De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ad aeternum

Ou "ad eternum"... "para todo o sempre". "Todo o sempre" parece uma expressão redundante, pois o "sempre" já é um todo interminável, não? E é nesse sempre, no interminável, que habita nosso altíssimo Deus. Hoje, por fim, decidi e criei coragem para postar meus raciocínios sobre Deus e o tempo e sobre isso que você lerá na seqüência. Só uma observação: é tudo opinião pessoal, não tenho a pretensão de me fazer dono da verdade, mas de expôr meu pensamento, segundo aquilo que acho mais satisfatório na resolução de mistérios da fé cristã.
Parte 1: Deus é eterno no tempo
Antes de tudo, é válido notar que a Bíblia não é um livro todo enigmático, cheio de coisas ocultas e que não são o que parecem ser. A visão tradicional sobre Deus e outras questões teológicas trabalha, muitas vezes, como se o significado evidente de uma passagem fosse, na verdade, outro, mais oculto, muito interpretativo, como se o texto não quisesse transmitir a mensagem que aparentemente transmite, como se Deus estivesse fazendo uma pegadinha com o leitor e criando um cenário próprio para precipitações. Eu não acho que tudo o que diz uma coisa que contradiz a filosofia pré-definida, deva significar outra coisa, porque a filosofia dominante de antemão definiu de tal forma. O que o texto diz, ao meu ver, é exatamente o que ele quis dizer.
O Teísmo Clássico atribui a Deus, com toda a razão, o atributo de eternidade - e, mesmo que eu não aceite todos os termos do Teísmo Clássico, esse atributo é absolutamente óbvio e inquestionável. Mas para a tradição ortodoxa da Igreja o atributo de "eternidade" define, necessariamente, Deus como atemporal -fora do tempo. A visão de "eternidade", então, passa a caracterizar algo fora, além do tempo. A questão é: eternidade necessariamente tem alguma relação com "fora do tempo"?
Para alguns parece um raciocínio dificílimo, impossível de conciliar, mas para mim é óbvio que essa relação é viável. O "eterno" jamais designa alguém fora do tempo, pois a eternidade, por si só, define alguém ou algo que vive um tempo eterno, ou seja, precisa estar no tempo para, vivendo-o eternamente, ser eterno. A definição que li no dicionário não atribuía, em momento algum, a atemporalidade ao eterno, mas apenas o definiu como algo sem começo ou fim; com começo, mas sem fim; com duração indefinida...
Sim, é possível o eterno viver o tempo. Quando Jesus, após a ressurreição, esteve em nosso mundo temporal, ele se via em corpo eterno, imortal e o fazia sem problema nenhum. Até hoje Cristo e as teofanias do Antigo Testamento parecem ter sido os único seres eternos que pisaram, em corpo físico, na Terra, o que já evidencia a possibilidade dessa relação. O fato de nós estarmos destinados, como Filhos de Deus, a uma eternidade temporal no Paraíso, também torna totalmente cabível o fato aqui comentado.
Bom, você já deve ter visto que defendo a idéia de Deus não estar acima do tempo, mas com o tempo. Então pode me perguntar: "se Deus é com o tempo, então Deus é mutável, ao lado de um tempo mutante?" Foi essa uma das questões levantadas pelos opositores desse raciocínio e, ao meu ver, parece uma pergunta dotada de alguma desonestidade intelectual, pois o fato de algo eterno estar no tempo não interfere em sua natureza. O eterno pode ser imutável e, ao mesmo tempo, ser temporal, pois, vivendo a eternidade passada, já está totalmente definido naquilo que É, já que o é eternamente assim. Não há novidade no Eterno. Partindo do ponto de que o Deus imaterial é transcendente à matéria, estando apenas em Si mesmo e em nenhum outro lugar além desse, Se faz inatingível em relação ao material, pois é imutável, enquanto a matéria se degrada e, sendo maior em tudo e do que tudo o que Ele mesmo criou, não há nada com poder para moldá-lo. No final das contas, o tempo passa, a matéria se modifica, mas Deus, eterno e transcendente, não se modifica, não passa, mas É em Si mesmo enquanto as coisas se desenrolam no universo material. A menos que a matéria fosse parte de Deus, Ele poderia Se modificar com ela... Mas nada faz parte do Deus que tudo fez, apenas Ele mesmo. Pense mais: viveremos eternamente no Paraíso, mas com um padrão de comportamento totalmente definido, uma natureza incorruptível e com atributos imutáveis, não havendo interferência de nada que fuja dessa realidade, a realidade temporal desse mundo físico nos "modificará"? Seremos sempre os mesmos seres, imutáveis na essência e, dentro dos limites de nossa natureza incorruptível, aptos a reagir aos eventos possíveis. Simples. Por que Deus, necessariamente, precisa mudar o que eternamente É, só porque o tempo está "em aberto"?
