De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Rebelião

É sempre assim: nos movemos por fases. Volta e meia nosso pensamento se detém e aprofunda em determinados assuntos e nossa energia e inspiração se depositam quase que na totalidade na reflexão e desenvolvimento desses tópicos específicos. Essa verdade sempre moveu meu blog e por esse motivo é que, depois de uma determinada postagem, quase sempre seguem outras voltadas para o mesmo tema - abrimos as beiradas da densa floresta que envolve a reflexão em questão e, vendo que há mais a derrubar e desbravar pela frente, prosseguimos, até decidirmos mudar de vereda. Hoje pretendo falar um pouco mais sobre aquilo que vem sendo escrito desde a postagem "Seriedade": o cristianismo não é brincadeira, exige entrega total, exige atitude.
Rebeldia: uma palavra geralmente muito mal vista por uma grande maioria e idolatrada por uma minoria que só a almeja para ser diferente da maioria e, sendo diferente, aparecer, sentir-se importante. Não falarei da minoria, mas do sentimento da maioria ao ter um pequeno grupo indo contra o sistema dominante, o sistema tradicional, o sistema que fundamenta, que supre, que acomoda os muitos. É bem fácil de entender, com base no incômodo que a minoria rebelada representa, o repúdio dos muitos para com os poucos, pois se sentem ofendidos, incomodados com o agir peculiar e, até mesmo, ameaçados, pois o crescimento dessa minoria pode significar uma mudança de postura da maioria, o que é uma barreira dificílima de aceitar. Não entra em discussão nessa história as minorias que, realmente, são malignas para a sociedade -não somente atrapalham o andar normal das coisas, mas representam um aprofundar da violência, da perversão e uma maior disseminação de doenças, além do aumento de óbitos e uma ameaça real aos valores morais e éticos, pois destroem a família-, também não falo daquelas minorias que não precisam mais lutar, pois sua vitimação e agressividade já minaram a cabeça da maioria em seu favor, estou falando de uma minoria rebelde que se levanta contra o caos, contra a morte, contra a ruína de uma sociedade cega e insana, uma minoria profundamente alicerçada em ideias morais e éticos, que se resumem em amor e fraternidade, uma minoria que se submete ao homem mais perfeito que já pisou nesse mundo: Cristo. Sim, falo dos cristãos.
Alguns podem questionar: "mas a maioria dos brasileiros é cristã!" Mentira. A maioria dos brasileiros segue uma religião pagã travestida de cristianismo, tomada de idolatria e misticismo, não tendo nada haver com a fé no Cristo, que está mais para a simples e absoluta Verdade, do que para uma religião. Não me refiro apenas ao catolicismo nacional, apegado aos demônios africanos, às imagens de escultura e à tradição, me refiro também às crescentes igrejas evangélicas pentecostais e neo-pentecostais, que de cristãs também não tem muito: o templo de pedra, ricamente ornamentado, é tido como a "casa de Deus", sendo que na Nova Aliança, em Cristo, nós o somos -João 4:19-24; Deus parece mais um comerciante, que só abençoa se for remunerado; o verdadeiro deus é o dinheiro, almejado pelos fiéis, que procuram prosperidade, pelos pastores, que são gananciosos, e pela indústria de comércio gospel, que tem fomentado um insano capitalismo na igreja, enveredando as massas cristãs num universo consumista -Mateus 6:24; a igreja mais parece um clube, uma casa de apostas, um teatro, uma boate; não existe mais Trindade, mas um "Quarteto", pois os fiéis assim classificam, segundo o poder espiritual: Pai, Filho, Espírito Santo e pastor local, esquecendo-se de que o mesmo Espírito Santo que, talvez, age no pastor, talvez age neles -1 Pedro 2:5-9; relíquias, como as medievais -"pedaços de santos", "pregos da Cruz"...- são vendidas aos fiéis, que creem que objetos, em si, têm algum poder, o que é paganismo, dentre os quais encontramos: o martelo da bênção, a vela contra a inveja, o sabonete da purificação, a água santa...; endemoninhados e demônios são centro do espetáculo, a atração principal do circo, que também apresenta especialistas em sapateado, rodopios, gritos ou, ainda, algumas "unções": um faz o 'leão', outro o 'touro' e outro o 'cachorro' -Mateus 6:1-6, 23:3-8... Não, muitos que se dizem cristãos, não são cristãos, já que uns são "não-praticantes" -e isso é impossível, João 15:14 e Mateus 12:30- e outros fazem exatamente o inverso que a Bíblia pede -não mudam de vida, mergulham-se em pecados e deturpam a verdade de Deus -Mateus 7:21-23. Cristãos verdadeiros não são muitos, mas também não digo que pra ser cristão deve-se ser perfeito, pois só o somos em Cristo e aos Seus olhos - quando Ele mesmo habita em nós e passa a nos representar.

