De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

domingo, 28 de agosto de 2011

A Grande Mentira


A Mentira. Esse tem sido um ponto de análise importante em meus raciocínios nos últimos tempos, partindo do ponto que estou estudando A Verdade. Ao olhar para A Verdade, conseqüentemente nos tornamos mais criteriosos e precavidos com A Mentira. Como resultado dessa postura acabo desconfiando daquilo que parece bom, assim como daquilo que parece mau, e com tal desconfiança analisei a História da Igreja em seu momento mais negro: a Idade Média. Dizem que pelo fruto se conhece a árvore e, também, dizem que a Igreja Medieval foi a demonstração máxima de que o cristianismo é prejudicial, devido às atrocidades contra os hereges, ao atraso tecnológico, à manipulação e ganância. De fato, a Igreja Medieval cometeu pecados imperdoáveis, mas, pensemos: até que ponto esses pecados foram fruto de forças e pressões seculares? Até que ponto os poderes mundanos não influenciaram o eclesiástico? Até que ponto a culpa é da fé cristã e não exclusivamente dos homens?

O primeiro ponto de análise para questionar-se a posição medieval mediante a Inquisição, as Cruzadas, as Indulgências e a opressão científica e filosófica, é ver se a dita "Igreja Cristã" era, de fato, adepta da fonte prima da fé cristã: a Bíblia. À partir do momento que A Palavra ordena que o homem não mate o seu semelhante, mas que "ofereça a outra face", que o ame como, ou mais, do que a si mesmo, então toda a postura embasada em exploração, opressão e violência da parte da Igreja Medieval se vê largamente fora do padrão bíblico e, logo, constitui uma igreja não-cristã. Vê-se que a fé cristã não estimula a violência e opressão pelo fato de a Bíblia ter servido de base argumentativa para os pré-reformadores e reformadores da Igreja, como Lutero que, apenas lendo a Palavra, conseguiu encontrar 95 pontos de divergência entre a postura papal e a Bíblia. Mas, mesmo assim, a questão é: como o cristianismo pôde, como árvore, produzir uma igreja tão devassa e belicosa? Eu penso que a pergunta deve ser outra: à partir de que momento a fé cristã fora aniquilada em prol dos interesses pessoais de reis seculares e papas corruptos?! Sim, a Igreja Medieval, hoje representada pela Igreja Católica, teve um começo inocente e se corrompeu com o tempo e devido à influência de vários fatores externos.
1º) A riqueza e o poder da Igreja: o cristianismo nasceu de forma explosiva e cresceu de maneira espantosa - o que evidencia sua natureza ímpar e veraz. Não havia motivos para Constantino não aceitar a fé cristã, não oficializá-la, até porque ele mesmo reconheceu o poder do Deus cristão. Além da experiência pessoal, Constantino preocupava-se com a integridade do Império e o cristianismo estava crescendo demais para continuar sendo perseguido e evitado - o Império se rendeu. Assim que fora aceita, a fé cristã saiu de uma posição marginalizada para se tornar a religião titular do estado mais poderoso do Ocidente e, portanto, conheceu luxo e riquezas dignas de seu posto. Constantino facilitou e ampliou o poder da Igreja no Estado, além de ceder-lhe grandes propriedades e recursos, porque, diz-se, queria obter mais favores do grandioso Deus cristão, que de longe superava quaisquer deuses pagãos.
Para um povo que se via perseguido e repugnado há séculos, era maravilhosa a nova situação, de predomínio e proteção, não importavam as politicagens de Constantino e a forma de que ele usufruiria da fé cristã, não importava o que queria o salva-vidas, importava mais que a Igreja tinha sido salva do afogamento. O início da Igreja foi político, a Igreja, desde o começo -como religião romana-, exerceu grande influência política e serviu para os interesses do Império. Isso é inegável. Mas não devemos esquecer que Constantino não era um cético aproveitador, pelo contrário: provavelmente um imperador ciente da verdade cristã e com certo e bem intencionado temor de Deus. Porém esse poder, nas mãos humanas, sempre é a semente da corrupção e intolerância.