"O tempo não é apenas existente no mundo material?" Certo. O tempo existe onde há algo que se movimente, que sofra a sua ação. O tempo existe, automaticamente, com a existência da matéria e a matéria só existe em função do tempo e do espaço. Mas não há nada que nos afirme que o tempo só é possível no mundo cuja matéria vemos e a própria Palavra deixa claro que o tempo se desenrola no mundo espiritual, enquanto passa no mundo físico e que, eternamente, viveremos com Deus no Paraíso em que deveria ter vivido eternamente, à princípio, Adão. Ao que parece, tudo o que tem "tempo" para se mover, raciocinar, reagir, criar... está envolto no tempo. O tempo, partindo desse âmbito de análise, não é fruto ou causa da matéria, mas, sim, da própria existência: ele existe ao lado de qualquer existência e qualquer existência existe ao lado dele.
Concebo que Deus, na essência, está à-parte de toda a Sua Criação. Ele está apenas em Si mesmo, não em um lugar, mas em Si, Ele é o próprio lugar onde está e nada pode estar nesse lugar, que é Ele, se não for Ele. Isso, ao meu ver, segundo o meu raciocínio, implica que Deus é espacial nesse lugar que é Ele mesmo, preenchendo o infinito que Ele é e, também, temporal, pois, à-partir de Si mesmo, teve tempo e espaço para criar algo diferente dEle e que, consequentemente, apareceu num outro lugar, resultante automático do ato de Deus ter criado algo que não é Deus. Esse lugar, que antes não existia, pois só Deus existia, está envolto em tempo e espaço, à-partir da Causa-primeira que, de antemão, já era com tais atributos. Em resumo: nada surge onde não há espaço e nem tempo para surgir, logo o tempo e o espaço devem ser eternos. Quem é eterno? Deus.
"Deus ser temporal não muda tudo?" Alguns podem se assustar com essa idéia, pois, aparentemente, ataca toda a compreensão bíblica de Deus, sobre profecias, conhecimento futuro e planos irrevogáveis. O detalhe é que Deus, onipotente e onisciente, sabe tudo, conhece o funcionamento de todas as coisas que Ele criou, sabe muito do que, segundo sua mecânica, sua natureza, farão futuramente, pois existe um padrão. Deus, onisciente, também é capaz de ter certeza dos efeitos futuros que um evento de hoje pode provocar, simplesmente por Ele ser a plenitude da lógica, da razão, do saber. Deus também, com toda a tranquilidade, está seguro de que Seus planos não serão abalados, pois não há nada que possa desafiá-Lo, fazê-Lo perder o controle. Ele, de antemão, definiu o que planeja para a humanidade e nada, nada tem tamanho ou poder para impedí-Lo de fazer a Sua vontade. Como um invencível jogador de xadrêz, Ele mexe as peças de forma perfeita e sem erro, faz as coisas acontecerem segundo a Sua vontade para que, no final, chegue ao objetivo. O que são profecias? Resultados óbvios de determinada postura de um povo -"o mal o aniquilará"- ou avisos de Deus sobre o que Ele planeja fazer num futuro próximo ou longínquo e nada, nada o fará descumprir o que já está definido por Sua vontade.
Deus, então, tem pleno e absoluto conhecimento do tempo presente, inegável certeza do que sucederá num tempo próximo, mas inexistente, com base no que já sabe sobre o passado e o presente, e total certeza do que ocorrerá num tempo distante, porque Ele mesmo está planejando. Nada poderá frustrá-Lo. Deus também, em Seu insondável conhecer, não esquece, não abandona as memórias passadas, doutros tempos e, portanto, em Sua onisciência, pode revisitar o passado inteiro, que já não mais existe, com a mesma nitidez e compreensão que tinha no momento em que tal passado era presente - "revisitar" em memória.