Parte 1: discursos de Jesus

Ser cristão é fazer o oposto daquilo que faz o mundo, é ser santo, é ser separado! Ou você acha que o Sermão do Monte representa o que, além de uma total rebeldia contra as forças e costumes terrenos? Sim, cristãos são rebeldes,  não contra o governo humano, mas contra o sistema imperante nesse mundo, contra a postura da maioria das pessoas, regadas pelos prazeres carnais, contra a sua própria natureza humana. Vamos dar uma analisada em Mateus 5:3-11:
Esse mundo pisa nos fracos, zomba e abusa de sua posição, mas, para nós, cristãos, os que choram receberão o devido consolo de nosso Pai -verso 4; esse mundo não se interessa mais na calmaria, na tranquilidade, na paz, mas idolatra a violência e o bizarro, enquanto vive de forma insana, mas para nós, os mansos e pacificadores serão os herdeiros da Terra e tornar-se-ão filhos de Deus -versos 5 e 9; para a nossa sociedade, quem defende o justo, reto e bom, quem se dedica em prol da honestidade e sinceridade, é burro, fraco e sempre sairá perdendo, mas para Cristo, os que têm sede de justiça serão fartos -verso 6; no universo capitalista e individualista em que vivemos, a mentalidade geral é o bem individual, os fracos que sirvam de tapete, mas para Deus, aqueles que tem um coração misericordioso alcançarão a Sua misericórdia -verso 7;  a malícia tem tomado conta de todos os corações, que não podem mais nem sequer ver amizade sem ver sexo, mas para Cristo, apenas os puros de coração verão a Deus -verso 8. Agora, no verso 10, entra algo interessante, após todos os outros versículos anteriores: perseguição. Mas por que isso vem nesse contexto? Porque em Cristo seremos o oposto do restante, do poder imperante desse mundo e, logo, perseguidos. É exatamente isso que nos acontece: somos tachados de gays, "santinhos" -como deboche- ou burros pelo fato de buscarmos pureza e castidade, inclusive tentam nos rebaixar quando nos vêem fazendo algo em prol dos mais fracos -hoje é vergonhoso, aos olhos da sociedade, visitar um asilo, um presídio, uma aldeia...
Jesus segue dizendo no verso 13 de Mateus 5 que, sendo o oposto da regra geral, nos tornamos "o sal da terra", aqueles que dão o sabor diferenciado, "luz nas trevas", chamativas "cidades sobre montes" - versos 13-16. Em meio a uma humanidade corrupta, no verso 20, somos orientados a exercer com excelência a justiça e em uma sociedade orgulhosa, a procurar a paz com os próximos antes de qualquer coisa -verso 24. Nosso padrão moral, ao contrário da regra geral, não se move pelas obras que fazemos, apenas, mas pelo que sentimos em nosso coração, pelo nosso caráter -versos 28. Os dois versículos seguintes são daqueles que mostram o quão radicais devemos ser em nossa fé e postura cristã, logicamente os versos 29 e 30 não se referem a automutilação, como vi um cético argumentando outrora, mas são figuras a exemplificar o tamanho da seriedade com que devemos carregar o nome de Cristo e a Sua salvação - somos rebeldes, pois enquanto todos os demais usam seus olhos para a lascívia, por exemplo, nós devemos nos privar disso, ou seja: nosso corpo deve ser consagrado à boa Obra de Deus, deixando-se dominar por Ele e não nos dominando, então passamos, em oposição aos "normais", a não nos mover exclusivamente no saciar das vontades carnais, dos prazeres, pois nos desprendemos dos domínios seculares e caminhamos com a vontade de Deus priorizada. Eu não quero ser drástico, mas mesmo que os dois versículos fossem literais, conteriam a razão, pois, de fato, é melhor eu ficar caolho e ser salvo, do que arder, por causa da malícia de meus olhos, eternamente no Inferno.
