O Conquistador

Estava eu, alguns dias antes da páscoa de 2009, ouvindo o padre da cidade a falar sobre a Sexta-Feira Santa. Ele, pensando que não havia nenhum "não-católico" na sala de aula, começou a engrandecer as idéias católicas por sobre o protestantismo, dizendo que "os católicos tiram alguns dias do ano pra lembrar de Jesus (quaresma) e um, em especial, para não pecar, ao contrário dos 'outros'". -Segue a música de batalha do filme Gladiador, cuja personagem e clima condizem com o que quero transmitir-

Deixei-o falar, sem problema, mas quando terminou, pedi a palavra. Não falei muito, mas o suficiente para deixar claro que ele não poderia fazer a cabeça de meus colegas contra o protestantismo assim tão facilmente. Disse que nós, protestantes - ou cristãos, já que nós não somos politeístas (santos, papa...), como "eles"-, não gostamos de lembrar exclusivamente de Jesus em seus momentos mais vulneráveis, que não tiramos apenas duas datas anuais para falar dele, não precisamos de um natal para lembrar de um bebezinho...

... frágil ou da Sexta Santa para vê-lo crucificado.

Nós falamos mais de Jesus em pleno seu ministério, forte, liderando os 12, pregando à milhares, fazendo milagres. Gostamos mais de ver Jesus fora da manjedoura e da cruz, lembramos dele ao longo do ano, não só na datas que nos remetem ao seu nascimento e morte.

Eu acho estranha essa imagem que foi criada para Jesus em nossa sociedade. Alguns ainda o tratam como se estivesse, há quase dois mil anos, pendurado na mesma cruz em agonia, outros ainda cantam "POBREZINHO, nasceu em Belém!" A imagem chorosa, melancólica, pálida, delicada e raquítica que se disseminou pelo Ocidente tornou a visão de Jesus algo nada imponente, frágil, digno de pena, como se fosse uma vítima ingênua da decadência humana, como se tivesse vindo ao mundo sem ter o devido conhecimento e caído numa armadilha!

E sua imagem crucificado? O tornam ainda mais frágil, morrendo com um único filete de sangue a descer pelas costelas...

Uma verdadeira heresia é acreditar que Maria manda e Jesus obedece, que "rezando" pra tal santa, ela vai influenciar Deus a ajudar o fiel.

Maria é criação do Pai e agora está no Paraíso, sem contato algum com a Terra. Maria não é "mãe de Deus"! Nunca!! Maria não mais segura o "menino Jesus" no colo! ...

... Essa deturpação vem junto com aquelas figuras angelicais de bebezinhos pelados com asas minúsculas...

...Que falta de temor!! Se parassem pra pensar com sobriedade e razão... Tudo mudaria.

A visão de Jesus está em demasia deturpada na sociedade em que vivemos, eu me enojo com isso, é terrível! A verdade é que o Filho do Homem não tinha nada de pobrezinho e ingênuo. Poxa, ele já existia quando foram formados os fundamentos da Terra, presenciou a queda dos anjos, a queda do homem, o dilúvio, o nascimento de Israel... Ele é parte da Trindade! Desceu ao mundo como um conquistador, o Leão de Judá! Não um pobre e afeminado homem! Jamais!

Assim que pisou na Terra consumou dezenas de profecias milenares, sua vida foi marcada por batalhas espirituais ferrenhas, feitos grandiosíssimos, sua missão alarmou governadores, sua vida dividiu a história, sua obra mudou o mundo de forma incomparável! O movimento iniciado à partir de sua pessoa e suas palavras moldaram política, cultura e a postura humana. O reflexo de seu trabalho era tão visível há dois milênios quanto hoje é!

Foi Jesus que consumou a profecia que fez Deus não destruir a humanidade na Queda: pisar na cabeça da Serpente, de Satanás. Também não podemos esquecer que Jesus ficou 40 dias caminhando pelo deserto sem comer e sendo tentado, sem sucesso, pelo próprio Pai da Mentira...

...Jesus pisou numa terra dominada pelo Maligno, adentrou o Império de Satanás, vemos isso no versículo em que Satanás lhe oferece todos os reinos da Terra em troca de aceitar se submeter à ele.

Jesus desafiou uma tempestade retumbante no Mar da Galiléia...

... com uma palavra expulsou uma legião de demônios de um homem, com um toque de fé em suas vestes, uma mulher curou-se de hemorragia... Ele, como homem, foi imensamente poderoso, cheio do Espírito.

Mas não era forte só espiritualmente, tinha vigor físico, sem dúvida.

... Viajou por Israel e por Judá caminhando, expulsou os vendedores do Templo, resistiu por longas horas a uma tortura incomparável nos momentos que antecederam e compreenderam o Calvário.

Sua morte entristeceu Deus de forma a escurecer como noite o dia, fazer cair um temporal, rasgar o véu e ranger os fundamentos do Templo.

Imagine a retumbância espiritual que a vinda do Deus Filho causou nesse mundo, o quanto alarmou as dezenas de milhares de demônios! Jesus veio e desafiou um mundo inteiro, veio como um guerreiro, como um conquistador!

... Nunca como vítima!! Ele sabia o que iria enfrentar e o fez, suportando, com lágrimas de sangue, uma pressão absurda, carregando o jugo do pecado de toda a humanidade. Isso é absolutamente grande, isso é uma demonstração incontestável de seu poder, de sua força!

Essas verdades deveriam criar algum senso de temor e gratidão na sociedade, o problema é que preferem se apegar à tradições e mentiras há muito contadas do que à Palavra. Se a visão de Jesus se aproximasse mais ao que realmente foi, ninguém ousaria lembrar dele apenas em seus momentos mais vulneráveis, apenas duas vezes ao ano e, depois da Sexta Santa, pecar à vontade! Pensam que Deus é o que? Cego, manipulável? Que falta de vergonha...

Que continuemos nós a preservar uma imagem sóbria do Pai e do Filho. Que valorizemos a vida toda de batalhas incessantes que Jesus travou por nós nesse mundo, em especial seus três anos (seu ministério) intensos de guerra contra o Maligno e contra o pecado de toda a humanidade, o que resultou na nossa salvação eterna!

Natanael Castoldi

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