Hei, cristão, como vai a tua vida? Confortável, sentado numa boa, na tua poltrona de marfim (Amós 6)? Comendo bem e até demais? Amigo de tudo de todos? Em paz com o mundo? Um pouco amigo da igreja, um pouco do mundo? O culto só às vezes, pra estar de bem com Deus e pro pastor não incomodar? Um pecadinho aqui e ali, pois "Deus perdoa"? Tudo na mordomia e tranqüilidade? Se assim for, deve estar muito boa... e muito pouco cristã, porque, leitor, a vida cristã não foi projetada para ser boa, principalmente no sentido de fartura e comodidade.
Existem dois crivos fundamentais para que se saiba, sem erro, se o que tu presencia por aí nas igrejas é cristianismo ou não e estes dois crivos, infelizmente, não trabalham com o mínimo de paz, descanso e fartura: o cristão de fato É perseguido, oprimido pelo "mundo" -1Tessalonicenses 3:3 e 2Timóteo 3:12 (Salvos pela dor); o cristão de fato promove boas obras, produz bons frutos, abre mão do que tem para dar ao que não tem, seja o que e como for, Tiago 2 ("Anticristianismo cristão"). A questão, no fim das contas, é o teste de caráter e é nisso que o cristianismo se diferencia largamente de todas as religiões: meros rituais não te aproximam de Deus, você precisa ser coerente, precisa colocar o coração naquilo que faz - é aqui que se encontra o único Deus, o mais sóbrio de todas as religiões: Aquele que não é cego, que não é comprável, que não é manipulável, que não é bobo.
Leitor, a Bíblia é muito clara: você precisa amar, amar teu Deus e amar os próximos e isso te obriga, sim, a deixar Deus ser teu dono e prostrar-se como servo aos que vivem ao teu redor -Marcos 12:30-31. Analise o poder das palavras de Cristo:
Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.
Você percebe? Amar a Deus de TODO O CORAÇÃO, sendo Ele teu ÚNICO senhor -até porque ou Ele o é, ou não está em ti-, amá-Lo com todas as forças e todo o entendimento. Tamanha entrega a Deus vemos raramente nas igrejas de hoje, então é que pergunto o quanto das igrejas de hoje ainda temos como cristãs de fato. A questão é que esse primeiro mandamento induz à perseguição, pois nós, ao servirmos Deus com todas as forças, que o "mundo" odeia e quer destronar, conseqüentemente nos tornamos objeto de ódio para os mundanos, pregando o que não querem ouvir, tampouco aceitar.
Amar o próximo como a mim mesmo implica em total dedicação para o bem dos que cruzam meu caminho, seja no auxílio financeiro ou noutras formas de sustento, seja em conselhos, seja em oração, seja em serviço e, principalmente, na distribuição daquilo que temos de mais precioso: a Boa Nova. Se eu estou salvo em Cristo, isso me conforta e me alegra, então por que me envergonhar de divulgar esse amor? Temer ou não desejar transmitir o incalculável amor de Cristo mostra o quão terríveis somos e o quanto menosprezamos a eternidade daquele que está próximo. A vida do cristão deveria ser voltada quase que exclusivamente para a transmissão e defesa do Evangelho, senão, por que Deus nos teria colocado no meio desse mar de mortos?! Para vivermos por nós e pelas riquezas e conforto, logicamente não. Assustadoramente traiçoeiro e frio é o cristão que, mediante esse mundo de mortos, vive para si! Esse só é cristão de nome e está tão morto quanto os que não conhecem a Verdade -pois é pior conhecê-la e não segui-la do que não ter acesso à ela.
