De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

sábado, 9 de abril de 2011

Pequeno detalhe

-Na montanha-
Pelo nome você já deve ter notado o quanto essa postagem difere das demais do blog. Nele, em si, não há profundidade alguma. Também há de prever que toda a postagem destoará do costumeiro, o que, de certa forma é bom. Não, não haverá profundidade ou complexidade na escrita em si, a idéia, na simplicidade, ecoará mais alto do que a estética, espero.
O fato é que estou sempre, até mesmo involuntariamente, prestando atenção nos acontecimentos próximos, vigiando as pessoas e os fatos, tentando absorver o que posso, pensando além do que vejo e ouço. Esse é, sem dúvida, um bom exercício... mas hoje foi um dos raros dias em que, pensando além, consegui encontrar, de fato, algo sólido e íntegro paras a minha vida - é nisso que eu aposto. Bom, trata-se do simples fato de ter cortado meu dedo... não, não decepei-o -para a tristeza de alguns-, apenas cortei-o como continuação da rodela de salame, quando preparava, ansioso e apressado, meu "sanduíche de pausa do filme". O corte, de fato, foi profundo, mas o que mais doeu fora a minha cabeça, até que observei-o e me distraí: fazia tempo que algo assim não me acontecia, estava precisando disso, curiosamente estava. Depois de colocado o devido curativo, continuei refletindo - sim, estranhamente refletindo sobre isso.
A primeira pergunta que me fiz foi: "valeu a pena cortar o dedo, mas ter um sanduíche com salame e queijo derretido?" Como eu estava com fome, esse foi um preço que, considero, valeu a pena pagar - assim, também, valorizou o sanduíche, não? É só um corte, o sanduíche é muito mais do que esse corte.
Continuei pensando e, confesso, minha mente alada fez-me viajar um pouco: "eu gostaria de conhecer o futuro para ter deixado de fazer o sanduíche e ter evitado o corte? Se eu tivesse esse dom, eu o usaria para tal?" Prontamente, para mim mesmo, respondi NÃO. Não, prefiro não conceber o futuro, afim de não prever os problemas e, como conseqüência, (não) evitar fazer aquilo que os desencadearia que, como um sanduíche, poderiam ser coisas interessantes - e os problemas, como o dedo cortado, ótimas lições. Mas, como somos todos frescos e ouvimos mais nosso corpo do que nossa mente, se soubesse acabaria fugindo daquilo que é bom, para escapar do problema e, conseqüentemente, do aprendizado, apenas para não sentir dor. Nesse momento me deu "uma luz", por assim dizer, e logo pensei em Deus e no pecado - relação que, de fato, me era inquietante.
É claro que não tenho muita autoridade para pensar coisas tão complexas, com meu fraco acervo de leituras, meu segundo mês de teologia e meus 18 anos (se bem que temos mestres em teologia com seus cinqüenta anos defendendo insanidades, como a "prosperidade") e, também, é óbvio que não é necessário procurar explicações como essas, bastando conceber que Deus existe, mas, como não consigo me acomodar, o fiz.
Certo, não posso tentar colocar Deus numa caixa de meu tamanho e ousar compreendê-lo no meu âmbito humano. Mas pergunto, esperando não estar indo longe demais: por que Deus não pensaria da mesma forma que refleti acima, quando criou? Ora, Deus tem ciência do futuro, creio, mas onde estaria a graça de saber do "corte" antes de fazer o "sanduíche"? Onde estaria a graça de criar um Universo inteiro para o homem, sabendo que O trairia? Onde estaria a graça de firmar um relacionamento com o homem, sabendo da Queda e de todos os demais passos?! Deus, penso eu, queria fazer seu "sanduíche" e privou-se de conceber o andamento do processo, afim de ter mais graça para Ele e para o homem. Sim, Deus se diverte, ou haveria explicação para ter criado um dragão marinho só para vê-lo nadar e fazer acrobacias no mar? Salmos 104:26.
O pecado, para Deus, é como um pequeno corte no dedo -não leve para o lado de que "Deus está machucado". Assim como eu arrisquei-me usando uma faca de serra para cortar o recheio de meu lanche, Deus arriscou-se, sim, ao criar seres com personalidades e liberdade como recheio da Criação. E a conseqüência disso foi o "corte". E, convenhamos, mediante o "sanduíche", esse "corte" valeu a pena! Sem corte, não haveria sanduíche, oras - ou haveria um sanduíche sem recheio... e sem graça alguma. O que é um pequeno corte, mediante a obra inteira em que se pode deleitar? O que é? Não é nada.
E penso além: o que, além de alguns dias de tratamento, um pequeno corte provoca? Alguns curativos e um pouco de pomada e tudo volta, 100%, ao lugar certo. A cicatrização faz desaparecer todo o sinal de que algum dia existira. Mediante isso, torna-se ainda mais viável a troca do corte pelo sanduíche... mas podemos ser um pouco mais nobres: do corte pela escultura em madeira ou outra coisa durável. O que é para Deus o pecado, senão alguns "dias" de tratamento? A vitória sobre ele é completamente certa, não passa de uma questão de tempo e cuidado. O que é o "corte", em relação ao fruto do trabalho em todo o resto da Criação? Não é nada, senão, como já disse, algum tempo de tratamento, para, então, tudo se regenerar perfeitamente.