Quando o Império dividiu-se e o Ocidente começou a fraquejar, Constantino transferiu a sede a Igreja de Roma para Constantinopla, assim como transferiu a sede do poder imperial para lá, deixando Roma mais independente e sem uma boa liderança política. Igreja de Roma, mais solitária e mediante um Ocidente parcialmente esquecido pelo Imperador, teve mais espaço para crescer e comportar as necessidades de liderança ocidental - logo, se viu como a força maior do Ocidente. Quando o Império Ocidental finalmente ruiu, o único poder remanescente com capacidade para governar a região, tomada por dezenas de povos bárbaros desunidos e romanos desorientados, foi a Igreja, foi o Bispo de Roma. Como fora o Bispo o líder a defender os povos locais de outros ataques, aquele a suprir as carências e necessidades das populações romanas, o povo, por gratidão e carência, lhe atribuiu poder e domínio, se submeteu de bom grado ao seu governo.
A Igreja Ocidental, poder maior, foi quem ergueu as instituições de ensino, quem esteve por detrás de governos, quem detinha os domínios nas maiores plantações. Isso tornou-a a grande potência medieval e digna de ser paparicada pelos senhores feudais, pelos reis, que queriam favores políticos, culturais e financeiros da grande e monopolista instituição que, com o apoio dos poderes seculares, enriqueceu cada vez mais, virando objeto de aspiração de homens maliciosos que passaram a entrar no clero apenas por ganância. Então, finalmente, a corrupção, outrora da parte de um poucos, se alastrou... mas vale lembrar que até a Reforma sempre houveram remanescentes do bom cristianismo.
2º) A Igreja e a violência: o Ocidente, desprendido do Oriente e caído, sem um Imperador, passou a depender do Bispo de Roma. Então, mediante os ataques de povos pagãos, o único que era capaz, à princípio, de reunir uma força apta a proteger seus domínios e os povos dentro destes, era o tal bispo e sua Igreja. Essa necessidade de lutar, de se defender dos ataques de fora, produzira a primeira raiz de violência e frieza da Igreja Medieval contra o povo, mesmo tendo sido, originalmente, estimulada pelo mesmo.
À medida que homens mundanos entraram no clero e assumiram o papado, à medida que a Igreja enriqueceu e se expandiu, a corrupção aumentou, a ganância se ampliou, a necessidade e o anseio de ter mais e defender a propriedade se intensificou e deteve de maneira cada vez mais ríspida e violenta.
3º) Culto aos mortos: mediante os inúmeros martírios e a falta de local de culto aos primeiros cristãos, as "catacumbas" se tornaram ambiente comum de celebração, onde, à princípio, se reuniam para honrar o falecido. Isso tornou-se tão comum que, não tardando, o culto aos mortos foi semeado. Vale lembrar que os primeiros cristãos, com um legado muito próximo dos apóstolos, tendo um apreço incomparável por eles, tendiam, à medida que a supervalorização dos mortos aumentava, a dar valor extra aos corpos dos apóstolos e mártires. Disso surge o culto aos santos.
4º) A proibição da Bíblia: assim que a Igreja Ocidental tomou o poder, de fato, a Bíblia passou a ser proibida para leigos. Essa idéia, à princípio, fora bem intencionada: imagine o que você faria tendo a Bíblia mediante um público quase totalmente analfabeto e de raiz pagã - pois as investidas bárbaras promoveram o caos intelectual no Império Romano. A solução da Igreja, com o exemplo das grandes heresias do início da Era Cristã, fora evitar que o Livro Sagrado caísse nas mãos de qualquer um, possibilitando a sua análise e leitura apenas aos que decidissem, na vida clerical, ao conhecimento das letras, da filosofia, da ortodoxia. Aqui há o semear preventivo da privação mal-intencionada, para evitar rebeliões.
5º) O poder central e a tradição: mediante uma sociedade de gene pagão e sem liderança, a Igreja centralizou o poder na figura do Bispo de Roma. Afim de evitar-se o levante da cultura pagã, a tradição cristã fora imposta, como forma de proteger a cultura e as nações Ocidentais - até porque uma força belicosa colossal vinda do Oriente-Médio estava ameaçando a religião e a cultura cristã, falo dos muçulmanos. Com o tempo é que a tradição tornou-se o grande determinante da fé e o poder central quebrou as barreiras bíblicas.