O chamado de Cristo, amigo, não é para vida nesse mundo, é para Vida Eterna, já que é no céu que viveremos de fato. Não digo que nesse mundo não devemos desejar uma vida, na medida do possível, boa, mas não é para buscarmos boa vida terrena que aqui estamos, isso, se nos entregarmos por completo a Deus, Ele mesmo o fará, se assim desejar. O fato é que o nosso chamado nesse mundo é de privação, de batalha, o cristão precisa diminuir em si, diminuir como criatura, para que Deus cresça. O cristão precisa lutar contra si mesmo, enfrentar sua natureza carnal, enfrentar suas vontades, enfrentar seu orgulho, enfrentar o desejo de desistir da luta e viver de mordomias. O cristão não vive para si, por isso não busca a vida nesse e para esse mundo, o cristão vive para os outros, deixando-se morrer fisicamente, degenerar-se, sacrificar-se em prol do constante plantar de Vida Eterna no solo incrédulo, pois o cristão verdadeiro considera-se menos importante do que a Obra, menos importante do que os caídos, menos importante do que Deus, menos importante do que a Palavra! O cristão não se contenta em ter uma vida com Deus, ele precisa ter uma vida com Deus, mas, também, uma vida dedicada aos próximos -de qualquer forma, é impossível ter vida com Deus de fato e não ter vida a transbordar para os outros. No final das contas, o verdadeiro cristão, mesmo que faça muito, perceberá que não faz tudo o que pode mediante o tamanho de sua missão aqui, mediante a importância de seu trabalho. Estou sendo radical? Utópico? Não... por mais difícil que seja ser assim, essa é a dura realidade e é assim que deveríamos ser depois de criarmos vergonha na cara. A vida dedicada à LUTA, à CAUSA!
Existem dois pontos importantes a serem comentados aqui. O primeiro fala da privação em si: nós não devemos nos considerar donos de nós mesmos.
A Privação
O conceito é simples: você conhece a Verdade -ela é a única resposta para a Vida Eterna- e um mundo inteiro de cristãos e não-cristãos não a conhecem de fato e, portanto, estão caminhando ao Abismo. Essa Verdade é clara: você precisa divulgá-la aos caídos. O que fazer? Dedicar a vida e as forças para isso, pois não há nada mais nobre, urgente e importante do que isso para ser feito. Se você realmente crê em Deus, por que não dedicar-se por completo a Obra?! Deus lhe proverá sabedoria para administrar essa situação.
Lendo os Livros Proféticos, Antigo Testamento, percebi uma coisa: Deus, muitas vezes, te levará ao extremo em nome dEle, porque, afinal, tua vida, já salva, é menos importante do que a vida de milhares de incrédulos que pode atingir. Há três exemplos fortíssimos de privação em nome da mensagem de Deus: Jeremias, Ezequiel e Daniel. Estes foram profetas para Judá, profetizando a queda de Jerusalém pelos babilônios, assim como o retorno do Exílio e a restauração. Sua mensagem era urgente demais para que a proferissem com cautela e temor.
Jeremias: ele foi o profeta mais castigado, desprezado e perseguido, mas, devido à tanta pressão, tornou-se o profeta mais heróico e ousado do Antigo Testamento - porém a sua mensagem não foi aceita e ele não obteve sucesso, senão para com Deus. Assim como outros profetas bíblicos, Jeremias falou o que o povo, patriota e longe de Deus, não queria ouvir, sendo uma voz solitária na multidão doutros profetas, falsos, a falar o que agradava aos ouvidos judeus, por isso fora tão oprimido e perseguido.
Jeremias 7:9-11
Porventura furtareis, e matareis, e adulterareis, e jurareis falsamente, e queimareis incenso a Baal, e andareis após outros deuses que não conhecestes,
E então vireis, e vos poreis diante de mim nesta casa, que se chama pelo meu nome, e direis: Fomos libertados para fazermos todas estas abominações?
É pois esta casa, que se chama pelo meu nome, uma caverna de salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isto, diz o SENHOR.
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Deus o levou à exaustão, enviando-lhe para longas distâncias, como o Eufrates, quando e onde enterrou um cinto de linho até que apodrecesse, afim de que pudesse usar isso como exemplo visível ao povo em relação à situação de Judá. Jeremias não pôde casar e teve de viver como se estivesse no cativeiro babilônico, certamente passando-se por louco aos olhos do povo. Ele teve de viver em solidão para que os hebreus vissem nele a mensagem viva daquilo que Deus profetizava através dele.