Detalhe: mesmo que Deus seja atemporal, o que não tem problema nenhum, Ele não necessariamente precisa saber tudo o que acontecerá no futuro inteiro, pois Ele, sendo atemporal, não faz com que nosso mundo, material, esteja totalmente, na questão temporal, definido perante Deus. O tempo para o que é temporal existe e é absoluto desde o momento em que houve um começo. No momento em que houve começo, não necessariamente o fim já pudesse ser conhecido, pois a matéria temporal não teve "tempo" para revelar-se desse modo, o começo é apenas o começo e nada mais. Aquilo que é temporal, que se define dentro do tempo, tecnicamente não existe no futuro nem no passado, apenas no "hoje", pois é a mesma matéria existindo esse tempo todo e, ao lado da matéria, o tempo. Se a matéria do passado existe hoje, e não mais no passado, pois já se passou, então o passado é apenas memória, já que toda a existência passada está no "hoje". Se a matéria de hoje é toda a do passado, definida no tempo, e não está no futuro, pois o futuro ainda não chegou, então o futuro também não existe, é apenas expectativa, já que não há nada naquilo que ainda não veio. Ao meu ver isso é inquestionável. Deus, mesmo sendo atemporal, O seria em Si mesmo, mas a Sua matéria, criada, trilharia, independentemente desse atributo, as veredas do tempo e, logo, o futuro é inatingível e o passado, apenas lembranças. Isso vale tanto para o temporal quanto para o atemporal.
Sendo atemporal e, até mesmo, tendo poder de ver o futuro, Deus pode ter se privado desse conhecimento. Sim, o Deus eterno pode limitar-Se a Si mesmo em relação ao que Ele concebe ser importante. É dessa forma que compreendo que Cristo pôde ser totalmente humano na Terra. No final das contas, em tudo há aparente necessidade de uma relação temporal, de um Deus que age no tempo para um mundo emergido no tempo: se todo o futuro estivesse resolvido e determinado, o próprio ato de criar, sabendo da Queda vindoura, se torna questionável. Se tudo está pronto e determinado, então não existe livre-arbítrio e, logo, a Bíblia não tem sentido de ser, porque os que devem ser salvos já estão todos salvos e os que devem ser condenados, já o estão na totalidade, independendo dos apelos bíblicos. Na verdade, não há nem sentido para estarmos aqui hoje, padecendo de tentações, de desafios, de encruzilhadas, pois tudo já está definido mesmo. O próprio sacrifício de Cristo perde parte do valor, sendo que Ele acaba morrendo no lugar de quem, de antemão, já está predestinado a ser salvo, o que invalida o potencial de tal sacrifício, que já não se consumou para salvar ninguém, pois, desde o começo dos tempos, todos os seres humanos, de toda a história, os que existiram, os que existem e os que existirão, já estão predestinados para a salvação ou condenação sem depender de nada. Por que Deus se entristeceria com aquilo que Ele já sabia que haveria de acontecer? Por que alguém, sabendo que se entristeceria futuramente com algo que viesse a criar, o criaria?! No final, parece que o argumento que tanto os calvinistas usam sobre soberania de Deus dentro do tempo se inverte, pois se, após Ele tudo criar, automaticamente todo o futuro de sua Criação se veria pronto e definido, independendo de Sua vontade -pois sabe-se que nem tudo o que aconteceu e acontece está dentro da vontade de Deus-, então algo fugiu do controle, algo definiu-se por si mesmo. Poxa, não é porque eu faço um boneco de madeira hoje que sei que ele queimará ano que vêm... E nem gostaria de sabê-lo!
