De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

sábado, 21 de agosto de 2010

A Batalha do Abismo

A maioria dos fãs de Senhor dos Anéis, certamente, vê na Batalha dos Campos de Pellenor a representação mais épica e profunda do que é a Guerra do Anel, mas eu, opondo-se aos demais, vejo numa batalha de menores proporções tal representação máxima da coragem e ousadia: a Batalha do Abismo.
Após ter se libertado do envenenamento mental de Saruman, através de Gríma, o Rei Théoden, de Rohan, se vê diante de uma situação caótica: sua invalidez durante os tempos em que esteve enfeitiçado possibilitou a marcha de orcs, uruk-hais e homens selvagens por suas terras, que pilharam e massacraram o povo.
Sem resistência, o Mal de Isengard havia penetrado, até mesmo, dentro da corte. Apenas uma última investida bastaria para conquistar o fragilizado reino dos cavaleiros. Não havia saída, a melhor chance de Théoden era resistir ao derradeiro ataque de Saruman, da forma que fosse possível fazê-lo.
Diante dessa terrível encruzilhada, O Rei de Rohan optou por buscar abrigo para seu povo e seus guerreiros no Absimo de Helm, a velha e infalível fortaleza dos Homens do Oeste. O único grande problema desse castelo era a sua localização: como se encontrava no fundo de uma garganta, incrustado na montanha, só havia um caminho de chegada e saída e tal seria totalmente bloqueado pelos exércitos negros de Isengard. Théoden abriu mão de qualquer chance de fuga para resistir até o fim ao brutal inimigo. A princípio seriam cerca de trezentos defensores contra mais de dez mil atacantes. O apoio élfico não mudou muito essa disparidade.
--Isso me lembra de uma história que ouvi nalgum lugar esses tempos: um conquistador fora incumbido de tomar uma ilha do Novo Mundo, mas o número de selvagens era em demasia maior do que o dos seus soldados. Para evitar que seus subordinados tentassem fugir ou olhassem para trás, tal líder mandou que fossem queimados todos os navios de sua esquadra. Sem ter nem ao menos como almejar o regresso, seus homens tiveram de lutar com tudo o que tinham e eram, dessa forma venceram.-- Tornar-se cristão DEVE ser uma decisão sem volta, eterna!
Um dos fatos mais interessantes é que Gandalf, O Branco, que retirou-se dias antes da batalha para buscar reforços, marcou o dia de seu retorno, que se daria numa aurora iluminada. É isso que define um aspecto interessante dessa batalha descomunal: os atacados, além da bravura, teriam de ter paciência e fé, pois seriam salvos de uma forma ou outra na "aurora do quinto dia" se permanecessem vivos. Foi isso que aconteceu. Quanto apenas uma dezena de sobreviventes se via cercada das tropas negras, o Cavaleiro Branco surgiu no alto da colina e desceu liderando uma onde de centenas de cavaleiros entusiasmados...
... Nem as máquinas de assédio, nem a fúria brutal da massiva tropa inimiga bastaram, até o final nenhum maligno perdurou e os bons que se mantiveram encontraram a absoluta honra na vitória definitiva por sobre Saruman, O Traidor.