Mateus 5 é riquíssimo e, ao mesmo tempo, assustador, pois põe a responsabilidade cristã num nível muito elevado, à ponto de qualquer um que ouvir e seguir essa parte do Sermão do Monte, se tornar um ser extremamente peculiar e raro, ao olhos mundanos um louco ou um verdadeiro santo. Com base no que Cristo diz é impossível ser cristão sem ser um rebelde, oposição completa e fortíssima ao padrão mundano. Quem deixa-se agredir pelos outros, abrindo mão de seu orgulho -verso 39? Quem se doa tanto aos outros, fazendo por eles bem mais do que o necessário -versos 40-42? Quem hoje consegue amar seus inimigos, não desejando-lhes mal algum, se o amor esfriou-se até para com os amigos -verso 44? Sim, ser  de fato cristão é representar uma anomalia -algo fora do comum- na sociedade - uma figura benéfica e construtiva numa humanidade caótica. Ser cristão é ser, noutras palavras, estranho, insano e, quem sabe, uma aberração aos olhos incrédulos. Isso é ruim? Não... a única forma de se apresentar como alternativa de vida aos que sofrem é sendo diferente! Num mundo de trevas, a candeia oculta não faz diferença nenhuma!! E, dos loucos, é melhor ser tachado assim por causa de uma fé genuína e benéfica do que, como se vê hoje, pela hipocrisia e fanatismo - pelo visto, a não ser que o "cristão" seja "não-praticante", é impossível ser seguidor de Cristo sem ser considerado louco aos padrões seculares -1 Coríntios 1:21 e 23, 2:14; 2 Coríntios 2:16.
O capítulo 6 de Mateus mantém o nível do discurso de um homem que só pode ser Deus. Os versos 1-6 já foram citados, vide, portanto, os versos 7-8: em um mundo capitalista, onde o desespero tomou conta dos corações de uma humanidade vazia e insegura, que vive para abastecer-se diariamente, que vive para angariar o máximo de tesouros para si, mesmo que metade deles se empoeire na "caixa do esquecimento", somos orientados a não correr insanamente atrás do pão, do suprimento, levando uma vida mais humilde e de entrega total ao Criador -isso não quer dizer que devemos nos acomodar na preguiça e sermos imprudentes, Provérbios 6:6-11. Os versos 12 e 14-15 reforçam a idéia de que não devemos dedicar muito de nossa energia nos negócios próprios dos incrédulos, nas coisas desse mundo e, além disso, em amor pelos próximos, devemos exercer com humildade o perdão, sem guardar rancor. O raciocínio de Cristo ganha mais corpo nos versos 19-21, onde Ele nos orienta a não procurarmos, como prioridade, o domínio de tesouros materiais, mundanos, pois eles não contribuem em nada para a Vida Eterna e podem nos fazer tropeçar, pois se vemos na carne a nossa prioridade, se vemos na imundícia o nosso prazer, então estaremos cheios de trevas, das mesmas trevas que dominam esse mundo decaído e, portanto, muito longes do santíssimo Deus -versos 22-24. Por fim, o raciocínio iniciado por Cristo nos versos 7-8 entra no ápice e conclusão nos versos 25-34: que as coisas de Deus sejam nossa prioridade, antes de tudo, pois servindo ao Eterno Criador, nada nos faltará -Salmos 23:1. Obs: você percebe como é importante não se deter na leitura de versículos esparsos, mas sim em trechos inteiros da Palavra? Jesus não foi um criador de "pensamentos" e "sortes do dia", mas um pregador completo e coerente!