A palavra de Jeremias foi tão forte que ele acabou sendo preso e torturado por um sacerdote, Pasur, o que o faz cogitar em desistir do ministério, mas, confinado na vingança de Deus, se manteve. Quando Jerusalém foi sitiada novamente, Jeremias foi preso outra vez, mas agora por um grupo nacionalista, que o considerava inimigo do Estado. O segundo cerco babilônico foi tenebroso para Jerusalém e Nabucodonosor colocou um governante na região, chamado Gedalias, que foi assassinado pelos judeus, que logo fugiram para o Egito, com medo do rei da Babilônia, e levam Jeremias seqüestrado. Lá Jeremias morreu apedrejado.
Ezequiel: também profetizou sobre a queda de Jerusalém e, por isso, fora duramente perseguido. Sua mensagem, para ser transmitida, exigiu ainda mais esforço do que a de Jeremias: ele teve que montar uma maquete de jerusalém para ilustrar o cerco, deitar-se de lado por 410 dias, afim de simbolizar a duração do cerco, e teve de coser coser sua comida com fezes humanas como combustível -que Deus substituiu por esterco de gado- para simbolizar a fome que os habitantes de Jerusalém passariam durante o certo. Ezequiel 4.
Ezequiel teve que se humilhar ainda mais para transmitir a mensagem: cortar seu cabelo para fazer outra ilustração -lembre-se que o cabelo era muito valorizado pelos judeus. Ezequiel 5. O maior sofrimento de Ezequiel, no final, fora a morte de sua esposa, que simbolizava a destruição de Jerusalém. Ezequiel não pôde chorar nem ficar de luto. A tradição judaica diz que ele morreu apedrejado pelos judeus.
Daniel: esse teve um ministério, aparentemente, de mais sucesso, mas, ao lado de seus amigos, exilados na Babilônia, padeceu de grandes tribulações. Jovem, com 17 anos, levado a um mundo hostil, onde era um dos poucos judeus, teve de ser extremamente forte e fiel. A sua demonstração de fé iniciou-se assim que chegou à Babilônia com seus compatriotas (Hananias, Misael e Azarias): não comer do alimento impuro e profano do rei. Eles não usaram como desculpa a frase comum: "isso é legalismo, não faz mal", afim de tapear a consciência e ceder aos prazeres. Deus honrou a postura desses jovens hebreus e os faz mais bem nutridos do que os demais.
Os amigos de Daniel passaram por desafio ainda maior: por não se curvarem à estátua de Nabucodonossor foram lançados numa fornalha ardente, mas não morreram, pois Deus os guardou.
O grande desafio de Daniel fora a cova dos leões. Dario, da Pérsia e novo governante sobre a Babilônia, proíbe orações e petições a deuses e senhores, a não ser ao rei, sob pena de morte. Daniel seguiu levando a vida normalmente e continuou orando à Deus de janelas abertas, nisso ele é capturado e lançado entre os leões. Deus não esqueceu de Daniel e honrou sua coragem e fé, amansando os grandes felinos e tirando seu profeta com vida, assim ele ganhou ainda mais crédito e poder na corte.
O Novo Testamento nos dá outros belos exemplos de total dedicação e privação em nome de Deus: Jesus e João Batista. Jesus você já deve conhecer bem: sua pobreza material, suas incessantes viagens, seu amor pelos homens e seu sacrifício final, por isso vou falar mais de João Batista nessa postagem: ele teve uma missão dificílima, pois veio como uma foice numa densa e hostil floresta para abrir caminho e facilitar o ministério de Jesus. Ele certamente era tido como louco, bradando com ousadia e poder no deserto, habitando o ermo e privando-se de alimento e vestimenta comum -contentava-se apenas com aquilo que Deus lhe dava na natureza e dedicava-se, exclusivamente, no pregar da Palavra e no batismo, até porque foi ele que batizou Cristo. A sua vida não tinha importância maior do que a sua missão nesse mundo - ele fora preso e degolado à mando de Herodes, que recebeu num prato a sua cabeça decepada.