De uma certa forma essa batalha define a vida cristã. Somos poucos os que se levantam contra as grandes forças desse mundo tenebroso e marchamos para o Castelo Forte, nosso Deus, que foi a fortaleza infalível de nossos ancestrais. Porém, assim como era o caminho para Helm, a marcha em direção ao Castelo Forte (Salmos 46-1) só pode ser feita se seguido um caminho estreito e rochoso, por entre montanhas, totalmente adverso às vastas estepes que batem a sua porta. Ali, na fortaleza que se isola do mundo jazido, o andarilho transforma-se em guerreiro, abandona o velho e errante viajante que fora. Junto aos blocos sólidos das muralhas se fortalece e cresce. Sua postura, mediante a sombra do cataclismo, chama a atenção de outros desprotegidos "camponeses", que também vão buscar abrigo na Fortaleza Eterna.
É quando o andarilho torna-se guerreiro poderoso e ameaçador que o Maligno mais quer engolí-lo e despojar do prazer de destruir um forte sentinela. Aqueles que já estãos nas garras dO Traidor são irrelevantes, o que ele almeja, de fato, é arrasar com os insurretos, aqueles que ainda impedem o absoluto caos.
Assim como em Helm, a única forma de resistir até O Dia é sendo o genuíno guerreiro. Bloqueando os portões, reforçando os muros, afiando as espadas, polindo a armadura, endireitando as flechas, conhecendo a fortaleza e tornando-se parte dela, ao lado dos companheiros de armas. Os rohirrim jamais teriam vencido se tivessem optado por lutar num lugar repleto de saídas -a maioria desertaria-, jamais teriam vencido se tivessem batalhado sem esperança, sem fé, sem coragem, sem serem tudo o que podiam ser, se não tivessem deixado aflorar o grande guerreiro!
A única forma de o cristão devidamente resistir à absurda pressão do Mundo, ao mar de piche que dá contra "os muros", a única forma de o cristão suportar a luta contra o Maligno e sua própria natureza humana, é almejando ser um genuíno e intenso guerreiro! Como pode lutar se temer o maior número do oponente? Como pode lutar se cobiça a suposta vantagem do inimigo? Como pode lutar na Fortaleza Estreita se inveja os oponentes que perambulam pelo vasto campo? E como há cristãos que atendem ao chamado de guerra, mas cedem aos poderes mundanos por não terem devidamente deixado para trás o andarilho em troca do guerreiro.
Não existem mercenários nas tropas do Senhor dos Exércitos! O cristão que luta em troca da "bênção" e prosperidade, não é um verdadeiro patriota do Reino! O verdadeiro guerreiro é aquele que tem um propósito, um objetivo genuíno e sóbrio para lutar. É aquele que, acima de tudo, busca honrar o Senhor e, ao resistir até o final, almeja a Vida Eterna e ver de perto toda a glória de Deus!
A Bíblia deixa muito claro que só aquele que for intenso e pleno no Pai é seu genuíno guerreiro. Não há espaço para o guerreiro frio nem para o morno, pois com esses não há chance alguma de vitória, já que não podem suportar toda a pressão do Inimigo. Apenas aquele que fervilha para a guerra é digno de se guarnecer no Castelo Forte!

Apocalipse 3:15-20

Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente!

Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.

Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;

Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas.

Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te.

Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.


Da mesma forma que dividir uma verdade ao meio é criar duas mentiras, o cristão que divide sua vida entre Deus e "não-Deus", está trilhando, como um todo, de forma vã. Não sei de que parte da Bíblia os cristãos de hoje tiram uma idéia cômoda e fácil de cristianismo. Uma vida de luta contra o mundo, contra a natureza humana e contra Satanás nunca, nunca poderá ser fácil!! Se os cristãos de hoje vivem o inverso do que o cristianismo prega, então não podem... nem ao menos serem considerados Filhos de Deus! Genuínos cristãos, de fato, não são. Se lutam por um dia e, fugindo, se escondem por oito, então simplesmente lutam em vão e completamente fora do Castelo. Se, por ventura, lutaram de fato nos domínios do Reino e perderam seu rumo, é porque deixaram-se sugar pelo inimigo, após abandonarem a paciência e a fé.
Mateus 7:13-14 alerta para a dificuldade terrena de caminhar conforme Deus ordena. Num mundo distante do Pai, aquele que sintetiza o que é Ordem, há apenas o caos. Aqueles que tentam se portar segundo o que Deus orienta, então, terão de lutar contra um inimigo brutal, pois vivem o oposto de toda uma realidade. Buscar a Ordem em meio ao Caos é uma tarefa árdua! Mas, no final, só pode resultar em Vida, já que vida só se sustenta na Ordem! --Ordem Eterna = Vida Eterna. Como Deus só permitirá que penetre ordem no Reino dos Céus, só os que deixaram-se ordenar por Ele poderão entrar em tal paraíso.--

Estejamos cientes disso. Antes não ser nada do que ser motivo para repulsa. Antes não ser nada do que ser um daqueles que incita a ira de Deus!! Tenhamos temor!!
-Algo que me incentiva é pensar no Caminho Estreito como uma verdadeira Fortaleza Estreita, já citada. O Mundo morrerá, mas eu, protegido, JAMAIS!-

Natanael Castoldi

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Um comentário:

  1. Nossa,eu nunca tinha pensado na história de O Senhor dos Anéis de forma a relacionar com a vida cristã. Essa é minha história preferida. Achei um ótimo artigo,com boas observações. A caminhada cristã é realmente como a saga do anel: estar no lar do inimigo e derrotá-lo lá mesmo. O Senhor seja louvado!

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