De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

terça-feira, 12 de abril de 2011

"Na outra ponta da vida"

Não estou tão inspirado para escrever e a seguinte idéia não considero capaz de produzir grande reflexão, até porque já fora falado algo parecido nesse blog. Mas, como não tenho nada a perder e, sem dúvida, há algo interessante nela, postarei-a. Se te interessar ler sobre outro assunto: Na montanha.

Outro dia estive no ancionato de Gramado, fazendo um dos projetos sociais de meu curso de teologia. O local parece, de fato, mais um triste depósito de idosos que, simplesmente, ali esperam a morte lhes bater a porta e, enquanto isso, presenciam a morte de seus companheiros de quarto. Sim, é triste, mas anima-me o fato de estar fazendo algo de bom lá - apenas ver a alegria deles quando chega algum jovem disposto a ajudar e conversar, já vale a pena. Nesse espírito, aproximei-me de um senhor que me parecia bem sóbrio para o padrão do local e, quando vi sua condição depressiva, dediquei-lhe um espaço especial de meu tempo.
Bom, ele segurou o choro, pelo menos, umas vinte vezes. Contou-me algo sobre sua vida, mas, de modo geral, desabafou sobre a tristeza em ver a si mesmo como um peso para as funcionárias do local, ver os pêlos de seu corpo caíndo, não conseguir mais controlar a evacuação. Estava triste, como um homem que vê as forças se perdendo e não quer acreditar; como um homem, de natureza guerreira, que deve se submeter ao auxílio constante de outras pessoas. Disse-me que sentia-se envergonhado de ali estar, sendo visto pelos outros como fraco. Por contra-partida, também queria me provar, sem sucesso, que ainda conseguia fazer algumas coisas, que ainda tinha algo de jovial. Ali constatei que há duas fases na vida do homem em que ele quer provar que pode, que é capaz: a infância e adolescência e a velhice. Alguns dos momentos mais frágeis de nossa existência.
Cansei de ouvir ele repetir as expressões: "eu não sou louco nem nada", "eu me governo", "eu me domino", "se eu abro os olhos é porque tô vivo ainda", "eu faço o que quero, tô pagando", "olha: eu governo sobre essa cadeira, eu meço ela toda", "olha o que eu consigo fazer", "eu sou homem, nasci homem e vou morrer homem", "eu ponho a mão aqui para empurrar tudo pra dentro, eu me governo", "pode deixar que eu sei o que tô fazendo"... Parecia como uma criança que, mesmo concebendo o contrário, afirma: "eu mando em mim!" Sim, ele queria me provar que ainda estava vivo e forte e eu, como um bom ouvinte, incentivei-o.
Depois de ter refletido nalgumas postagens sobre a situação deprimente da humanidade, minha cabeça estava bem condicionada a ver nesse senhor um exemplo de como andam as coisas em nosso mundo. A humanidade, assim como o homem em si, vive seu segundo momento de auto-aprovação, o primeiro nos tempos de jovem e o segundo hoje, "na outra ponta da vida". Quem acha que a saúde da humanidade está no avanço médico, no mundo cibernético, na dominação das máquinas e do conforto extremo, engana-se. O homem, criado como guerreiro, fora feito para ser bruto, habitante dos bosques. Foi feito para passar a maior parte do dia ereto e ter condições de trabalhar de sol-a-sol no campo. O homem, originalmente algo, abandonou quase que completamente suas raízes, desbravando terras sombrias e mortais - não é por nada que, na vida urbana frenética que concebemos hoje, as tachas de suicídio crescem rapidamente e a necessidade de tratamento psicológico e mental se torna, cada vez mais, parte do cotidiano. Com sua natureza selvática aprisionada, distrai-se degladiando judicialmente, inventando problemas e criando complicações. Sem nada durável para investir, vendo até o próprio casamento como algo banal, vive regido por um carpe-diem insano, buscando no acúmulo de dinheiro a felicidade de cada dia.
No relativismo, tudo se diluiu. Todas as idéias se estraçalharam e misturaram-se numa sopa. Sem moral, sem regra, sem uma luta com sentido -uma luta para lutar-, sem um amor para viver eternamente, sem uma aventura para consumar, sem o desejo de construir uma família ou até mesmo de considerar sua humanidade, jogando nas ruínas de seu "lar, doce lar" aquilo que, como homem, mais lhe tem valor, materialmente falando: o cérebro, o homem morre em sua essência - e, com isso, a humanidade inteira. Tudo o que outrora era duramente defendido e que consistia na definição de "ser humano" e na sua instituição mais poderosa, a família, tem sido abandonado... e, pior: o conceito de "humano" tem passado a abranger os idolatrados cães e gatos domésticos, que no vácuo do crânio de alguns, passaram a ter um valor muito maior do que irmãos - até porque perambulam por aí pessoas que praticamente -ou literalmente- casam com suas criaturas. No momento que o homem deixa-se submeter ao senhorio de um cão, é porque algo está muito errado...
Tudo leva-me a crer que, na prisão das cavernas de concreto, os homens, engordando como porcos e ficando albinos e anêmicos como vermes, estejam para conhecer "os finalmentes" da raça humana. Num passado não tão distante, antes da explosão tecnológica, vivera sua juventude, exalando força e ousadia, provando ser capaz, o rei de um mundo ameaçador e hostil. Agora, vive seu segundo momento, tentando provar que ainda "pode". Bom, o que vem no futuro não sei, só sei que o ser humano deixará de existir em breve, tornando-se alguma outra criatura inumana - já que somos muito mais do que pedaços de carne. Vamos fazer uma análise comparativa dos períodos citados: a jazida juventude, em que a humanidade tinha certeza e conseguia fazer, de fato, o que dizia ser capaz, e hoje, na velhice, em que diz ainda ser capaz, mas não consegue mais comprovar o que fala -as frases e imagens na seqüência devem ser bem analisadas e interpretadas, pois representam muito mais do que se lê e vê:

"Eu não sou louco nem nada"
Juventude:

Velhice:

"Eu me governo"
Juventude:

Velhice:

"Eu me domino"
Juventude:

Velhice:

"Se eu abro os olhos é porque tô vivo ainda"
Juventude:

Velhice:

"Eu faço o que quero, tô pagando"
Juventude:

Velhice:

"Olha: eu governo sobre essa cadeira, eu meço ela toda"
Juventude:

Velhice:

"Olha o que eu consigo fazer"
Juventude:

Velhice:

"Eu sou homem, nasci homem e vou morrer homem"
Juventude:

Velhice:

"Eu ponho a mão aqui para empurrar tudo pra dentro, eu me governo"
Juventude:

Velhice:

"Pode deixar que eu sei o que tô fazendo"
Juventude:

Velhice:
Você é capaz de ver a humanidade, nosso mundo, como um indivíduo extremamente idoso, desgastado, que perambula errante e sem descanso no ermo, prestes a morrer? Pois eu vejo. Estão todos loucos! Perdidos nas insanidade, na loucura que se abateu nesses tempos modernos! Atordoado com as mudanças e aprisionado em sua própria armadilha, o homem vê-se cada vez mais confuso com o mundo urbano que construíra... um mundo para o qual não fora criado. Estamos na condição de um leão adulto capturado vivo e lançado numa pequena jaula de circo, fadado à eterna dor e estresse, engordando e tendo sua musculatura atrofiada, não mais sobreviverá se voltar para às savanas e, tampouco, sobreviverá se permanecer na gaiola. Embora não mais seja capaz de derrubar um grande búfalo, sua natureza de caçador ainda existe e, inata, jamais deixará de existir.
Vivemos, como humanidade, esse paradoxo. É impossível retornar, destruímos nosso passado, arruinamos as coisas velhas... é impossível continuar, pois não sobrou nada sólido pela frente, dinamitamos tudo, fazendo brotar um lamaçal profundo. Infelizmente estamos velhos demais para sobreviver à essa empreitada no pântano.
Sim, a humanidade chegou ao momento final de sua existência. Como o organismo humano deteriora-se e definha, sua mente se atrofia e reduz, com o passar do tempo, nosso mundo envelhece. A solidez de idéias e anseios do passado, perdeu-se no colapso mental; os passos firmes e bem pensados, foram substituídos por um andar trêmulo, inconstante e confuso. O homem esqueceu quase tudo com seu declínio, não mais reconhece amigos ou inimigos; não mais concebe o prejudicial do benéfico; não mais sabe de onde vem e para onde vai e, como quem está no leito de morte, abandonou qualquer sonho, plano ou projeto para o futuro... parece saber que está morrendo e não há volta, então, como um típico idoso de nossos dias deturpados, tenta viver seus últimos suspiros como um jovem, lançando-se na perdição total, sem atentar para qualquer legado moral sólido, afim de "aproveitar" ao máximo os últimos cinco minutos da festa.