Eu não sei quais são as tuas impressões ao ler sobre esses heróis da fé, mas eu refleti muito sobre isso e cheguei a uma conclusão: os homens a quem Deus escolhe e que se tornam servos extremamente submissos, tendem à privação, opressão e ao martírio. À princípio questionei, involuntariamente, como Deus pôde fazê-lo, mas em seguida, analisei melhor: Deus é quem mais sabe do fato de que a nossa efêmera vida aqui não deve ser a vida ideal, pois isso, além de utopia, toma o lugar de coisas mais urgentes: a transmissão da mensagem dEle. Foi isso que Ele estimulou que fizessem os seus subordinados que, no final das contas, após a batalha fervilhante que desenvovleram na terra, receberem grandíssimo galardão nos céus. É essa esperança que deve reger o cristão: a Vida Eterna deve ser o descanso, o conforto, a boa e farta vida e servir de estímulo para que desejemos e vivamos uma vida de privação aqui, em nome da pregação do Evangelho pelo exemplo, pelo esforço e pelas da palavras.
Ezequiel e Jeremias certamente e em muitos momentos preferiram abandonar a sua missão e deixar o povo que os odiava padecer do juízo de Deus, mas não, eles não desistiram e, por amor à Deus e aos homens, seguiram na oposição. O que mais me envergonha como cristão reclamão e abastado que sou é ver o tamanho da privação de que padeceram e das situações terríveis em que foram colocados, afim de ilustrar a mensagem de Deus e servir de exemplo vivo de fé em meio às tribulações. Você achou pesada a idéia de Ezequiel ter que se alimentar com fogo produzido por esterco de gado, como ilustração da mensagem de Deus? Pois abandone um pouco seu orgulho e egoísmo e pense no valor que tem um esforço dessa dimensão se, porventura, surtir algum efeito, por menor que seja -pois a salvação de um único caído vale mais que a tua vida já salva. Mateus 5:29 deixa bem claro: é melhor destituir-se até de um membro de seu corpo, se ele te leva a pecar, do que perder a salvação! Em nome da Vida Eterna, minha e dos próximos, todo esforço é pequeno.
Nessas horas devemos nos lembrar de Jonas, que Deus enviou para o coração do Império Inimigo, Assíria, para que pregasse a Sua mensagem, afim de que se salvassem de seu mau caminho. Jonas relutou -e até com alguma razão, já que os assírios eram inimigos de Israel-, mas acabou levando a Palavra de Deus ao inimigo pagão, fazendo Nínive, por algum tempo, se curvar ao Senhor. Assim também os profetas, todos, transmitiram a mensagem de Deus numa sociedade de inimigos, que, sem titubear, os mataram. É assim que o cristão deve pensar: levar a Palavra de Deus ao nosso inimigo, ao "mundo", mesmo que ele nos queira mortos - e é aqui que entra um exercício de amor ainda mais complicado: se o governo, por exemplo, perseguir e oprimir segmentos da sociedade que se opõe ao cristianismo, devemos defender esses tais segmentos. Não estamos aqui para o enfrentamento com homens, mas para a divulgação da Palavra. Provérbios deixa muito claro que precisamos amar os nossos inimigos (25:22; 25:17-18; 25:21). Saladino, durante a era das cruzadas, presenciou o seu inimigo europeu padecendo de grande fome em seu acampamento e, para a surpresa dos falsos cristãos medievais, o muçulmano enviou suprimentos para eles, abastecendo-lhes com frutas frescas e água, já que não haveria honra na vitória sobre derrotados. É assim que devemos ser, se confiamos que Deus é quem luta por nós.