"Mas o tempo não é relativo?" Não. A percepção do tempo é relativa, mas o tempo, em si, é absoluto. Não é porque leva 1 bilhão de anos para a luz de tal estrela chegar aqui que ela está 1 bilhão de anos atrasada em relação a nós, não. No presente momento, em que eu escrevo, há coisas acontecendo em tal estrela e que só chegarão aqui quando eu estiver habitando os Novos Céus e Nova Terra, mas é inquestionável que o presente está tanto aqui quanto lá. Não há vácuo no tempo, há um tempo absoluto. A própria luz que viaja daquela estrela até aqui, na viagem, óbviamente, está padecendo de ação temporal. Da mesma forma, há um objeto perdido no espaço com uma percepção de tempo diferente da nossa, devido à vários fatores, mas, enquanto eu escrevo essa postagem, ele está lá, se movendo e, se, porventura, vier a cair na Terra, automaticamente se submeterá ao tempo como ele é percebido aqui, não continuará o percebendo da forma que o percebia "lá".
Deus está na estrela há 1 bilhão de anos-luz daqui e, ao mesmo tempo, aqui comigo, Ele está no presente desses dois lugares. Deus também está no corpo-celeste que percebe o tempo doutra forma, não percebida aqui e ao mesmo tempo aqui, vendo o desenrolar das coisas no tempo presente e absoluto da Terra.
Há algumas passagens bíblicas que defendem essa idéia:
-Deus se arrepende (Gênesis 6:6; 1 Samuel 15:10-11; Joel 2:13).
-Deus questiona sobre o futuro (Números 14:11; Oséias 8:5; 1 Reis 22:20).
-Deus se depara com o inesperado (Isaías 5:2, 4; Jeremias 3:6-7).
-Deus se frustra (Êxodo 4:10-15; Ezequiel 22:30-31).
-Deus provas as pessoas para conhecer seu caráter (Gênesis 22:12; 2 Crônicas 32:31; Salmos 95:10-11).
-Deus, algumas vezes, fala sobre "possibilidades" (Êxodo 4:1-9, 13-17; Ezequiel 12:3; Jeremias 26:3).
Leitor, tudo faz mais sentido. Eu me sinto realmente livre e muito mais responsável pelos meus atos se assim for, pois não estou pré-determinado a fazer todo o certo e errado que fizer. Também me animo muito mais a pregar o Evangelho aos necessitados, pois eles não estão predestinados à salvação ou à condenação, logo, seu futuro está em aberto para ser alterado. Toda a existência desse mundo, dessa humanidade, a Bíblia, Cristo, faz mais sentido, pois o tempo está em andamento e a redenção humana em processo de consumação. No final das contas, sinto-me mais à vontade para me relacionar com Deus, já que Ele, de fato, está esperando que eu Lhe seja agradável, obediente, sincero - com tudo determinado, "esperar" algo parece difícil.
E os "predestinados"? Todos estão, de antemão, "predestinados" por Deus à salvação, pois todos foram comprados pelo sangue de Cristo. É um "destino" que se define com o ato de aceitar essa compra. Se tal "compra" não for aceita, então há o Inferno como destino óbvio. Duas escolhas, dois destinos, minha escolha atual, um predestino. João 3:16 afirma que Jesus morreu por todo o mundo, não por alguns "escolhidos". Se Jesus morreu por todos e se é da vontade de Deus que todos sejam salvos, mas alguns não são salvos, então há livre-arbítrio e o tempo está em andamento.
E os "escolhidos"? Deus faz o que quer e pode, sim, escolher alguns em especial. Mas, ao que concebo, essa escolha é resultado da opção humana de se prontificar. Ou seja: Deus chama um mundo inteiro, mas escolhe apenas quem, de fato, aceitar e cumpre os termos do convite.
E a "perseverança dos crentes"? Se depender de Deus, ninguém perderá seu posto como filho dEle. Mas isso depende, também, do homem, que tem a livre escolha.
Segue um "ensaio" que fiz sobre "Deus e o tempo", no início do ano, sendo a reflexão bruta, fruto repentino de meus raciocínios do momento. Espero que não se confunda, pois eu decidi postá-lo de forma integral, já que aquilo que sai uma vez de minha mente, não consigo repetir com igual qualidade:
Parte 2: Deus é com o tempo e o tempo é com Deus
Deus é soberano:
Michaelis online
soberano1
so.be.ra.no1
adj (lat vulg superanu) 1 Que está revestido da autoridade suprema. 2 Que governa com absoluto poderio. 3 Dominador, poderoso, influente. 4 Que exerce um poder supremo sem restrição nem neutralização. 5 Poderoso ou potente nos seus atos e efeitos. 6 Diz-se de Deus e da sua suprema autoridade.7 Excelso, magnífico, notável. 8 Excelente no seu gênero; que atinge o mais alto grau; supremo.