6º) As imagens: à princípio a Igreja Ocidental não concordava com as imagens de escultura e pintura nas basílicas e catedrais, enquanto a Igreja Oriental as usava como memorial dos fatos bíblicos. Mas não tardou e o Ocidente aceitou essa proposta. O uso de imagens servia como lembrete aos cristãos, mas, além disso, numa sociedade quase que totalmente analfabeta, as imagens representavam de forma compreensível o Evangelho ao povo. Quando a Igreja começou a evangelizar os povos germânicos, em especial, aproveitou dos ídolos pagãos para se inserir mais facilmente, mudando os nomes destes, cristianizando-os, da mesma forma, as imagens facilitaram a adesão dos bárbaros ao cristianismo pelo fato de serem extremamente comuns em sua cultura pagã. Essa estratégia de evangelização, porém, semeou um irremediável sincretismo religioso e, logo, a adoração dos ídolos - pois os pagãos continuaram adorando as imagens, como antes faziam. Outro fator foi a confecção de imagens dos santos martirizados, que, ao lado do culto aos mortos, promoveu idolatria nessa área.
7º) Corrupção e hipocrisia: outra alegação dos céticos contra a fé cristã está na hipocrisia e corrupção dos cristãos, o que, de fato, ocorre e sempre ocorreu desde que a Igreja Primitiva tornou-se a Igreja Romana, porém, não tem aval bíblico. A questão é que essa ofensa é generalizada, sendo que nem todos os mosteiros eram corruptos e hipócritas. A idéia de mosteiro veio, por sinal, como forma de prevenir os monges do contato com o mundo secular e seus prazeres, isolando-os em comunidades auto-suficientes, para levarem uma vida de estudos, trabalho braçal e oração. Outros inúmeros monges decidiram pela vida eremítica, afim de viver apenas de Deus.
O problema é que, com o tempo, o fervor desses monges se perdia mediante a calmaria e o ritual e alguns acabavam, pelos instintos aflorados, cedendo às tentações, aqui entra o homossexualismo. Mas não se pode generalizar.
Com o tempo alguns mosteiros começaram a produzir mais do que consumiam, então, para ampliar o sustento, passaram a vender seus produtos. Nisso alguns enriqueceram grandemente e começaram a se envolver muito mais no comércio do que a proposta inicial permitia, logo, se envolveram mais com as cidades e com a política. A superprodução de alimentos e enriquecimento seduziram alguns, que caíram na gula ou ganância. Repito novamente: o enriquecimento dos mosteiros foi estimulado por uma sociedade inteira que os prestigiava e queria favores espirituais e, tal enriquecimento atraiu, do mundo secular, inúmeros homens mal intencionados, que procuravam uma vida de calmaria, fartura e poder. Esse homens, sem chamado para o serviço, apenas interessados no lucro, logicamente se corromperam, pois nunca deixaram de ser corruptos, e isso levou ao adultério e exploração. Não tardou e alguns papas eram homens assim.
Nessa época também era costume, em alianças políticas, que o filho de um rei se casasse com a filha doutro e, muito provavelmente, vários reis interessavam-se em ter suas filhas, mesmo que na surdina, envolvidas com um poderoso sacerdote cristão, o que lhes garantiria privilégios. A Igreja não se corrompeu sozinha, a sujeira veio de fora e com total apoio da sociedade. Enquanto a Igreja se corrompia, a proibição da Bíblia aos leigos tornou-se uma arma para evitar que a hipocrisia se tornasse conhecida pelo povo.

A Igreja sob o domínio secular: de fato, a Igreja começou pura e sem mácula, tendo em mente o vívido chamado de Cristo e o fervor apostólico, porém, ao receber o poder do Imperador, também teve de se submeter à ele e como se sabe Constantino não era um cristão dos mais exemplares. Desde então valores antibíblicos começaram a ser inseridos na doutrina cristã. No Oriente a Igreja se manteve controlada, mas no Ocidente, após livre do jugo Imperial, a própria Igreja tomou o papel de imperatriz - sendo a força maior em meio a uma imensa colcha de retalhos tribal, mediante um povo analfabeto e inculto, tendeu a se corromper mais facilmente, pois era mais fácil dominar nesse ambiente. Uns de dentro se corromperam e muitos corruptos de fora entraram no clero e, por fim, a Igreja se viu quase totalmente secularizada... o "mundo" a tinha conquistado, mas ela ainda continuava autônoma, a força maior da Europa... até o cenário político mudar.
No início da Idade Média as novas nações bárbaras eram pequenas e desunidas, mas, ao longo do tempo, algumas começaram a se sobressair e obter poder. Um desses reinos foi o Franco, governado pelo imperador Carlos Magno, responsável por promover uma boa reforma na Igreja e, também, o primeiro que teve condições de exigir a liderança da Igreja nas extensões de seu império, ou seja: ele, e não o papa, seria o líder religioso imperial. Nesses dias o papa Leão III, difamado por má conduta, foi destituído do poder por aristocratas romanos e estava sob ameaça de morte, mas Carlos o salvou e o libertou, possibilitando-o de continuar exercendo o papado, mas apenas sob a sua liderança. A história se desenrola à partir disso, mas é daqui em diante que o papado mergulha definitiva e profundamente na política e passa a disputar com mais fervor o poder com imperadores e reis.