Bravura! O cristão é fruto de uma mensagem peculiar: ele alimenta o seu inimigo, mesmo que esse inimigo deseje-lhe a fome, não se importa de fortalecer seu oponente, ao invés de destruí-lo. O cristão luta contra si mesmo, derrubando seu orgulho, sua ganância, sua vontade, procurando, dentro de si, e desafiando os seus problemas, a sua natureza, num duelo exaustivo, para assim se prostrar ao Senhor do Universo, afim de ser usado como seu Emissário. O cristão aprende a ser bom para um mundo que o persegue e, dessa forma, enfrenta o Império das Trevas, para libertar os cativos. O cristão, portanto, enfrenta-se a si mesmo e enfrenta esse mundo, simplesmente por amor. A morte não lhe é problema, apenas uma passagem para um lugar muito melhor.
Abraão nos é exemplo magnífico nessa questão toda: ele aceitou matar seu único e prometido filho, seu bem mais amado e precioso, porque Deus o mandou. Ele entregou tudo o que tinha de melhor, de mais amado, para quem ele amava ainda mais, Deus -que, honrando sua submissão, o privou do sacrifício de Isaque. Assim deve ser o cristão: sempre que algo que preza e ama se opor a Deus ele não pode ceder, ele sempre irá optar por permanecer com Deus, SEMPRE, pois Deus é quem lhe dá a verdadeira alegria, a salvação e a Obra, a vida dos incrédulos, são mais importantes do que algumas mordomias, do que um romance cinematográfico, do que o sucesso. Não digo para abandonar isso tudo, mas, sim, colocar Deus no centro e fazê-Lo levar-lo para onde Ele quer, como um barco à vela que segue com o vento. Não podemos nos colocar, ou colocar outros, no lugar de Deus, tampouco acharmo-nos deuses de Deus. Ezequiel 28:6-10. É aqui que enquadro o exemplo de Daniel e seus companheiros: certamente o desejo por comer as iguarias profanas do rei entrava em atrito com a centralidade de Deus em suas vidas -eles optaram por Deus; certamente a obrigatoriedade por se prostrar perante o ídolo material erguido pelo rei em sua homenagem, cuja negação culminaria em morte, entrava em atrito com a soberania de Deus em suas vidas, afinal: ou eles se prostravam, ou morriam... eles optaram pela morte, sem o tal argumento "Deus me perdoa depois"; da mesma forma, Daniel não se acovardou com o decreto de Dario e continuou orando à Deus de janela aberta, questão que, para ele, certamente entrou em atrito com o senhorio do Pai em sua existência, pois sua vida estava em jogo... mas ela não era tão preciosa quanto Deus e ele não usou do argumento: "vou diminuir minha vida de oração e me esconder quando o fizer, Deus perdoa", não, ele optou por Deus e, portanto, manteve-se como luz evidente nas trevas. João Batista certamente teve de abrir mão de si mesmo em tudo para servir a Deus e isso, sem dúvida, lhe levou a atritos internos e colocou em jogo a soberania de Deus em sua vida, pois estava em cheque o conforto de uma vida normal, mas, não, ele viu-se menos importante do que o Senhor do Universo e concebeu que sua missão, de preceder o Messias, valia mais do que sua família, do que uma residência, do que sua mera existência. Saber o que Deus quer, mas, mesmo assim, rejeitar, é "ateísmo prático". A verdade é que esse tipo de cristão crê muito pouco em Deus para não temê-Lo ou respeitá-Lo e, provavelmente, preferiria que Deus não existisse, pois poderia pecar deliberadamente.
Você percebe? É inevitável: quem quer ter Deus no centro, terá de negar e abrir mão de muita coisa e, além disso, submeter-se em ser e fazer o que Deus deseja, o que, talvez, seja mais difícil do que o primeiro passo. Mediante isso tudo, não compreendo de onde vem a teologia da prosperidade, o cristianismo de consumo e outras besteiras satânicas de nossos dias. Ser cristão não tem nada, ou tem muito pouco, com prosperidade material ou submissão (idolatria) aos cifrões e produtos que se adquirem com eles, pelo contrário, ser cristão é abrir mão de si mesmo e de um mundo inteiro de possibilidades para ser para Deus e para os homens, para ser Eterno!