soberano2
so.be.ra.no2
sm (lat vulg superanu) 1 O que exerce o poder supremo; o que tem autoridade como príncipe ou rei; monarca, imperante.2 Potentado. 3 O que tem autoridade moral sobre alguém. 4 O que tem grande influência ou poder.
onipotente
o.ni.po.ten.te
adj m+f (lat omnipotente) 1 Que tem poder ilimitado. 2 Todo-poderoso. sm Deus.
onisciente
o.nis.ci.en.te
adj m+f (oni+ciente) Que sabe tudo.
onipresente
o.ni.pre.sen.te
adj m+f (oni+presente) 1 Presente em toda parte; ubíquo.
Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa:
Soberano: “que está acima”. 1. Que detém poder ou autoridade suprema, sem restrição nem neutralização. 2. Dominador, poderoso. 3.Supremo, absoluto. 4.Excelente, magnífico. 7.Chefe de estado monárquico; monarca. 8. Indivíduo ou ser moral que exerce o poder soberano; imperante. 9. Aquele que influi poderosamente.
a.Poder: 1-Ter faculdade de. 2-Ter possibilidade de, ou autorização para. 5-Ter força para. 8-Ter direito, razão, motivo de.
b.Autoridade: 1-Direito ou poder de se fazer obedecer, de dar ordens, de tomar decisões, de agir, ECT. 2. Aquele que tem tal direito ou poder. 6.Influência, prestígio; crédito. 7. Indivíduo de competência indiscutível em determinado assunto.
c.Supremo: 1-Que está acima de tudo; súpero. 2.Referente a Deus. 3.Derradeiro, último, extremo. 4.Superior, sumo.
d.Dominador: 1.Que domina, exerce, grande poder ou influência. 2.Que infunde respeito, que se impõe.
e.Excelente: Que é muito bom; que excele.
f.Magnífico: 1.Magificente. 2.Muito bom ou muito belo; excelente.
Em tudo isso, nada vi que implique em Deus ter que ser conhecedor do passado e do futuro. O tempo não é objeto, não é “coisa”, o tempo é apenas resultado da existência, assim como a existência é resultado do tempo. O tempo não é criado, o tempo é resultado. O tempo existe enquanto existe algo e algo existe, apenas porque existe tempo, já que o tempo só é presente em algo que sofra a sua ação e algo só surge se existe tempo para tal. As duas coisas são inseparáveis. Deus existe, Deus É, o tempo existe junto com Deus, mas não o atinge. Deus não necessariamente precisa conhecer o tempo inteiro, porque o tempo se desenvolve enquanto Ele existe e Ele existe enquanto o tempo se desenvolve, passa. O tempo não é criação, o tempo não é nada, senão a decorrência de vida de algo, a reação do objeto a degradação proveniente de sua própria existência, isso na matéria conhecida. Como Deus não se degenera, então Sua percepção de tempo é diferente, sim, mas Ele não está sobre o tempo, Ele É com o tempo e o tempo é com Ele.
Passagens sobre perda da salvação implicam em Deus se privar ou não conhecer o futuro.
Se eu posso ir para o futuro ou para o passado, ambos estão acontecendo nesse exato momento. Isso é complicado. O tempo se torna circular, feito em infindáveis dimensões de repetições.
