De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Guerreiro

Em meio à densa névoa que paira sobre a colina gélida, se vê uma figura negra a caminhar lenta, mas determinadamente. Seus pés pisam com firmeza na neve que se acumula há dias, mas que, de momento, deixou de cair. Com profundas pegadas como rastro, o robusto indivíduo segue o seu caminho, tendo nos olhos a imagem do que sucede à frente, está focado, seriamente comprometido com o seu dever e por isso caminha sem parar, sem cambalear, sem distrações, como quem sabe muito bem o que está fazendo. Em seu resto vê-se marcas, não somente as do vento gélido, que rasga a carne, mas marcas de lutas, de brigas, de batalhas. Sim, no lado esquerdo da face há uma cicatriz de adaga, na orelha falta uma parte, arrancada por uma flecha. O olhar sério e envelhecido é de alguém que já enfrentou, por longos anos, dezenas de conflitos, que já empunhou a espada mais vezes do que a maioria dos seus iguais, espada essa que, por sinal, está tão velha e surrada quanto o seu portador, que não lhe poupa serviço, achando que a beleza estética de seu instrumento de luta é maior com os muitos dentes na lâmina, assim como se orgulha de suas próprias cicatrizes.
O guerreiro prossegue, na juventude, nos dias em que estava preso, ele temia a névoa, mas hoje a desafiava e se enveredava em suas entranhas sem medo algum (1 Timóteo 4:7). A mão direita a segurar o punho da espada, na bainha, a esquerda, a manter a capa próxima ao peito daquele que já não mais aguentava o frio como antigamente, mesmo que seu coração fervilhasse para a batalha. Nas duas ásperas mãos, abaixo das luvas de couro, há outras duas cicatrizes, uma em cada pulso, sendo tais aquelas que mais orgulham O Guerreiro, pois produziram-se pelo toque constante do aço, apertando-as em algemas, lembrando-lhe dos dias em que fora escravo (Romanos 6:20) do Traidor (Apocalipse 12:9), que há muito usurpara o trono do Império (1 João 5:19). Naqueles dias ele era açoitado comumente e, com o suor de seu rosto, que se ressecava pela sede e calor, fazia uma roda de moinho girar para alimentar de pão o seu antigo senhor, nisso as mãos sangravam, o couro se rasgava ou nele brotavam bolhas, em ambos os casos, elas terminavam por calejar-se. Comia só o suficiente para não morrer de fome, não tinha o direito de banhar-se e, quando conseguia, dormia com um pestilento cães moribundo, que lhe aquecia. As cicatrizes marcavam o seu sofrimento passado, que por muitas vezes pensou em aniquilar tirando a própria vida, mas, ainda assim, esperava, sobrando-lhe um pingo de esperança (Romanos 6:23).
Num dado dia, porém, o escravo, estraçalhado pelo serviço, acordou com urros de guerra, seguidos de gritos de desespero que partiam de dentro da fortaleza em que se mantinha encarcerado junto com outros dos seus. Não podia ver nada, somente ouvir, já que a janela em sua cela era inalcançável. Ouviu fortes golpes de metal em lenha, seguidos do som de portas sendo arrancadas de paredes e caíndo ao chão. Com um sorriso percebera: havia um exército inteiro procurando salvá-lo, juntamente com os demais prisioneiros. Não tardou para o som de espadas, acompanhadas de urros de guerra e gemidos de dor, tomar conta do pátio do forte. Passos apressados se aproximaram dos aposentos inferiores, onde estava preso O Guerreiro, o carcereiro estava desesperado, uma dúzia de guardas do castelo entraram no corredor principal, amedrontados. Eles sabiam do objetivo do ataque e queriam evitar que os presos fossem levados, por isso obstruíram as portas que levavam ao recinto subterrâneo e se prepararam para o pior, que logo em seguida chegou, com o fogo consumidor de tochas e óleo esparramado sobre os guardiões, que não tardaram para cair ao chão. Com o velho e pesado molho de chaves em mãos, os salvadores abriram todas as celas e libertaram, aos brados de festa, aqueles que estavam presos (Lucas 15:24). A insígnia na armadura ensanguentada e agredida daqueles que tomaram a fortaleza fez com que O Guerreiro se lembrasse de onde os conhecia: eram todos civis do antigo Império, irmãos de raça de todos aqueles que libertaram, por isso, com abraços fortes, ignorando a podridão dos encarcerados, lhes chamavam de irmãos. O grande sorriso, estranho nas faces cortadas e ensaguentadas, fez O Guerreiro almejar: "Quero ser um deles. Quero, com a minha vida, lutar em prol da liberdade dos meus irmãos!"