Com o tempo o poder papal passou a sofrer interferências cada vez maiores dos poderes seculares, que viam na Igreja uma fonte de poder ou uma inimiga. Um detalhe interessante é que os poderes seculares conseguiram interferir de tal forma na Igreja que, com imensa pressão, uma família de nobres romanos conseguiu colocar um rapaz de 18 como papa, João XII, afim de angariar mais poder para si. Nesse caos alguns papas também foram assassinados, como Leão V, João X e Estêvão VIII.
O tal de João XII, que não tinha nenhuma aspiração eclesial, moveu-se por interesse e fez com que a Igreja caísse ainda mais nas mãos do mundo secular, por exemplo: quando o rei alemão Oto I conseguiu vencer os magiares, exigiu o titulo de imperador do Sacro Império Romano e João XII logo lhe ofereceu, com o intuito de que esse poderoso rei lhe salvasse das garras de seus inimigos italianos. Nessa época o imperador do Sacro Império dominava o papado, escolhendo ou retirando os papas que lhe convinham segundo seus interesses - fica evidente que a Igreja era uma ferramente totalmente secular nessa altura, pois o imperador era superior aos papas e escolhia, como lhe parecia melhor, quem ocuparia o cargo papal. Tudo se resumia, por fim, em poder, controle, riquezas. A Igreja se corrompeu, mas o mundo secular a subjugou e depravou ainda mais. Não tardou e a Igreja se levantou numa espécie de reforma.
Um dos papas reformadores foi Gregório VII, que reclamou para si o poder absoluto sobre tudo e todos, pois revitalizou a idéia de ser sucessor do apóstolo Pedro. Dessa forma, Gregório comprou briga com os principados seculares. O imperador romano-germânico, então, levantou-se em oposição, mas logo foi excomungado pelo papa e perdeu muito prestígio, implorando o perdão papal, que lhe foi concedido, mas, uma vez perdoado, tomou o controle da Igreja Alemã e, ignorando outra excomunhão, expulsou Gregório de Roma e o exilou no sul da Itália.
Aproximadamente um século depois de Gregório, outro papa soberbo tomou o poder, Inocêncio III, considerando-se o monarca papal de toda a Europa Ocidental. Depois de tomar uma série de medidas, Inocêncio subjugou os grandes príncipes europeus. Nesse clima totalmente depravado é que são lançadas as Cruzadas, ao lado disso a Igreja começou a cobrar altos dízimos. O jogo político prosseguiu.
Vou pular para Bonifácio VIII (1294-1303), algumas décadas depois de Inocêncio. Tal papa colocou as pretensões papais no limite e almejou um poder que exacerbava as suas condições. Com esse espírito, Bonifácio desafiou o rei Filipe IV, da França, questionando de quem era o poder da igreja galicana. Filipe não temeu e tratou, pela força militar, de desafiar, prender e humilhar o papa. Tal rei, agora com o domínio sobre a Igreja, procurou eleger o francês Clemente V como papa e transferiu a sede papal de Roma para Avignon, onde, rodeada pela França, seria mais cuidadosamente vigiada e orientada pelo rei francês. A Igreja, agora sob o domínio francês, foi usada pelo rei como arma para assegurar o domínio da França como potência máxima da Europa na época, o que prejudicou os cristãos de outras nações.
Pulando o Cisma do Ocidente, vamos para os papas da Renascença, no século XV: adequando-se às novas visões de mundo e doutrinados pelas ideologias da época, vários papas secularizados, sem fervor religioso, tomaram o poder. Pio II, Inocêncio VIII, Alexandre VI, Júlio II e Leão X eram homens talentosos, bem educados, afinados com as novidades do mundo, mas pouco religiosos. Foi no cenário que se construiu à partir disso que a Reforma Protestante tomou forma.

