De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

sábado, 9 de outubro de 2010

Não se pode ocultar

No embalo da postagem anterior, falarei sobre oração, como a que fiz agora a pouco. Às vezes eu padeço de um problema que é muitíssimo comum no meio cristão: a falta de transparência na oração, a falta de espontaneidade ao falar com Aquele que TUDO SABE.
Existem alguns tipos de orações frias. Aquela em que o cristão, antes, prepara todas as palavras, escolhendo as mais adequadas e belas para produzir a "melhor" oração do culto; aquela em que o cristão pede até autorização ao Pai para chegar diante dEle e faz aquela oração padronizada, genérica e absolutamente superficial, nada mais do que palavras decoradas; aquela em que o cristão, mais do que afundado em pecados, cria uma imagem espiritual que não existe; há a oração em que Deus é tido como um "gênio da lâmpada", obrigado a conceder os pedidos, por mais extravagantes que sejam; também aquela em que, mesmo sozinho, o cristão tenta ocultar seus erros, tem vergonha de dizê-los ou não quer que sejam perdoados "ainda" para que os cometa mais algumas vezes; ainda há a oração em que algo se oculta por medo, o cristão não tem coragem de falar o que sente em relação à Deus, de expor algum ceticismo, algum desagrado, alguma decepção... temendo padecer do julgamento divino, como se Deus já não soubesse tudo o que se passa no coração de tal cristão e como se o Pai fosse se irar com as verdades explanadas com transparência e submissão. Jonas tentou ocultar-se de Deus, não conseguiu.
Deus não é assim, tão sentimental, nem um ditador, adepto da censura e que não suporta ouvir algumas coisas que seus filhos querem dizer, Ele não lançará um raio na cabeça daquele que se curva e chega diante de Seu trono!
Como vemos Deus distante! De forma fria! De nada adiantam palavras belas com falta de transparência e sinceridade. É melhor nem orar do que tornar sua oração uma MENTIRA, pura hipocrisia! Melhor nem orar se não houver humildade. Se não houver comunhão e fé suficientes para que TUDO seja dito durante mais do que o tempo necessário! Deus honra muito mais o coração sincero, a oração simples, mas profunda, do que a repleta de aparência e vazia de conteúdo. Às vezes esquecemos que não seguimos deuses gregos ou egípcios, que se importam mais com a aparência, com o reluzente ouro e colunas ornamentadas, do que real submissão interior. Nosso deus valoriza o caráter! Nosso Deus valoriza quando O COLOCAMOS no lugar em que Ele deve estar, quando O vemos de forma mais clara, racional e PESSOAL! Quando Ele os é mais chegado do que os pais e os irmãos. Não podemos comprá-Lo ou suborná-Lo para ser conosco - e como há cristãos céticos e estúpidos o suficiente para tentar corromper Deus!
Temos exemplos bem interessantes na Palavra em relação à oração, o quanto devemos ser completamente sinceros e cristalinos quando nos prostramos diante do Pai. Nada deve ficar oculto! Jó, Elias, Habacuque, Sansão, Davi, Jesus, alguns dos melhores exemplos. Eles todos foram totalmente sinceros em suas orações e os resultados disso são evidentes.