O capítulo 7 de Mateus conclui aquele que é um dos blocos de discursos de Cristo mais belos da Bíblia e é nele que concluirei essa parte da postagem. Os versos 1-5 já dão o tom da mensagem desse capítulo: num mundo de hipocrisia e falsidade, devemos, como cristãos, ser o diferencial!! Termos moral para falar e orientar, isso sem nunca julgar por julgar, com base em arrogância e desprezo, aqueles que estão mergulhados nas trevas e praticando aquilo que lhes é próprio. Por que? Simples, vide o verso 12! Finalmente Cristo deixa explícito que os Seus filhos são verdadeiramente rebeldes em relação ao mundo: as atitudes próprias de quem não pertence à essa humanidade, fazem com que os verdadeiros cristãos tomem um rumo totalmente diferente daquele que é tomado por quase todos os demais, adentrando um "apertado caminho", onde se mantér é difícil e doloroso, pois falta espaço para a natureza carnal agir com liberdade, enquanto quase todos, dizendo-se ou não cristãos, estão caminhando juntos numa "vereda larga", seguindo o que é mais fácil, onde há espaço suficiente para se deixar dominar pelos instintos carnais -versos 13-14. Aqui, na conclusão do belíssimo discurso, vemos Jesus dando as pistas para que se reconheça o verdadeiro cristão: ele produzirá bons frutos, ao contrário da regra geral, da regra de uma humanidade ímpia e apta apenas a produzir furtos amargos -15-23. Cristo termina dizendo algo bem óbvio, mas de grandíssimo valor: nesse mundo arenoso, onde todos alicerçam suas casas na sequidão de si mesmos, apenas aqueles que olharem para o Criador e erguerem residência sobre a Sua rocha, sobreviverão ao caos vindouro, escaparão do juízo -versos 24-27-, pois, como disse João Batista: "já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá com fruto, corta-se e lança-se no fogo" - Lucas 3:7-17.
Pulando para o capítulo 10 de Mateus temos outro belíssimo e assustador de Cristo -assustador, pois nos atribui imensa responsabilidade-, tido momentos antes do Mestre enviar Seus discípulos para pregar na Palestina. Começo falando do versículo 16, que se aplica a nós, como discípulos do Criador: o mundo não aguenta o discurso de Cristo -João 6:60-, pois contém o que ele não quer ouvir, pois é acusador e incômodo, já que atribui o erro à postura mundana -o que, além de humilhante para o orgulhoso "senhor deste século", atiça os que não querem se submeter a Deus- e exige mudança de comportamento, por isso os cristãos verdadeiros sempre serão motivo de zombaria, calúnias e ataques de todos os tipos, sejam eles por meio de violência física, como nos países que perseguem a fé cristã, sejam eles por meio de violência verbal,  como acontece no nosso ocidente zombador. Jesus não evita dizer a verdade: "vocês serão odiados por causa minha!" -verso 22. Esse é o interessante do discurso do Filho: Ele sabe que seremos odiados por causa dEle, porque O odiaram primeiro, mas, mesmo assim, nos pede para que desafiemos verdadeiramente este mundo, sem fugir de suas garras mortais, sem nos ocultarmos, sem vivermos em secreto e é isso que diz o verso 27 que, por mais que alguns queiram interpretar doutras formas, está bem claro: devemos proclamar o nome de Cristo com grandíssima ousadia, nem que seja fazendo-o de cima do telhado de nossas casas! É, meu amigo, ser cristão carrega um considerável grau de loucura, não falo da insanidade de alguns "adoradores" que rodopiam, sapateiam, imitam animais ou berram verdadeiros mantras, vãs repetições, como se existissem palavras mágicas na fé cristã -Mateus 6:7-8-, falo da loucura de desafiar a sua própria natureza e a natureza decaída desse mundo inteiro, bradando em defesa da verdade!! Sim, isso é loucura, épica postura aos meus olhos, mas insanidade pura aos olhos dos incrédulos, que se contentam com as migalhas de cada dia, com uma vida medíocre e irrelevante. A questão é: quando bradamos o nome de Cristo com nossas palavras e postura, devemos temer a chuva de tomates daqueles que nos ridicularizam? Devemos temer as posteriores pedras? Jesus diz que não -versos 28-33:

"E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.
Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.
E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos.
Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus.
Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus." 


Parece que o cristão que não é ousado o suficiente para bradar o nome de Cristo em público tem pouca fé na proteção e ação de Deus, além de deixar clara a sua vergonha por seguí-Lo. É uma obrigação dos discípulos serem como seus mestres, logo, se Jesus desafiou descaradamente esse mundo devido à sua postura e através de suas palavras, nós também devemos fazê-lo, caso contrário, não faz sentido nos considerarmos seguidores dEle -o Filho não quer simpatizantes, quer imitadores! Lucas 6:40. Jesus segue seu exultante discurso, versos 34-37:

"Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada;
Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra;
E assim os inimigos do homem serão os seus familiares.
Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim." 


Agora, me responda, ficou perplexo? "Como Jesus veio trazer a guerra?" Mas fique tranquilo, isso Ele não veio trazer, até porque o que Cristo aqui fez em vida jamais envolveu violência e, tampouco, nos disse para sermos violentos, pelo contrário. A proposta do Filho é tão radical, tão transformadora, que, quando aceita, não pode trazer menos do que intrigas. Em minha cidade, Encantado, Rio Grande do Sul, há inúmeros exemplos disso: a família e sua tradição se levantam em ira e repúdio contra a "ovelha negra" que decide se entregar verdadeiramente à Cristo. De fato, a fé cristã tem tal potencial, pois vem como grande inimiga da tradição, do sincretismo, do paganismo, fazendo com que aquele que a aceita se transforme completamente -se a entrega deste for verdadeira-, indo da "água para o vinho", o que promove embates e atritos com a família e o antigo círculo de amizades, que já não se encaixam no seu novo padrão de vida. Jesus, definitivamente, foi um líder incrível, pois Ele não poupou detalhes e não censurou os desafios e problemas que Seus seguidores viriam a enfrentar - e um deles está no versículo 37: quem não ama O Filho mais do que todos os familiares, mais do que o cônjuge, mais do que sua prole, não é Seu seguidor!! O que se encaixa bem no Primeiro Grande Mandamento: "amarás o Senhor, teu Deus, acima de todas as coisas" e no Segundo Grande Mandamento: "amarás o teu próximo como a ti mesmo", pois se você ama a Cristo mais do que a sua própria vida e ama os próximos como ama a sua vida, então O ama mais do que tudo e todos -e, portanto, não é idólatra - Mateus 22:37-40. Lucas 9:57-62 não deixa dúvidas quanto ao tamanho da loucura que Cristo nos propõe, pois "ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus." Por que isso tudo? Porque "quem ama a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor a mim, achá-la-á" - verso 39. Eu reforço: ser cristão não é assinar um seguro de vida eterna, só pra não queimar no Inferno, não é apostar numa bolsa de valores, afim de lucrar, não é seguro de saúde e prosperidade e o fato de nos tornarmos "filhos do Rei" não indica, em momento algum, riquezas e comodismo, pois se nem o Príncipe, o Filho, tinha "onde reclinar a cabeça", o que queremos nós? Ser cristão é "tomar a própria cruz e seguir Jesus" -verso 38. É claro, viver por Cristo não significa tortura, mas vida, pois deixamos o Eterno ser tudo em nós, abrindo mão de nós mesmos e do nosso destino mortal -vide  Mateus 11:25-30.

Parte 2: exemplos bíblicos


A Bíblia nos traz, além de belíssimos sermões sobre entrega à Deus e rebelião para com o mundo, belíssimas histórias que nos exemplificam as palavras lidas, é isso que segue:

Noé: este ancião é um dos exemplos mais completos daquilo que falei acima, pois representa um pleno rebelde por causa, ou pela causa, de Deus. O mundo pré-diluviano havia se corrompido de tal maneira que O Criado não suportava, não conseguia mais relevar e deixar prosseguir a humanidade, chegando ao ponto de Deus ter se arrependido da criação do homem. A cultura geral desse mundo era a depravação, a devassidão, a idolatria pagã, a violência e isso estava tão disseminado e imperava de tal forma nessa humanidade, que somente uma família foi achada justa no mundo inteiro, a família de Noé. Para Noé ter se mantido o oposto do restante do mundo, certamente teve de decidir que Deus valia mais do que tudo na vida dele, entregando-se completamente ao Criador, servindo-O numa humanidade pagã e mantendo-se puro numa sociedade perversa. Noé foi um homem extremamente ousado, desafiou praticamente sozinho os poderes tenebrosos que dominavam o mundo inteiro, indo, com mais uma meia-dúzia de pessoas, na direção oposta daquela para onde iam centenas de milhares, ou até alguns milhões, de homens. Um remanescente assim, detendo apenas no seu lar o que restava da cultura própria de Deus, certamente vivia relativamente isolado do restante da sociedade, não participando da maioria das festas e eventos e não recebendo a simpatia de muitos, já que, sem dúvida, era tido como louco, pois só ele e sua família mantinham um padrão de vida típico de servos de Deus. O Criador honrou-o por isso e, mediante o iminente Dilúvio, o alertou para construir a Arca.
É com a Arca que a postura rebelde de Noé em relação à sua cultura tomou mais forma, pois dessa vez foi considerado, sem dúvida, o maior louco de todos -obedecer a Deus lhe trouxe essa imagem. Tente imaginar qual seria tua reação naquela sociedade ao ver um velho e seus filhos construindo um navio colossal em terra seca e sem nenhuma previsão de que aquilo um dia pudesse vir a ser útil. De fato, para Noé deve ter sido um grande desafio obedecer ao pedido do Pai, pois isso custava-lhe, ainda mais, a integridade de seu nome e imagem. Mas ele fez sem atentar para o que pensavam os descrentes e foi isso que lhe salvou da inundação. Hoje vivemos o limiar doutra catástrofe, do Apocalipse e somente sendo como Noé, rebelando-se e, quem sabe, passando vergonha mediante o mundo, seremos salvos quando vier o Cristo. Gênesis 6:5-22.
Elias: é considerado o maior dos profetas da história de Israel, pelo menos para os judeus, que não reconhecem Jesus. Os dias em que Elias caminhou por Israel foram alguns dos mais negros da história desse povo, pois no trono da nação estava o fraco rei Acabe, que se submetia ao domínio de sua rainha, Jezabel, filha do rei da Fenícia que, como estrangeira, conseguira instituir as divindades cananéias como as centrais no país e Baal como o seu grande deus. De personalidade forte, Jezabel perseguiu com grande ímpeto todos os resistentes seguidores de Deus, todos os seus profetas e servos, afim de consolidar o paganismo cananeu na nação e evitar qualquer levante rebelde contra seu domínio. Elias foi o maior oponente de Jezabel, desafiando praticamente sozinho todo o seu poder e todos os seus ídolos, indo, sem atentar para a segurança de sua própria vida, contra a nova cultura que estava sendo inserida na sua terra. O Grande Profeta, por causa de sua total entrega à Deus, teve de fugir algumas vezes da perseguição que o rei de Israel financiava, afim de dar cabo da vida do impertinente profeta. Numa dessas vezes, enquanto escondido, Elias demonstrou o quanto sentia-se sozinho nessa empreitada, vide 1 Reis 19:10. Antes disso Elias tinha trunfado sozinho, pelo poder de Deus, contra 450 profetas de Baal, levando-os todos à morte -1 Reis 18:20-40 -, por isso o profeta teve que fugir. A história de Elias segue, mas o fato é que Deus o honrou por ter resistindo bravamente na contra-cultura e levou-o, arrebatando-o ao Céu numa carruagem de fogo - 2 Reis 2:11.
Da mesma forma um dia voltará nosso Mestre para nos levar arrebatados: seremos encontrados parecidos com Ele e aptos a subir, ou parecidos com esse mundo e merecedores do mesmo juízo que este padecerá?!
Daniel, Hananias, Misael e Azarias: na ordem cronológica dos fatos, chegamos ao período do Exílio de Judá na Babilônia. Quatro nomes, num primeiro momento, chamaram mais a atenção nessa história: Daniel, Hananias, Misael e Azarias, tais, amigos, pertencentes à classe pensante, à nobreza de Jerusalém, foram levados cativos para servir à Nabucodonosor. Longe de sua casa, esses quatro judeus tiveram de ser firmes e ousados para manter firme sua entrega à Deus, já que a nova cultura em que estavam inseridos não conhecia e nem respeitava o Criador. O primeiro ato de rebeldia em relação à Babilônia da parte desses quatro se deu quando negaram-se a comer das carnes e especiarias do rei, já que concebiam que esse mesmo alimento era oferecido aos ídolos babilônicos -Daniel 1:1-21 (12-15)- e Deus, honrando-os por isso, os fez mais fortes e nutridos com os legumes que comeram do que com os pratos gordos da mesa real.  