Bom, agora me diga: o problema, de fato, foi o cristianismo?! A falha é da Bíblia, do movimento iniciado pro Jesus?! Ao que me parece, o grande problema foi humano, totalmente humano!! A Igreja Medieval virou uma ferramente política e isso não foi culpa apenas da Igreja, isso foi trabalho, também, das potências seculares, que a pressionaram e obrigaram a trabalhar em prol de seus interesses. Agora eu pergunto: o cético, o homem mundano, tem grande moral para criticar a instituição medieval, alegando o problema ser do cristianismo? De forma alguma! Ele também deve se envergonhar, como se envergonham os cristãos de hoje, pela postura da Igreja Medieval simplesmente porque se não fossem as forças seculares infiltrando-a, as coisas não teriam sido assim! Os cristãos e não-cristãos europeus são os culpados.
Os bons cristãos: dentro da Igreja Católica também temos ótimos exemplos de cristãos verdadeiros, bíblicos, o que prova que o problema não era no cristianismo. Vou começar falando de Francisco de Assis (1182-1226): motivado pelo chamado das Escrituras em Mateus 4, o abastado filho de comerciante largou tudo entorno dos vinte anos e saiu de casa afim de viver de forma pobre e itinerante ao lado de alguns amigos. O grupo passou a mendigar com os ricos e ajudar os pobres, enquanto cuidava dos doentes e pregava a tantos quantos podia. Francisco dizia aos seguidores: "O reino dos céus está próximo. Curai enfermos, purificai leprosos, expulsai demônios. De graça recebestes, de graça dai." Os monges mendicantes, chamados de frades, logo formaram uma nova ordem monástica, mas peculiar, diferenciando-se dos outros monges, que isolavam-se do mundo em mosteiros, os franciscanos preferiam estar no mundo para fazer brilhar a todos a excelência cristã, eles queriam levar a fé às pessoas comuns.
Francisco dedicou quase toda a vida cuidando pessoalmente dos pobres nas cidades que floresciam na Itália medieval. O detalhe é que Francisco, antes de morrer, alertou os seus seguidores de que em breve seriam tentados pelos poderes mundanos e, ironicamente, após sua morte, uma imensa basílica foi erguida em sua homenagem na cidade de Assis. Clara, uma amiga de Francisco, também fundou uma ordem, mas essa era feminina, cujas freiras chamavam-se Clarissas.
Os franciscanos tiveram importante papel missionário, enviando frades para o Oriente-Médio, Europa Oriental, Norte da África... e, mais tarde, alguns chegaram até a Índia, Ásia Central e China.
Inácio de Loyola (1491-1556): nascido no País Basco, Espanha, tinha um futuro promissor como cavaleiro, soldado, mas, aos 30 anos, sofreu com o impacto de uma bola de canhão. Fraturado, após um tempo converteu-se ao ler um livro sobre Cristo e outro sobre os santos, então resolveu tornar-se soldado, dessa vez, de Deus. Decidiu estudar latim e cursar na Universidade de Paris, onde, ao reunir alguns outros estudantes para formar um grupo cristão, formou uma nova comunidade, disposta a trabalhar para o papado, mas regrada pelos votos de pobreza, castidade e obediência. Essa comunidade, aprovada pelo papa, foi chamada de Companhia de Jesus, os jesuítas. Essa ordem missionária fundou colégios e conventos em toda a Europa, na América do Sul e até no Japão.
Nessa história temos Francisco Xavier (1506-1552), amigo de Inácio e seu fiel seguidor, que, após converter todos quantos podia em sua terra, decidiu viajar pelo mundo proclamando o Evangelho, visitando a índia, Sri Lanka, Malásia e Japão - morreu enquanto planejava ir para a China. A estratégia dos jesuítas nessas nações era garantir a conversão do governador para que ele mesmo providenciasse a cristianização da nação. Há eventos épicos na história dos jesuítas, como a Guerra Guaranítica, na qual se uniram com os indígenas para enfrentar as coroas da Espanha e Portugal.
Não podemos esquecer dos pré-reformadores, de berço católico, mas que, descontentes com a postura da Igreja no auge de sua corrupção de ceticismo, se levantaram na tentativa de reformar a instituição. Eis alguns que se levantaram - a maioria, senão todos, foram martirizados por isso: Thomas Bradwardine, Gregório de Rimini, John Wycliffe, John Huss, John Hessel, Jan Hus, Jerônimo de Savonarola e Desidério Erasmo. Na seqüência temos os reformadores, como Lutero, Calvino, Zwínglio... Se a Igreja Católica estivesse certa, se o cristianismo dela fosse verdadeiro, então não precisaria de reformas, então ninguém se levantaria com a Bíblia na mão alegando que algo estava errado. Se a Igreja Católica estivesse totalmente depravada, não teria sido o berço dos pré-reformadores e dos reformadores. Mas é claro que, mesmo que a proposta inicial de Lutero fosse pacífica, a Igreja Medieval, mais secular do que cristã, não ficou em silêncio e, portanto, tomou armas para a guerra. É na Contra-Reforma que as atrocidades e privações da Igreja Católica se ampliam.