Após a pilhagem no dia em questão, os prisioneiros, agora libertos, foram recebidos com um grande banquete no acampamento dos insurretos e se fartaram, levando ao estômago uma quantidade de comida que parecia maior do que tudo o que haviam comido nos últimos anos, somado (Lucas 15:7). Beberam, cantaram e banquetearam, para, depois, se banharem num córrego próximo e, após ganharem vestes novas (Apocalipse 3:18), caírem em sono profundo nas tendas (Salmos 23:2). Uns, ainda, receberam um tratamento especial para as feridas e infecções que jaziam abertas (Mateus 11:28). No dia seguinte, após uma longuíssima noite de sono, maior do que todas as noites que tivera, em pesadelos, enquanto escravo, O Guerreiro conversou com o capitão daquele batalhão e descobriu o que estava acontecendo: há oito dias os remanescentes dos exércitos do Império decidiram, guiados pelo Príncipe Herdeiro, descer das montanhas onde se escondiam para atacar a libertar os prisioneiros numa fortaleza ao sul (João 3:17). Quando, porém, conseguiram entrar no cárcere, os guardas do forte estavam, cada um, com um prisioneiro ao fio da espada, ameaçando matar a todos os que deveriam ser salvos. Foi nisso que O Príncipe, ousadamente, ofereceu-se em troca dos prisioneiros, o que, logicamente, foi aceito (João 3:16). Os prisioneiros foram libertos (1 Coríntios 7:23), mas, enquanto saíam, já ouviam os indescritíveis berros de dor de que padecia o Filho do Rei, desumanamente torturado pelo ódio dos traidores (Isaías 53) e, pelo que se sabe, foi, desacordado, tido como morto, lançado nas profundezas do cárcere. Dois dias depois, segundo o relato de algumas testemunhas, moribundo, foi lançado na floresta, afim de ser comido pelas feras selvagens, mas dois batedores do Rei, no dia seguinte, o encontraram (Salmos 16:10) e levaram (Lucas 24:5), semi-morto, de volta para casa (Atos 1:9), onde hoje está (Atos 1:11). Desde então, com duas centenas de prisioneiros libertos, mais os trezentos remanescentes dos exércitos do Império (Mateus 18:20), começaram uma cruzada para libertar os demais presos, sendo o primeiro ponto a fortaleza de onde saíra O Guerreiro.
Andando pela neve, já com a face menos endurecida, lembrando-se com grande emoção pelo ato heróico dO Príncipe, O Guerreiro remexia a sua memória. Agora se remetia aos dias em que, para tirar a mente escravizada de seu corpo livre, fora levado para o interior das montanhas, para aprender com um velho mestre a arte da luta, a arte da guerra, afim de, como soldado dO Príncipe, auxiliar, futuramente, nas lutas libertadoras (Romanos 12:2). Por três anos ficara, no isolamento, aprendendo para, não tardando, vestir a armadura de guerra, empunhar a sua espada (Efésios 6:11) e, juntamente com os demais irmãos, organizar-se para a sua primeira empreitada (Mateus 28:19-20). Desde então nunca mais parou de lutar e hoje, no dia em que caminha determinado, está rumando o acampamento dos seus, que soaram o chamado de guerra para mais uma batalha, afim de reconquistar uma cidade inteira. Já são quase dez mil unidos, todos querendo readquirir a herança dO Príncipe. Será mais um dia de vermelho, um dia de sangue, um dia de privação e luta, um dia de vitória! 2 Timóteo 4:7.
Bom, encerro aqui a narrativa que formulei enquanto escrevi. O que quero com essa figura é retratar o objetivo fundamental de nossa existência como cristãos: a luta em prol da liberdade dos cativos. Nessa luta não buscamos o nosso próprio bem, pois ele já nos foi adquirido quando fomos libertos das garras do Traidor, mas buscamos, abrindo mão de nós mesmos, o bem daqueles que estão morrendo nas prisões desse mundo. Para tal, somos chamados a sair da zona de conforto, fugir do comodismo, desistir de nós mesmos e entregar a vida inteira para Aquele que quer nos usar como emissários de Sua liberdade. Ser cristão é isso, é luta, é privação, é amor! Não se trata de prosperidade -nesse mundo-, não se trata de cargo, política, capitalismo, shows musicais ou de talentos, não se trata do "eu", do meu próprio bem, do meu nome, de minha imagem, de meu futuro, mas se trata do outro, de seu bem, de seu nome, de seu futuro, pois se o teu nome já está escrito no Livro da Vida (Apocalipse 20:15), não precisa mais se preocupar com ele; se o teu futuro se encontra no Céu, não precisa se basear em anseios terrenos. O que te resta, com tudo garantido na Casa do Senhor, é abrir mão de tudo aqui e dedicar-se exclusivamente à luta!! Deus só pode te fazer crescer, de fato, se te ver lutando, se desafiando, padecendo privações e fraquezas! Façamos dEle a fonte de tudo em nós! Jeremias 2:13.