Outro impressionante ato de rebeldia destes, dessa vez sem a participação de Daniel, se deu nos dias em que Nabucodonosor mandou erguer uma imensa estátua em sua própria homenagem e louvor e obrigou a todos a devoção perante ela, fazendo-os ajoelharem-se diante de sua imagem, afim de evitar o fogo da fornalha. Corajosamente, como suicidas, apenas Hananias, Misael e Azarias ficaram em pé no meio da multidão, já que não iriam, de forma alguma, adorar outro deus, senão o Senhor de Israel. Isso os levou à tal fornalha, que estava, pelo ódio do rei, o mais ardente possível, à ponto de matar aqueles que lançaram os três no meio das chamas, porém a fé e entrega do trio fez com que Deus enviasse um anjo para guardar-lhes -Daniel 3:1-30. O terceiro evento marcante aconteceu, bem mais tarde, com Daniel, já nos dias em que a Pérsia dominava grande parte do mundo, inclusive a Babilônia: Dário proibiu a todos de orarem a quaisquer deuses, mas somente à ele, mas Daniel, sem atentar para isso, continuou orando à Deus, o que lhe custou um longo tempo em meio à leões famintos que, pelo poder do Criador, não dilaceraram o profeta -Daniel 6.
Da mesma forma que Daniel, Hananias, Misael e Azarias, nós, cristãos, estamos longe da nossa casa, que é o Céu, vivendo em meio a uma cultura que não comporta o nosso padrão de vida, por isso vivemos em contantes atrito em todos os âmbitos de nosso ser: em nós mesmos, contra nossa natureza e vontade, e com o mundo que nos certa, que quer nos fazer curvar mediante ídolos -dinheiro, ego, sexo- e alimentar-nos com o seu próprio e destrutivo alimento. Em meio a uma humanidade inteira que se prostra diante do "senhor deste século", nós ficamos em pé, desafiando corajosa e temerariamente os poderes seculares. É assim que devemos ficar até o dia em que nosso Senhor vier nos buscar para levar-nos novamente ao Lar.
Vou encerrando por aqui. Creio que a postagem já está bem completa, apesar de estar sendo tentado a ampliá-la com ainda outras palavras de Cristo. No mais, que fiquem os exemplos, que fiquem as palavras do Verbo. Algo que me chamou a atenção ao ler os 4 Evangelhos nessa última semana e ao escrever essa postagem, está na imagem fraca e vergonhosa dos cristãos de nossos dias mediante a Bíblia. Parece-me que a Palavra de Deus jaz esquecida por quase todos os ditos "Seus filhos", já que seguem tentando se enquadrar ao padrão do mundo, à cultura, ao pecado, ao comodismo, sendo que a Bíblia nos deixa extremamente claro que essa não é a vontade de Deus! Devemos voltar para nossas origens, reaver a verdade crua contida nas Escrituras, reencontrar nossa identidade, nossa razão de ser e fazer. Somos rebeldes, somos inimigos de nossa natureza humana, somos inimigos das trevas que dominam esse mundo e, assim, somente dessa forma, nos tornamos amigos de Deus. Efésios 6:10-20 não parece apontar comodismo ou amizade com o "mundo", caso contrário não seria necessário vestirmos uma armadura espiritual para vivermos nele e, da mesma forma, nenhum guerreiro veste uma peça da armadura a cada semana  para, no final de meio ano, estar totalmente trajado, ele veste-se rapidamente, pois está prestes a entrar o campo de batalha para lutar, guerrear pelo seu senhor e pelo que lhe pertence. Sim, como rebeldes, como guerreiros de Deus, devemos ser ousados, bravos, não há tempo para preocupações, não há tempo para ponderar, não há tempo!! O Pai quer cavaleiros que, sem pensar demais, vistam a armadura, tomem a Espada, montem seu cavalo e partam para a batalha imediatamente. Assim devemos ser nesse mundo, caso contrário não temos fé o bastante no Criador... e como temos pouca fé! Quem de nós faria o que Noé fez? Quem de nós faria o que Elias fez? Quem de nós faria o que Daniel, Hananias, Mizael e Azarias fizeram?! QUEM?! Quase ninguém, isso por falta de fé e confiança no poder de Deus e é por isso que, sempre duvidando, conseguimos pouco, fazemos pouco... poderíamos, creio que literalmente, remover árvores do solo pela fé, mas nunca o faremos, pois sempre duvidaremos disso. Bom, guardarei isso para a próxima postagem. Que fique a mensagem em questão: somos rebeldes! Formamos, como cristãos, a resistência!!
Natanael Castoldi

Leia também:
-Quem somos?
-Seriedade
-Salvos pela dor
-Simplicidade
-A Ofensa
-"Ímpio justo"?
-Um Só Caminho
-Passado perdido
-Nas areias do Coliseu
-Bravura

Um comentário:

  1. Na parábola do semeador, Jesus mostra alguns tipos diferentes de coração e a reação desses ao receber a semente da Palavra.
    Dentre os vários tipos, Jesus cita um exemplo de coração que dá muito fruto.
    Este blog é um lindo fruto que nos faz pensar no verdadeiro evangelho de cristo. Parabéns !!!

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