A desonestidade da oposição: existe uma coisa nessa história de que os protestantes devem se envergonhar e pedir perdão: o exagero. É lógico que os reformadores estavam eufóricos com a Reforma e extrapolaram um pouco em suas atitudes, mas isso não justifica o exagero de suas acusações contra a Igreja Medieval, criando uma imagem terrível para o cristianismo que perdura até hoje.
Henrique VIII (1491-1547) decidiu se desvencilhar do poder romano, afim de justificar seu anseio por divorciar-se de Catarina de Aragão. Enfurecido com a postura do papa e incentivado por Thomas Cromwell, ele começou a atacar frontalmente os mosteiros ingleses, que eram considerados os pilares centrais da tradição católica, mas, ainda, eram atrativos pelo fato de que detinham muitas terras e riquezas que o rei poderia confiscar. Henrique, então, num único golpe, conseguiu fazer transbordarem os cofres ingleses e derrubar os centro do poder católico inglês: Thomas tratou de nomear uma comissão pata investigar os mosteiros e em pouco tempo conseguiu reunir pilhas de relatórios sobre corrupção financeira, espiritual e sexual, que, entregues à Coroa, obrigaram os mosteiros menores a entregar tudo o que tinham ao rei - não tardou e os mosteiros maiores também o fizeram. Com as riquezas Henrique comprou o apoio da nobreza e formou a igreja inglesa, a Anglicana, da qual ele era o líder máximo. O detalhe é que nem todos os mosteiros destruídos eram corruptos: muitos relatórios eram questionáveis, duvidosos, e fizeram com que muitas instituições excelentes e valorosas fossem irremediavelmente destruídas, com suas terras e comunidades arrasadas e dispersas, fazendo a Inglaterra perder um inestimável patrimônio espiritual, cultural e arquitetônico.
O Iluminismo foi outro grande destruidor de mosteiros, o século XVIII foi terrível para a Igreja Católica. Começamos com Maria Teresa, arquiduquesa da Áustria, que tratou de limitar os privilégios clericais. Seu filho, José II seguiu o exemplo da mãe, levando a política iluminista mais a sério: confiscou bens monásticos sem o conhecimento do papa e aboliu todas as casas monásticas que não tinham uma função "útil", ou seja, que fossem voltadas à vida espiritual. Essa postura levou ao fechamento de cerca de 400 mosteiros no império e uma perda de aproximadamente 40.000 monges e monjas. A Igreja da Áustria, porém, sofreu pouco se comparada à Igreja da França revolucionária.
Antes da Revolução há pouca evidência de que a Igreja francesa era demasiado corrupta e, tampouco, que estava em declínio, porém os franceses já começavam a frequentar menos as igrejas, estimulados por "livres-pensadores" céticos. O monstro foi crescendo, adormecido, e quando a Revolução estourou em 1789 um intenso movimento anticlerical se alastrou com violência.
Não demorou e o governo francês confiscou e vendeu as terras da Igreja e atacou todas as ordens religiosas mendicantes e contemplativas. Os mosteiros que tinham algum fim "útil" puderam persistir, mas mais nenhum cidadão poderia fazer votos monásticos, ou seja, esperava-se que todos os monges morressem de velhice e os mosteiros sucumbiriam. A brutalidade contra a Igreja aumentou, conforme a Revolução se intensificou, fazendo fugirem do país algo entre 30 e 40 mil monges - dos que ficaram, milhares foram assassinados. Em 1795 a liberdade da Igreja começou a retornar e os católicos franceses puderam voltar a ir à missa, que reiniciou em residências particulares e ministrada por sacerdotes vestidos com roupas leigas. Mas isso durou pouco, o Diretório francês logo retomou a política antirreligiosa e a impôs aos países sob o domínio da França: Itália, Suíça, Renânia e Bélgica. A República Cisalpina, norte da Itália, dissolveu seus mosteiros e a República Romana proibiu-os, porém o catolicismo ainda tinha forças: levantes populares se consumaram na Bélgica, Suíça e Roma, pedindo o retorno da religião. - Detalhe para os movimentos populares pedindo a religião católica.
A Espanha, em 1820, também tentou derrubar a Igreja Católica, fechando os seus mosteiros e expulsando as suas ordens religiosas. Enquanto isso, na Rússia, Nicolau I fechou cerca de 500 mosteiros.