Aqui a situação se agrava: crendo que logo morrerá, ajuda a destruir-se, destroçando a si mesmo e a residência em que habitara, aniquilando, portanto, qualquer chance de retorno. Prova de sua insanidade e confusão... faz como alguém que, concebendo o aproximar da morte, cava sua cova e se enterra vivo. Parece-me que chegamos nesse ponto e, agora, enterrados, sufocamo-nos, agitamo-nos, arrependemo-nos. Mas não há volta, há terra por todos os lados.
O homem, com a mente atrofiada e extremamente confusa, corre como cão envenenado, de um lado para outro, em desespero, buscando, de fato, uma morte mais rápida. Por isso aqueles que professam carregar consigo a vida, a solução, a cura, são repelidos de forma hostil. Na juventude o eram, pois a humanidade era forte demais para se submeter à Deus e admitir seus erros. Hoje, na velhice, prefere morrer de uma vez por todas e aniquilar seu sofrimento, a desilusão de que padece, após ver seus sonhos arruinados, ver que não há Paraíso a ser alcançado com suas mãos, nem retorno ao que já fora n'O Princípio. O vazio que domina seu interior nunca fora preenchido... e no âmago sente como se vermes se enroscassem e corroessem sua carne, produzindo dor terrível. Por si, não encontrou a cura... e ainda quer mostrar que "pode", então resiste ao Salvador, orgulhosa até a morte.
Leitor, essa postagem pode ter-lhe sido confusa e complicada. Talvez tenha faltado algo para que fique completa, mas espero que reflita mais sobre o que leu, preste atenção nas notícias e "novidades" que perambulam por aí, afim de conceber e completar o que lera aqui sobre a situação humana. Também quero que compreenda que, sendo a humanidade formada por humanos -até então-, a maioria das pessoas que você vê por aí se encontra da mesma forma em que se encontra o nosso mundo: padecendo, mediante seu colapso. Então questiono: você, humano, como anda? Não sei, só sei que há uma saída, pelo menos individual. Jesus é capaz de pisar na cabeça de cada serpente que se enrosca em tuas entranhas e preencher esse vazio mortal, fazendo-o readquirir alguns traços do homem genuíno que fora nos primórdios e revitalizá-lo, arrebentando as correntes que te prendem a este mundo que apodrece, fazendo o leão que és no profundo de teu ser, aflorar. Tal evento, pode, também, te proporcionar uma aventura ou luta, para que lute... já que os líderes desse mundo não querem ninguém livre e rugindo por aí. No final, o melhor disso tudo, é a certeza de não perecer eternamente junto à este mundo que se desfragmenta, mas ser engrandecido e acrescentado no vindouro Paraíso, no Céu, mediante a face do próprio Deus!
"O mundo está mudado.
Eu sinto isso na água
Eu sinto isso na terra
Eu farejo isso no ar.
[...]
Muito do que já existiu se perdeu, pois não há mais ninguém vivo que se lembre.
[...]
E algumas coisas que não deveriam ser esquecidas se perderam.
A história tornou-se lenda, a lenda tornou-se mito.
[...]
E a escuridão retomou as florestas do mundo". - O Senhor dos Anéis, A Sociedade do Anel.
Natanael Castoldi

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