Quantas vezes não temos Deus no centro de nossas vidas? Quantas vezes caímos em tentações pecaminosas, "iguarias do rei"? Quantas vezes nos prostramos e idolatramos alguma "estátua de Nabucodonossor" por aí, seja um pecado, seja um objeto, sejam pessoas? Quantas vezes nos omitimos e temos vergonha e medo de evidenciarmos nosso cristianismo? Quantas vezes cedemos às comodidades da vida e nos estatizamos? E, por causa dessas bobagens, o quanto deixamos de crescer em Deus? Quantos incrédulos permitimos que caiam no Abismo?!
A vida cristã, leitor, é uma vida de honra, uma vida de guerra. Assim que você se converte, aceita o chamado de Cristo à batalha, inicia uma marcha ao epicentro do conflito. Você bem sabe que, ao longo da história, o guerreiro que marchava para o conflito deveria abrir mão de si mesmo, de seus instintos de sobrevivência, de sua comodidade, de sua família, de seus planos e de sua herança, para se dedicar exclusivamente ao seu chamado, ser excelente no conflito em nome de seu rei e derrubar tantos inimigos quantos conseguisse. À partir do momento em que entrava em marcha, esse era seu foco, somente esse, sabia que essa empreitada tinha grande potencial de tirá-lo a vida, mas isso não importava mais do que defender sua família, seu povo, suas terras, seu rei. A vida cristã é assim: depois que você inicia essa campanha, o foco central de toda a sua existência deve estar na dedicação total em tal missão, seus passos devem levá-lo, sempre, para a honra de teu Rei e para a vitória sobre o Inimigo. Não há espaço para viver para si mesmo no centro do combate, no emaranhado de oponentes se digladiando, no sangue, nos gemidos de dor, nos urros de fúria, nas nuvens de flechas. Todas as suas forças devem estar concentradas ali, na mão empunhando a Espada. E, sim, vivemos essa batalha e temos o que defender, ou você não vê as trevas profundas ao teu redor, sufocando e aprisionando bilhões de caídos?!
Quem vê O Senhor dos Anéis percebe a entrega de Frodo à sua empreitada em prol da destruição do Um Anel. Ele abandona sua vida tranqüila e farta para lutar contra o Senhor do Escuro, seus espectros, seus orcs e suas fortalezas. A sua demanda chega no extremo, ele já se conforma com o fato de, muito provavelmente, sair sem vida dessa missão, mas não reluta em prosseguir, pois muito está em jogo, é nobre continuar, o fruto será grandioso. Seu amor pelo que é bom, pelos conhecidos e desconhecidos e pela Causa é mais importante do que a sua própria sobrevivência.
Como segundo ponto:
A segurança em Deus
Às vezes me desanimo, pois vejo quão dura é a minha missão e como, no enegrecer dos horizontes futuros, ela pode, de fato, me levar ao limite, à morte. Também fico perplexo vendo as movimentações evidentes de trevas em nossa política, os levantes anticristãos e contra toda a moral, em prol da união mundial e o caminho evidente para o reinado do Anticristo. Mediante o horrorizante futuro já senti minha fé fraca, perdendo-se... Satanás me parecia tão "por cima"! Mas, lendo os Profetas, acalmei-me:
Em Isaías há uma profecia de que Deus levantaria (e levantou) um rei pagão para consumar seus planos - Ciro, da Pérsia. Is 45:1-5. Também lê-se, em Daniel, Deus usando Nabucodonossor e Dario, assim como os líderes doutros povos, como a Assíria, Síria e Edom, afim de consumar Seu juízo sobre Israel e Judá. Após ter tido conhecimento disso tudo, me confortei: tudo o que está acontecendo nesse mundo só o é porque Deus o permite ou, até mesmo, o faz. Os livros proféticos falam, além do juízo em Judá e Israel, do Dia do Senhor para o mundo inteiro, o dia de juízo mundial e, como Apocalipse prediz, é da vontade de Deus que o cerco se feche, que o cenário se transforme e que as profecias se cumpram, aproximando-se do Fim e da Restauração. O que Deus deseja acontecerá e, se Ele deseja e faz acontecer, então não devo me alarmar, mas, sim, exultar.