Perceba: os céticos lutam contra a Igreja atual atacando a postura da Igreja do passado... mas será que eles têm moral para tal? Parece-me que os movimentos antirreligiosos do período iluminista foram tão brutais quanto fora a Igreja Medieval... E nem vou falar do que os regimes "não-religiosos" fizeram, como o socialismo russo, o comunismo chinês, o totalitarismo de Hitler... Mas o pior de tudo é que os levantes contra a Igreja foram movido à puro ódio e ganância, pois as alegações contra os mosteiros foram, nalguns casos, muito forçadas.. e, de repente, o mundo secular, que fez os mosteiros enriquecerem, foi aquele que os aniquilou por serem ricos. O fato é que os mosteiros foram importantes e tiveram um papel fundamental no mundo medieval.
A importância dos mosteiros: a origem dos mosteiros vem com a idéia de os homens da Igreja se isolarem do mundo secular e se dedicarem ao serviço, ao estudo e à oração. Esses poucos homens letrados da Europa Medieval, raridade no continente outrora dominado pelas forças pagãs, por legiões de homens analfabetos e incultos que destruíram, sem pudor, as bibliotecas, instituições de erudição e museus romanos, foram essenciais para a sobrevivência dos documentos da antiguidade clássica, imortalizando as obras de filósofos e escritores gregos, alexandrinos, romanos... ou você pensa que os povos bárbaros teriam dado algum valor à eles, de cultura que desconheciam?
Nos mosteiros os monges também desenvolveram a literatura, a música -começaram a combinar instrumentos e criaram o canto gregoriano- e até mesmo o teatro. A arte foi, sim, trabalhada nessas instituições, ou você pensa que os povos bárbaros tinham um alto nível de dons artísticos?
Como, mediante vários povos sem estrutura, a Igreja era a instituição máxima, ela passou a exercer quase todo o papel educacional, fazendo dos mosteiros verdadeiras escolas, onde os bispos transmitiam o conhecimento da época. Dos mosteiros, logo veio algo maior, fruto do pensamento cristão medieval: as universidades, que se anexavam às catedrais. As universidades mais famosas do período foram fundadas em Paris, Bolonha e, mais tarde, como conseqüência, Oxford e Cambridge. Todos os fundamentos originais da ciência vieram dos estudos desenvolvidos nas universidades medievais - iniciativa cristã.
As ordens monásticas tiveram um papel importantíssimo também na criação de escolas, hospitais, asilos e abrigos para os pobres. As instituições monásticas eram reconhecidas por sua hospitalidade para com toda a espécie de viajantes.

Pense um pouco: de onde veio a explosão científica após a Reforma Protestante? Os cientistas que surgiram subitamente após a reforma foram criados sob o regime católico medieval, educados em suas instituições de ensino, formados dentro desse sistema. O que isso indica? Indica que, apesar de lento, o progresso do conhecimento existia na Idade Média. Me diga onde estavam as raízes da literatura, da pintura, da música, do teatro renascentista... é lógico que o movimento tentou recuperar ideais greco-romanos, mas a sua semente foi medieval, muitos de seus intelectuais e artistas vieram de berço medievo! O detalhe, também, é que os ideais greco-romanos recuperados no Renascimento só puderam ser conhecidos e reutilizados porque os monges medievais perpetuaram os documentos e a cultura antiga. Eu creio que muito da culpa que os céticos e protestantes de hoje jogam sobre a Igreja Medieval, quanto às trevas do conhecimento e da arte, na verdade, não era totalmente da Igreja, mas muito mais dos bárbaros, que arruinaram o mundo greco-romano e encheram a Europa com analfabetismo e precária infraestrutura.
Noutro dia li algo que um ateu falava com fervor: uma pesquisa recente identificou que o ateísmo é maior em países desenvolvidos e, que, por isso, o ateísmo significa desenvolvimento e a religião, atraso. Eis o problema: o ateísmo é um fenômeno relativamente recente e está se desenvolvendo dentro de nações que se alicerçaram, desenvolveram e enriqueceram dentro de uma cultura cristã! O ateísmo não é sinônimo de desenvolvimento, ele é sinônimo de branco europeu... por que? Pense bem: quantos ateus que não sejam descendentes de europeus você conhece?! A verdade é que o europeu é mais inquieto em relação à verdade e procura a todo custo respostas, enquanto outras culturas apenas aceitam a herança que receberam. Outro detalhe é que o ateísmo cresce nos países desenvolvidos porque o povo abastado tem uma tendência maior de achar Deus desnecessário, pois não sofre. No final, contata-se: desenvolvimento é conseqüência do cristianismo e o ateísmo e conseqüência do desenvolvimento.