Jó: Satanás chegou perante Deus e questionou-o sobre o quão fiel à Ele era Jó. Deus permitiu que Satanás lhe tirasse tudo o que possuía com a certeza de que ele não O abandonaria (Jó 2:1-7). Ele perdeu toda a sua vasta riqueza, membros da família e tudo o que possuía de melhor (Jó 1:13-19), inclusive a saúde (Jó 2:8). Jó não deixou-se levar pelo conselho de sua mulher perante tal situação calamitosa (2:9-10), mas, porém, não permaneceu passivo diante de Deus quando todo esse mal lhe sobreveio e, não abandonando-O, O questionou.
"Porque as flechas do Todo-Poderoso estão em mim, cujo ardente veneno suga o meu espírito; os terrores de Deus se armam contra mim." (6:4). "Se pequei, que te farei, ó Guarda dos homens? Por que fizeste de mim um alvo para ti, para que a mim mesmo me seja pesado?"(7:20). Mesmo tendo, erroneamente, questionado a justiça de Deus, Jó não pecou em sua sinceridade (1:22) e, ao final, o que lhe foi retirado retornou em dobro.
Elias: esse grande profeta, ao padecer forte perseguição em tempos em que Baal tornou-se o deus de sua terra -sob o governo de Jezabel e Acabe-, escondeu-se no Monte Horebe e, vendo o grande abandono dos judeus em relação à aliança com Deus e a caçada voraz aos profetas, Elias estava confuso e expôs tal desamparo ao Senhor (1Reis 19:10;14). Por fim, após ter sido tremendamente usado por Deus, Elias é arrebatado aos céus numa carruagem de fogo.
Habacuque: vendo o crescente mal babilônico à leste, a perda da fé dos judeus, após a divisão do estado de Israel, sob a evidente ameaça de destruição completa de tudo o que conhecia, Habacuque chegou em completa sinceridade perante Deus: "Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: violência! e não me salvarás?" (Habacuque 1:2). Foi nesse momento, com esse ávido clamor, que Deus olhou para Habacuque e, após lhe consolar e mostrar-lhe Seus planos, o fez crescer em fé. No final, após a dominação babilônica e o exílio dos judeus, o povo de Israel se restabeleceu com mais fé e força em em Deus.
Sansão: "Pela mão do teu servo tu deste esta grande salvação; morrerei eu pois agora de sede e cairei nas mãos destes incircuncisos?" Esse é o clamor de Sansão no versículo 18 do capítulo 15 de Juízes, a resposta de Deus é imediata e maravilhosa, veja no versículo seguinte. Sansão foi um grande juiz de Israel num período de caos na nação. Ele e mais uns poucos tinham de segurar, sozinhos, todo o estado em decadência até se levantarem os reis. Sansão fora um guerreiro excepcional e passou por momentos dificílimos, cujo ápice fora, após ceder à tentação e ser capturado pelos inimigos de Israel, a derrubada do Templo de Dagom (16:28-31).
Davi: os salmos de Davi são reflexo de sua comunhão com Deus, suas orações escritas, fruto de sua sinceridade para com o Pai. Salmos 38 é exemplo disso. A sinceridade de Davi foi um dos aspectos que lhe fez ser considerado o "homem segundo o coração de Deus".
Jesus: o Filho como homem completo necessitava achegar-se ao Pai. Nenhum exemplo bíblico há melhor do que Jesus, por isso fico seguro ao usar seu exemplo. Após uma vida completamente devota ao Senhor, combatendo Satanás, a incredulidade, o pecado, os romanos e fariseus, quebrando com o passado e mudando a história, Jesus finalmente se viu no auge de sua missão: a cruz, quando pagou os pecados. A sua dor foi tanta, que não pôde ocultá-la: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mateus 27:46). "No terceiro dia" Jesus ressuscitou, hoje está na Glória do Pai para retornar em pouco tempo. A obra que ele consolidou na cruz existe até hoje e é por ela que eu escrevo agora.
São exemplos fortíssimos. Toco-me verdadeiramente ao escrever sobre isso, sinto-me até envergonhado perante o tamanho da fé desses heróis bíblicos. O mínimo que devo fazer, sendo assim, é levar o exemplo deles em conta para conversar com o Pai. Nada deve ficar oculto, Deus vê o coração e valoriza aquele que crê nEle à ponto de questionar-lhe se algum algo está incomodando. Deus valoriza cristãos sérios e comprometidos, que não interpretem personagens falsas na oração, que não duvidem da onisciência dEle, que O reconheçam. Tenho certeza que o Pai trabalha muito mais com esses devido à abertura para a disciplina, correção, conhecimento, esclarecimento, fortalecimento. O Pai sabe que Sua Palavra estará segura nas mãos desse tipo de servo. O Eu Sou não existirá em honrar aqueles que se submetem completamente à Ele!
Vale ressaltar: os maiores heróis da fé um dia ou outro questionaram o Pai. Questioná-lo não indica ceticismo ou pouca fé, pelo contrário! Eu só questiono meu pai (nesse caso, o humano), pois sei que ele existe e está diante de mim. Eu só questiono meu mestre, pois tenho certeza que ele está ali, disposto a me ensinar! Não, não é coincidência que os grandes homens de Deus são esses, os que tiveram de questioná-Lo algum dia, devido ao tamanho de suas batalhas. Se eu quero ser assim, grande como eles, devo ter Deus como alguém próximo e REAL! A frieza na oração indica, no mínimo, ceticismo em relação ao Pai, pois quem crê realmente nEle não ousa ser frio nesse momento!
Não se esqueça que Deus nos deu livre-arbítrio e só pode trabalhar naquilo que permitimos, que expomos com nossa própria voz!

Natanael Castoldi

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