Leitor: assim como Sauron, nO Senhor dos Anéis, enviava uma espessa camada de nuvens de fumaça para escurecer o campo de batalha e facilitar o posterior deslocamento de seus exércitos, vejo o cenário do Fim de formando. Teremos de ser cristãos de fato, quem sabe, nalguns dos momentos mais dolorosos e opressores para a Igreja... e é nessa hora que devemos fazer a diferença! Sempre achei uma tremenda falta de senso de dever e honra ver a massa cristã se pervertendo ainda mais nos momentos mais negros e perversos da história, ao invés de, nesse cenário extremamente mortal aos incrédulos, ser luz vital para eles. Que vergonha! Os cristãos têm profanado com todas as forças o nome de Deus! Enquanto Davi dava a vida em defesa de suas ovelhas quando o leão ou o urso se aproximava, os pastores de hoje chamam os leões e ursos para pressionar seu rebanho e fazê-lo render mais! E vejo nas ovelha um bando de idólatras fanáticos, sem cultura bíblica alguma, sem vontade de conhecer mais, sem vontade de buscar Deus de fato -sem um intermediário... Preguiçosas! Onde está o caráter?! Onde está o cristianismo? Onde está Deus? Onde está Cristo?! Onde está... o mínimo de moral?! Se até os incrédulos nos fazem, como protestantes, motivo de piada, é porque a nossa moral está mais pervertida do que a deles... e, de fato, está! Isso simplesmente porque afirmamos servir a Deus, que nos disponibilizou a Sua Palavra escrita, mas negamos-a completamente! A pervertemos! Matamos com prazer, dia-após-dia, chicoteando, julgando, pregando e crucificando, enquanto gargalhamos, o Messias! Fazemos pior do que o antricristão, que não tem dever algum pra com Cristo! Não temos temor algum, não temos senso de sagrado, achamos que Deus é como o tapete da entrada de nossa casa: que é pisado por todos, tocado quando se quer, que serve pra absorver toda a nossa imundície, que só existe para limpar e servir. POXA, ELE É O SENHOR DO UNIVERSO!! Cães malditos, aproveitadores, hipócritas horrendos, vermes consumidores que somos!!! Sem honra, sem moral, sem amor algum! Criaturas inúteis, mentirosas, venenosas, destrutivas, herdeiras de algo maravilhoso, mas terríveis o suficiente para pervertê-lo em prol de nossas mordomias e nosso luxo. Eu tenho repulsa, nojo, eu ME IRO comigo mesmo e com o caminho que a igreja de meus dias está tomando... antro de ladrões, antro de ratos, abutres, coiotes, hienas... assassinos!!
Façamos algo, sejamos cristãos de verdade! Façamos nossa vida valer um centavo que seja!! Tomemos a Causa Cristã como a nossa luta, Deus como o centro de nossas vidas!! Eu te faço um apelo, leitor: decida-se, se for cristão! Deseje purificar-se de fato ou desista do cristianismo. É melhor um gato doméstico saudável do que um leão tomado de cólera. Chega de profanar a Palavra, o nome de Cristo! Chega de destruir, lançar a Bíblia ao fogo! Chega de... declarar-se inimigo de Deus!! Não estamos nesse mundo pestilento para viver de luxo e prazer, estamos aqui para sermos servos renegados e totalmente dedicados à salvação dessa humanidade de mortos!! Nada mais do que isso. Somente isso. O descanso nos está esperando na Vida Eterna.
Natanael Castoldi
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