As ordens de cavaleiros: creio que também há imensas precipitações dos céticos e protestantes nessa questão, por isso vejo ser interessante comentar algo.
As Cruzadas formaram várias ordens de cavaleiros, sendo consideradas ordens monásticas. Uma das mais antigas ordens é a dos Cavaleiros Hospitalários, que foram fundados para cuidar de peregrinos doentes e de cruzados feridos, mas, logo, aderiram à guerra. Outra ordem é a dos Cavaleiros Templários, criados para proteger Jerusalém e a Terra Santa dos muçulmanos e, para tal, construíram vários castelos e fortalezas na região, tornando-se excessivamente ricos. Porém foram dissolvidos após acusações do rei Filipe IV, da França, alegando homossexualismo e necromancia da parte deles - alegações baseadas em provas extremamente frágeis. Outra ordem foi a dos Cavaleiros Teutônicos, fundada como um hospital feito de tendas, afim de servir os peregrinos alemães no porto de Acre, mas logo assumiu caráter militar.
Bom, não creio que seja necessário prosseguir na argumentação, todos já sabem dos feitos gloriosos dos missionários cristãos dos últimos séculos, sendo os primeiros a se deparar com povos selváticos e a convertê-los. Todo mundo sabe do papel valoroso da Igreja em clínicas de dependentes químicos, orfanatos, asilos, escolas para pessoas com deficiência mental, crianças carentes, criminosos em presídios... A minha intenção nessa postagem não é dizer que a Igreja Medieval foi santa e pura, pelo contrário, ela foi satânica, mas, também, quero deixar claro que sempre existiram pessoas realmente fiéis, que as acusações contra a Igreja Medieval são, muitas vezes, desonestas e precipitadas, que o cristianismo não é falho, mas, sim, que falho é o homem. Nós protestantes, ajudamos a difamar mais do que de fato foi a Igreja Medieval como forma, também, de mostrarmos que ela estava errada, mas sejamos honestos e não compactuemos com todas as acusações que os céticos lançam, pois mal sabem eles que foram as forças seculares que mais depravaram a Igreja - a sujeira não veio de dentro dela, mas de fora. O problema dela não foi o cristianismo, foi o secularismo que a dominou.
Por fim, mais uma vez concebo: a Igreja, a Noiva de Cristo, é imaculada, pura e bela, pois nem tudo o que se diz igreja é de Cristo e a que é de Cristo vai segundo a Palavra - e sempre há aqueles que são cristãos de fato. Devemos cuidar, como Igreja, para não cometermos o mesmo erro que foi cometido na Idade Média: não nos deixemos levar pelo poder, não nos deixemos levar pelas forças mundanas, não deixemos que o sincretismo se abata sobre nós... pois há igrejas por aí que estão adorando velas, vassouras, sabonetes, martelos, pastores, construções, dinheiro, demônios. Nessa questão eu falo da necessidade de outra reforma protestante, uma nova reforma, mas não proponho isso com base no desejo de destruir o que existe, de mudar tudo, apenas creio que precisamos varrer, mais uma vez, a imundície que está sendo lançada para dentro dos templos - pois a Igreja precisa, volta de meia, de uma varrida.
No mais, fica a minha sugestão para, como protestantes, pensarmos em dar algum crédito aos católicos, pois eles se dizem cristãos também e, portanto, temos lutas comuns, causas comuns, principalmente em tempos como os que vivemos, onde se levanta o homossexualismo, o feminismo, a libertinagem... Não seria melhor se nós, protestantes, gritássemos com o mesmo poder que o papa contra o Movimento Homossexual, o aborto e outras questões complicadas? Não seria melhor se gritássemos junto com ele?! Convenhamos, enquanto falamos mal da Igreja Católica, ela está sendo mais positivamente efetiva em questões polêmicas e relevantes do que nós, que mais queremos, ao que parece, encher os templos.
Base: livro "Os Cristãos", Tim Dowley. Editora Martinsfontes.

Natanael Castoldi

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2 comentários:

  1. Opa!!
    Vlw, fico feliz com o comentário =D, infelizmente tu leu antes de eu corrigir os erros gramaticais HUAHAUAHUAHUA XD
    Abraço!

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