Se o tempo for algo e se é possível viajar por ele, então ele é como uma estrada pré-estabelecida. O tempo é algo pronto, não há novidade alguma nele. O tempo não passa de uma criação que faz com que aconteçam as outras criações. Deus estaria fora do tempo, acima dele, vendo-o por completo, do início ao fim e podendo visitá-lo em qualquer milissegundo de sua decorrência. Por fim, se é dessa forma, o tempo não passa, ele está pronto e se mantém, fração por fração. Cada pequena parte do tempo existe eternamente, porque o tempo é um inteiro, não se termina. Para tanto, devem existir infindáveis dimensões temporais, uma para cada repetição da fração incalculavelmente pequena do tempo, pois, se o tempo é uma placa de metal sólida, imutável nela mesma, tudo o que acontece agora sempre acontecera pela eternidade passada e vindoura. Aconteceu no “passado” e ACONTECEU no “futuro”. Se o tempo é imutável e cada segundo dele existe por si e eternamente, então não existe passado nem futuro, talvez um presente perpétuo de repetições. Meus passos todos do passado e do futuro eu já dei, estão registrados e se repetindo eternamente. Desse ponto de vista, eu mesmo, nesse momento, não tenho origem, pois o que faço agora é uma repetição eterna de algo que está pronto. No dia em que nasci, eu estava namorando, casando, morrendo. Nasço eternamente, caso eternamente, morro eternamente. Então não há começo, nem fim. O dia da minha morte se repete tanto quando o dia do meu nascimento. Nesse âmbito, o tempo em si está parado, frio, cada milionésimo de segundo trabalhando individualmente e separadamente, em repetição. Daí posso afirmar: o tempo não existe. O que existem são repetições eternas das partículas mais diminutas de tempo.
Nesse cenário, posso ver o tempo como uma circunferência e Deus ao centro. Não há começo nem fim, pois o universo “termina” numa dimensão, enquanto é “criado” na outra e assim infindável e infinitamente. A circunferência sempre existiu. Deus, no centro, visita, quando quiser, qualquer parte dele. No final das contas, Deus acaba não necessariamente criando o universo, já que o que existe sempre existiu, partindo do ponto de que o tempo está pronto e se repete. Deus torna-se um viajante do tempo, ou alguém que gosta de assistir o mesmo filme o tempo todo... senão, Deus também existe em infindáveis dimensões. De certo modo, nada nunca teve princípio e nada nunca terá fim. Desde a eternidade, tanto o “começo” quanto o “fim” existem na imutável barra de metal do tempo. A eternidade sem criação alguma existe agora, caminhando em paralelo com os dias em que alguma coisa foi criada e, também, ao lado dos tempos de eternidade no Céu. Deus está sempre criando e destruindo. Na verdade, sendo o tempo eternamente circular, não se pode discernir começo ou fim. Também havermos de concordar: se o tempo é circular, o Mal sempre existiu e o nunca deixará de existir, pois Lúcifer estará sempre caindo, o homem também, sempre e pela eternidade de repetições. Nunca nada se resolveu. Eu existo eternamente no momento em que piso numa formiga, estou eternamente pisando na formiga, porque esse tempo se repete, já que ele pode ser revisitado. De certo modo, eu nunca matei a formiga, porque ela está eternamente viva na repetição do tempo e pode ser revisitada a todo instante. Pense: se hoje eu puder visitar o passado e o futuro, ambos serão presente eterno, estão acontecendo e se repetindo agora, senão não poderiam ser viajados como se faz com uma estrada.
 
A explicação mais plausível é que o tempo inteiro não existe, o tempo está se desenrolando pela primeira vez, como um pergaminho. Não há nada que conheça o tempo inteiro e possa visitá-lo, senão caímos no problema acima. Deus, pelo seu conhecimento, é capaz de deduzir muito do que acontecerá, planejar e pôr em prática, sendo um ótimo jogador de xadrez.
Outros dizem que o tempo é relativo. Não, o tempo é absoluto. Se eu vejo algo acontecendo há 10.000 anos-luz daqui, ele realmente aconteceu da forma como vi uns 10.000 anos atrás. O tempo passa em todo o lugar, mas é concebido de formas diferentes, através da matéria que está a sofrer sua ação, ou, na qual, a degeneração se dá de forma mais rápida ou lenta, dando a sensação temporal. Se a matéria de um ponto distante do universo, padecendo doutra sensação temporal, vier para a Terra, padecerá da sensação que existe aqui, obrigatoriamente. O tempo é absoluto e inflexível, ocorre constante e imutável em si, dando espaço para as coisas acontecerem e acontecendo porque as coisas existem. O que muda, no final das contas, é a percepção do tempo. 8 horas de sono podem parecer 10 minutos, dependendo da forma como me desligar, mas o tempo de 8 horas passou sem questionamento. Um sonho que parece ter 20 minutos, na verdade dura dois, mas o tempo sentido ali foi de 20, apesar de o tempo real ser dez vezes menor, isso porque nosso cérebro, preocupando-se apenas em relaxar e manter o corpo vivo, funciona com mais eficiência ao dormirmos. É aqui que entra a nossa grande diferença em relação ao tempo para com Deus, pois Sua incalculável sabedoria e conhecimento, Sua capacidade, onipotência, dentro da onisciência, O fazem ter a capacidade de produzir num milionésimo de segundo, aquilo que não teremos tempo para fazer a vida inteira.
