O solitário andarilho

Na Idade Média o andarilho, que não tinha lar, que não tinha paradeiro, não era dos mais bem vistos, além de ser alvo preferencial de toda a espécie de assaltante. As estradas européias, que cruzavam o ermo de bosques e montanhas eram, de dia e, principalmente, à noite, perigosíssimas. O andarilho se via vulnerável aos ladrões que, jurados de morte, habitavam as florestas e sobreviviam dos roubos, já que não podiam possuir terra alguma...

...e, além deles, expostos aos animais selvagens, como ursos e lobos.

Um viajante solitário poderia, inclusive, ser alvo de algum camponês faminto ou um guarda de aldeia ou cidade que, abusando de sua autoridade, poderia roubar os pertences do estrangeiro sem resistência nem castigo. A vida de um andarilho era ainda mais dura nos constantes tempos de guerra, nunca se sabia quando tropas do oponente tomariam a estrada, quando seriam emboscados e o que aconteceria se isso acontecesse...

... Largado à própria sorte naquele mundo hostil, o andarilho não tinha muitos em quem confiar, até porque na Idade Média nada era muito confiável, nem mesmo a Igreja.

É assim, como um andarilho, que vejo o incrédulo. Primeiro, é andarilho, pois não possui nenhuma base de fé sólida, apegando-se a toda e qualquer novidade filosófica de vida, aderindo à miscelânea de novas religiões, submetendo-se um pouco ao espiritismo, um pouco ao budismo, um pouco à Nova Era, um pouco ao hinduísmo... E perambula de um lado pro outro buscando, sem sucesso, sem um consistente alimento espiritual. É andarilho também pelo fato de não ter nada seguro em que se apegar, não ter, verdadeiramente, nenhum aliado verdadeiro.

São quatro os possíveis inimigos:

Satanás:

Gênesis 3; Lucas 4:1-13; Apocalipse 12:9; Mateus 12:43-45

Ao caminhar em solidão espiritual pelas noites escuras desse mundo tenebroso, é constantemente assaltado e duramente agredido pelos demônios à espreita. Satanás será aquele camponês que irá oferecer um jantar ao viajante para, quando abastado, passar-lhe a faca na garganta e roubar seus pertences, o que tem de melhor. O incrédulo se vê completamente exposto aos Decaídos, jogado de um lado pro outro, sendo levado de uma mentira à outra, constantemente perturbado e desprovido de paz.

Todos tiram-lhe algo que valoriza, rasgam suas vestimentas até que se torne um trapo que mais nada esconde, deixam-no cada vez mais nú para humilhar-lo. O agridem e o enfraquecem, negam-lhe qualquer suprimento para, cada vez mais, conseguirem surrá-lo sem resistência e, na beira da morte, o usarem em troca de promessas nunca cumpridas. Pelas mãos desses, o incréculo morrerá.

O mundo:

1João 2:15; Isaísas 24:20; Efésios 2:2

Mediante um mundo darwinista, onde o que vale é o "eu", todos, no fundo, querem tirar proveito ou diminuir o próximo. Todo andarilho, sem ter o que perder, colocará em jogo suas artimanhas, suas trapaças, para tentar tirar proveito doutro andarilho, se tiver a oportunidade - e também estará passível de sofrer algum ataque.

O mundo é traiçõeiro. O mundo não é confiável. O mundo seduz e depois aprisiona, não passa de um devorador. Sendo material na questão física, está fadado à mortalidade, à degeneração e fará o mesmo com aqueles que vivem por ele. O mundo, espiritualmente, também se vê enegrecido, repleto de trevas e impureza e, por isso, destinado ao cataclismo. O mesmo acontecerá com aqueles aprisionam-se nele: uma morte eterna.

A natureza humana:

Gênesis 3:6; Gênesis 4:8; Jeremias 17:9; Mateus 7:13-14; Efésios 2:3

O maior inimigo do homem, desde o princípio, é a sua própria natureza. Foi o homem que fitou e rodeou a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, foi o homem que aceitou o argumento da Serpente e, por vontade própria, comeu do Fruto Proibido. É o homem que escolhe por pecar ou não, é por meio do homem que o pecado se desenvolve. É o homem, exclusivamente ele, que opta pelo prosseguir da perdição e morte ou pela sua salvação eterna.

A natureza humana é astuciosa. Abrigamos um monstro terrível dentro de nós. Se o alimentamos, ele cresce e toma o controle. Seu apetite pelo pecado é insaciável e não tem limites de intensidade. Esse monstro consome o homem de dentro pra fora, até destruir completamente sua humanidade e tornar-lo uma besta indomável que, se não laçada, rumará a morte por meio do suicídio. Sim, a natureza humana é pecaminosa e o pecado sempre leva à morte. Pobre andarilho.

Deus:

Hebreus 10:31; Hebreus 9:27-28

Deus é a perfeita face do amor e está disposto a receber o andarilho que pretende deixar de nomadismo e se fixar nEle, mas também pode ser o que há de mais cruel nesse mundo para com seus inimigos, os rebeldes. Nem todo o incrédulo é inimigo de Deus, pois boa parte não conhece muito à Seu respeito. O incrédulo só se torna, de fato, inimigo de Deus quando zomba dEle, quando ri-se e O desmerece, torna-se Seu inimigo quando, conhecendo a verdade sobre o pecado, o comete sem culpa, voluntariamente - também é assim com o cristão hipócrita. Deus é terrível com os que o desrespeitam. NÃO HÁ NADA PIOR DO QUE CAIR NAS MÃOS DO DEUS VIVO. Sorte Deus perdoar até mesmo seus inimigos, quando se humilham (Efésios 2:4-8; João 3:16).

No final, o veredito em relação ao futuro eterno do incrédulo, do andarilho, será dado conforme o julgamento de Deus, no dia do Juízo. Aí sim, todo incrédulo, inimigo ou não, verá que de nada valeu a velha vida de insubmissão e suposta liberdade. É tolice, havendo um SENHOR DE TUDO, não se prostrar à Ele e aceitar Suas regras. É TOLICE!

Ser cristão, analisando todas as batalhas e toda a dificuldade que temos de enfrentar, parece mais incômodo e difícil do que ser incrédulo, desapegado de regras e, supostamente, senhorio. Porém isso não passa da mais escancarada ilusão. Existe muito menos liberdade para o incrédulo, pessionado pelo peso do mundo, do Inimigo e dele mesmo. Todos seus senhores querem tirar-lhe um pedaço... e ele se vê vulnerável como um cervo cercado de lobos sedentos.

... No final, de todas as formas, se continuar insubmisso ao Senhor do Universo, só pode encontrar a morte eterna.

Do outro lado está o cristão, servo de um único senhor, Deus, tendo sua natureza humana imobilizada, vivendo como um estrangeiro nesse mundo decaído e protegido contra toda e qualquer investida do Maligno. No final, sob todas as circunstâncias, se o cristão manter-se, só poderá encontrar a vida, a Vida Eterna!!

Na Idade Média quem habitava as proximidades de um forte castelo tinha mais suprimento e proteção, tinha muito mais chances de sobreviver do que o andarilho errante! Aqueles que se submetiam verdadeiramente a algo, iam mais longe do que os insubmissos. Ainda é assim. O ordem é a essência da vida. Deus é a PERFEITA ORDEM!

Natanael Castoldi

Leia também:

-Retorno