: “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” – Hebreus 10.31. O Senhor Jesus, ao se reportar a essa realidade, adverte: “Digo-vos, pois, amigos meus: Não temeis os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer” – Hebreus 12.4-5. Alguns poderiam pensar que Jesus estava referindo-se ao Diabo, mas o contexto mostra claramente que Ele referia-se a Deus.
Deus deve ser temido, sim, pois é o único que possui legítima investidura para julgar todas as coisas. Porém, para formar um conceito verdadeiro de Deus, é necessário considerar não apenas o fato de que Ele é o Todo-Poderoso, mas compreender que tipo de relacionamento Ele deseja ter conosco. Vou dar um exemplo: Um pai possui poder para estraçalhar o corpo de seu filho pequeno. Ao olhar para o tamanho e a força do seu pai, essa criança poderia simplesmente fugir apavorada, e no entanto, ela corre alegremente para os seus braços. Por que ela age assim? Por que ela compreendeu um outro conceito: O pai a ama! Mas, quando ela faz algo errado e recebe alguma ameaça de disciplina, ela deve sentir medo. Esse temor é saudável e a manterá no bom caminho.
Ao longo dos anos de ministério, tenho percebido que são poucas as pessoas que conseguem de fato equilibrar esses dois conceitos: Amor e temor. Alguns exageram no temor e nunca conseguem ter um relacionamento vibrante com Deus. Outros exageram no amor e então sentem-se livres para viver uma vida desleixada e acabam sendo enredados nos laços do Diabo. A grande nova que Jesus Cristo, o Filho de Deus nos trouxe, foi a revelação de uma nova possibilidade: A lei evidenciava Deus como Juiz, a graça nos apresentou o Pai.
Por que usei a expressão “possibilidade”? Deus não é naturalmente pai de todos? Sim e não! Sim, por que de fato Ele é o criador de todas as coisas. Não, porque Ele somente exercerá sua paternidade sobre aqueles que se submeterem explicitamente à condição de filhos: “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome” – João 1.12. Para os demais, Deus continuará sendo apenas Juiz. Essa certamente não é uma posição confortável!!!
Prezado leitor: Que conceito você tem de Deus? Minha experiência pessoal é que enquanto vemos a Deus apenas como Juiz, poderemos buscá-lo por senso de necessidade, mas não encontraremos prazer nEle. No entanto, quando o conhecemos como Pai, vamos sentir uma alegria cada vez maior de estar em Sua presença. E o temor? O temor se transformará aos poucos num gratificante zelo de não desapontá-lo, porque já teremos compreendido, que em Seu coração, Deus deseja tão somente ser o nosso PAI. Não fuja de quem te ama!
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