Há anos vi um filme que falava de um experimento em relação ao tempo, cuja percepção mudava através da supervelocidade proporcionada por um relógio esquisito. Bom, o que me chamou a atenção é que, quando ativado o relógio, o indivíduo, mesmo caminhando “normalmente” dentro de sua percepção temporal, via o movimento dos outros de forma extremamente lenta. O que ele fazia em dois minutos, alguém levaria, quem sabe, mais de um dia, mas, para ele, esses dois minutos pareceriam o tal “mais de um dia”. Porém, no final das contas, o tempo, absoluto, foi só de dois minutos, independente da percepção.
Deus é soberano, sim. É rei em tudo, toda a criação. O tempo não é nada para que seja dominado, o tempo é apenas a sensação de existência e movimento. Deus existe, Deus É, Deus se movimenta. Toda essa sensação resulta no caminhar do tempo. É apenas a conseqüência. Deus domina no tempo, não o tempo. Deus só dominaria o tempo se pudesse ser maior do que Ele mesmo, pois o tempo é parte eterna da existência de Deus. Deus É, eternamente Ele É, com todo poder imaginável e concebível onde Ele reina soberano: TUDO. Simplesmente seria inconcebível crer que Ele pudesse ser mais poderoso do que Ele mesmo, algo sem cabimento. O fato é que a memória de Deus é tão boa, que Ele pode estar revendo, a todo instante, todo o passado como se fosse hoje e pode, através disso e de todo o onisciente conhecimento das coisas que aconteceram e estão acontecendo, projetar, sem possibilidade de erro, um futuro.
Pense nisso: se o futuro ainda não aconteceu, então, tecnicamente, não há nada para dominar ou conhecer nele, pois, neste momento, nada existe no futuro, já que o próprio inexiste – o futuro não é algo para se dominar e se conhecer, pois NÃO EXISTE, é apenas a perspectiva, dentro do tempo absoluto, de que, existindo algo hoje, há de continuar existindo ou se modificar num tempo próximo. Só há existência onde há algo existindo –o que é óbvio-, ALGO implica em matéria visível –física- ou invisível –espiritual- e essas coisas existem no tempo e passam com o tempo –ou o tempo passa com elas. O passado, já que o que existia nele continuou existindo e existe hoje, não existe mais, pois as coisas passaram com o passar do tempo –e o tempo passou com elas-, não se prenderam lá e não há nada para trás, pois nada que existe é inerte ao tempo e o tempo nunca se mostra inativo quando algo existe. Se o existe tempo, então existe atividade e, se existe atividade, existe passagem –as coisas mudam e deixam de ser o que ou como foram, não digo na essência, mas, assim como um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar, as coisas que se passaram não se repetem perfeitamente, o que foram um dia, não mais serão - e o passado está morto, juntamente com essas coisas, que passaram e se modificaram. Me refiro a matéria palpável e visível, mas, se você analisar Deus ao longo da narração bíblica, verá que Ele age no tempo e nunca repete Seus atos, sempre trabalha de forma diferente em prol de Seus planos. Por fim, nem passado nem futuro existem. O que temos hoje é resultado direto do que existiu no passado e o futuro, portanto, tende a ser resultado direto do que temos hoje, temos marcas do que foi e perspectivas do que virá, mas só existe o HOJE.