E conceba mais: eu, com meu dedo cortado, deixo de ser o que sou? Um corte não muda minha identidade, de forma alguma. Deus também, por causa do pecado humano, de forma alguma deixa de ser o que É!
Meu organismo, em sua complexidade e organização, naturalmente está apto a remover e aniquilar a ferida, porque ela não faz parte de mim, em minha essência, na genética em meu sangue, não consta informação alguma de que meu dedo deva conter esse ferimento, então a tendência, através dos mecanismos de reparação, é que eu volte ao 100%. Deus, sendo o que É, naturalmente repele o pecado, pois não consta em Sua essência eterna. A tendência, portanto, é que esse ferimento em Sua Obra seja aniquilado, fazendo com que tudo retorne ao que deveria ser. E é isso que Deus está fazendo, programando todo um futuro em que Ele julgará e limpará a ferida, fechando-a, por fim, com pontos firmes. E nós estamos no limiar desse acontecimento.
Deus continua querendo ter acesso ao "recheio" da Sua Obra, o problema é que esse tal recheio provocou a ferida... Ou, mudando um pouco: é um corpo estranho nessa ferida a cicatrizar. Em pecado, o homem é o oposto de Deus, portanto, naturalmente repelido por Ele que, na Sua essência eterna, É. Porém, Deus ofereceu uma chance às Suas criações: a vida e morte de Seu Filho e a vinda do Espírito Santo, afim de facilitar-nos a mudança de nossa natureza repulsiva, possibilitando que busquemos obter o caráter de Cristo, assemelhando-nos novamente ao Pai e, portanto, sendo considerados por Ele como parte do Corpo e não mais "corpo estranho". O que for tido como "corpo estranho", que negar a mudança, será, obviamente, repelido e tornar-se-á em nada, não restando sinal algum de sua existência, mas quem deixar-se modificar e se tornar agente benigno, será parte do tecido cicatrizado, quando tudo voltar 100% ao normal. Conceba: Deus deveria ter aniquilado a humanidade assim que tornou-se repulsiva para Ele, mas criou formas de fazer com que a natureza pecaminosa fosse alterada gradativamente e disponibilizou tempo para essa mudança, marcando o dia derradeiro para a cura total.
Enquanto isso, Deus priva-se do domínio absoluto nesse mundo, assim como quem tem o dedo ferido "não pode lavar louça". Mas o retorno de Seu reinado absoluto é óbvio, apenas questão de tempo. E, compreenda: para que tudo volte 100% de fato, qualquer traço que não existia na essência original, será aniquilado, desfeito, tornado em nada, assim como o machucado, não presente em minha genética, tornar-se-á em nada logo mais, anulado por mim. É tão óbvio!!
Em resumo: um dedo cortado incomoda? De fato. Ele merece atenção especial? Sem dúvida. É ocorrência comum no andamento de um trabalho? Pode ser. Precisa de cura? Naturalmente, sim. É assim a relação de Deus com o pecado.
Agora, pergunto-me novamente: "valeu a pena ter cortado o dedo?" Obviamente! Além do delicioso sanduíche, à partir dele me veio uma reflexão que não me teria vindo doutra forma! O que também é um exemplo brando de como Deus pode permitir provações para provocar mudanças e crescimento. Mas não se limite ao fato desse pensamento parecer simples à vista, a questão tratada aqui é séria! O que tu tem feito para se assemelhar ao Pai? O que a igreja de nossos dias tem feito para, de fato, pertencer ao Corpo? O que temos feito aos incrédulos, para que conheçam essa realidade e possam optar?! Essa reflexão também aponta, necessariamente, para a existência do Inferno, onde mergulhará todo o agente nocivo para ser incinerado.
Inevitavelmente acabo por pensar em como somos complicados quando se trata de Deus! Deixamos de pensar nEle e tentar compreendê-lo até onde for possível, por o pré-concebermos como sublime, frio e distante demais para qualquer boa reflexão. E, dessa forma, quando raramente pensamos nEle, sempre partirmos de um ponto muito profundo, iniciamos a reflexão cavando rapidamente, para chegar na rocha abaixo... quando, muitas vezes, a resposta está na superfície e, sem a notarmos, acabamos por destruí-la com a pá. Sejamos mais humildes, simples, sóbrios. Imagino quantas coisas deixamos de aprender por não prestarmos atenção nas pequenas coisas! Esse pequeno acontecimento, sem dúvida, mudou minha vida pra sempre, me deu uma incrível lição. Que essa reflexão lhe sirva de algo.


Natanael Castoldi

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