Para mim, essa é a resposta. Como Deus, conhecendo o tempo todo e sabendo dos problemas, irar-se-ia, como se a rebeldia humana em determinado momento lhe fosse novidade? Por que Deus se arrependeria de ter criado? Por que Deus se arrependeria de ter posto Saul no poder? Teria sentido Ele criar TUDO sabendo da Queda? E, se criasse sabendo da Queda, irar-se com o que já sabia que iria acontecer? O que me parecesse mais provável é que Ele decidiu viver essa aventura humana conosco, limitando-Se a Si mesmo da visão futura ou, de fato, não tendo acesso a ela. Isso é limitar Deus? De forma alguma. Ele realmente não tem limites, mas, também, não pode burlar-se a si mesmo, manipulando o tempo que só acontece porque Ele existe, que só acontece nEle e é por Ele. Posso eu até estar errado, e, se estiver, nada mudará em minha fé por Deus, que senti, que facilmente comprovo na natureza, na ciência, na filosofia. O que muda pra mim, compreendendo assim, é que acabo por ver Deus de forma ainda mais perfeita, também mais próximo, mais acessível, um Deus que não predestinou uns para o Céu e outros pro Inferno, o Deus que está vivendo a aventura que estamos vivendo, que tem expectativas para com Seus filhos, que espera algo dos Seus filhos. Um Deus amigo, que não está apenas assistindo repetidamente o mesmo filme ao longo da eternidade, onde o sofrimento se repete, a salvação se garante, a Vida Eterna se passa e tudo recomeça, voltando ao sofrimento e etc. Um Deus que teve razão para criar. Se tudo já está predestinado, qual o sentido de estarmos aqui ainda? Não somos personagens de um jogo de computador.
O Tempo Eterno, para o futuro, é mais uma prova de que o tempo não está concluído, mas construindo-se. Um tempo circular é feito de eternas repetições, mas essas repetições precisam ser limitadas em si mesmas. O Tempo Eterno é inconcebível para o tempo concluído, pois o eterno não se conclui, sempre está se construindo. Aqui, mais uma vez, tendo a idéia de que Deus vive o tempo conosco, sendo que a ação temporal não tem efeito degradativo nEle.
O tempo pronto, que se repete eternamente em cada fração, exigindo uma quantidade de dimensões paralelas infindável, em si é uma idéia impossível, mas é a única alternativa quando se quer defender a viagem no tempo dessa forma mais bruta. Toda essa quantidade infindável de dimensões, cuja matéria também seria infindável, teria de estar contida nalgum lugar, num único lugar, pois o universo, em si, não pode conter o infinito, a matéria não o suporta. Aqui entra o papel de Deus como recipiente dessa sopa. Isso é quase panteísmo.
Detalhe final: Deus, na Criação original, creio não ter criado algo que já não tivesse raiz nEle. Ordem, beleza, moral, elemento, espaço e... tempo! Se o temo está na Criação, provavelmente está com Deus!
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Concluo, então, duas reflexões distintas que fiz sobre o mesmo assunto. Esse é o único pensamento no qual consigo chegar com base na lógica e razão - tudo bem que o meu nível de razão é bem pequeno. Bom, essa é a minha idéia e ela, enquanto não herética, mas, sim, fonte explicativa para grande problemas e aparentes lacunas da fé cristã tradicional, me amplia a devoção ao Criador, pois O vejo como Senhor mais próximo, mais pessoal, mais, por assim dizer, compreensível, menos enigmático e misterioso. Vejo-O como um Pai que quer viver a aventura humana nesse Universo, que não apenas se contenta em assistir repetidas vezes o mesmo filme, mas quer, de uma vez por todas, ver o fim do Mal e da Morte. Assim vejo Deus como alguém mais envolvido, dedicado a resolver uma única e derradeira vez o problema de Sua Criação...
... Vejo-O como Aquele que, realmente, se surpreende e deleita nos bons feitos humanos, que aprecia a melodia de uma orquestra, que admira a figura do cavaleiro e seu cavalo a retumbar na colina, que se aproxima dos viajantes entorno de uma fogueira e escuta-os contando suas histórias, que realmente faz parte de um culto dedicado à Ele, que se surpreende com o que Lhe fazemos e se agrada nisso... Sim, porque esse Deus está fazendo parte, vivendo a história desse mundo. E o que há de mais nobre para o Deus que cria afim de se relacionar do que um envolvimento desse porte com a Sua Criação?
... Não se esqueça: sendo assim, Deus espera, realmente espera, que tu ore e peça, que tu O sirva de verdade e com total sinceridade, que tu faça a diferença e mude os rumos da sociedade que te cerca!!! Tua responsabilidade agora é muito maior!
Natanael Castoldi
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