O Guerreiro que veste a armadura, empunha a espada e corre sem temor para a batalha é muito bem descrito por Paulo que creio não ter usado dessa imagem apenas como uma figura, pois parece que, literalmente, ser cristão é ser um guerreiro, que luta bravamente contra si mesmo, contra o seu "eu" carnal - que resiste mesmo após o novo nascimento em Cristo- , contra os poderes sedutores das trevas desse mundo e contra as forças malignas que encarceram os mundanos. Nós não lutamos contra pessoas, lutamos contra o Pai da Mentira e as suas palavras mentirosas, as suas miragens mortais, a sua sedução, que perverte o homem e o faz lutar, de modo suicida, contra Deus -Efésios 6:12. Nesse cenário de batalha enfrentamos as mentiras mortais desferidas pelos homens, à mando de Satanás, também lutamos contra o pecado que envereda o caminho dos caídos e que, volta e meia, impera em nós, porém o nosso maior inimigo, depois, é claro, de nós mesmos -que somos os únicos com poder para nos levar ao Inferno-, é a fonte de todo esse mal: Lúcifer e sua corja satânica. Tomando a Espada, bem protegidos pela Armadura, é para o seu reino que, bravamente, devemos ir, afim de, com a tocha de Deus nas mãos, contorcer as trevas, aniquilar os fungos que minam os cativos e, golpeando as amarras, arrebentar as correntes que os prendem nas entranhas desse mundo que se dilacera e aniquila, caminhando para o seu próprio colapso - Efésios 6:10-20.
1 Coríntios 9:24-27 deixa bem claro todo esse conceito:
"Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado."
Paulo sabia bem do que estava falando: a luta pela liberdade dos cativos desse mundo é nosso dever, mas ela começa, antes de tudo, em nós mesmos. Devemos vencer a morte que, habitando em nós, tanto quer nos fazer definhar. É aqui que o cristão pode ser comparado a um suicida: você precisa ser extremamente drástico, radical, declarar guerra total contra a tua carne e o teu pecado, contra todo o racismo, todo o preconceito, toda a arrogância, todos os vícios, tudo, TUDO o que te prende a esse mundo!! Não falo para rasgar a carne num ato de masoquismo, logicamente, também não falo para deixar de comer, se bem que um jejum, de vez enquanto, pra produzir fraqueza no teu corpo, é interessante. Falo de você, na bravura de um guerreiro que quer, definitivamente, vencer, tomar a Espada, que é a Palavra, apoiá-la numa pedra ao chão e, sem medo algum, sem pensar duas vezes, deitar com o peito sobre ela, fazendo-a, num ato sacrifical, penetrar no teu corpo, romper a tua carne, perfurar o teu coração, dividir juntas e medulas, fazendo morrer o teu "eu" para que Cristo possa ser a vida que há em ti, não mais a tua velha natureza, a velha "vida", que anseia pela morte. Suicide a tua carne!! Declare guerra e privação a qualquer instinto carnal que queira te dominar, seja totalmente cruel consigo mesmo, seja absolutamente impiedoso, num golpe seco e bruto, derrube a tua natureza!! Não tenha piedade! Mate-a!!! Tome da luz de Cristo e penetre, sem receio, nas trevas que dominam a tua alma e tenha uma experiência parecida com a de Beowulf no Lago Trevoso, não tenha medo de enfrentar os monstros que habitam a tua alma, de enfrentar e destruir sem titubear as aberrações que te dilaceram por dentro, de, aprofundando-se no mais fundo dos mares de teu ser, encontrar, gradativamente, mais escuridão e seres mais horripilantes, afim de levar Luz e Beleza para as tuas entranhas. Isso, seja brutal com o pecado, com os seres horrendos que vagam na escuridão da tua carne e secam o teu coração. João 12:24-26.
O embate contra os gigantes, os ogros que habitam as densas e escuras florestas e cavernas de nossa natureza humana é algo constante, sempre teremos de afugentá-los, matá-los e lidarmos com as suas crias. É uma rotina! Mas há um momento na vida do cristão, um momento especial, em que a corja pútrida que domina a alma humana é violenta e irreversivelmente agredida, perdendo grande parte de seu domínio original para não mais obtê-lo. Essa é a grande guerra que ocorre em nossas profundezas, que travamos por meio de firmes decisões, disciplinas, privações, jejuns e constante oração, isso na solitude, num ambiente sem grandes atrativos nem barulho, no qual estamos somente nós e a nossa natureza, onde, no silêncio absoluto, quem sabe no escuro, conseguiremos ouvir os uivos das bestas que perambulam em nossa carne, afim de encontrá-las e travar batalhas derradeiras. Muitos cristãos não crescem e continuam presos a pecados fortíssimos porque temem desafiá-los verdadeiramente, porque sabem que será extremamente difícil se libertar daquilo que vicia e, enquanto apodrece e seca, aparentemente nutre a nossa carne. Mas esse passo, o ousado enfrentamento, é necessário para o que seguirá, pois a melhor maneira de adentrar as névoas desse mundo sem ser seduzido por elas é aniquilando quase que completamente o nevoeiro de nossa alma. Vale lembrar que continuaremos, carnalmente, podres, mesmo após travada e vencida essa luta, mesmo em Cristo termos adquirido vitória, simplesmente porque a nossa carne continuará existindo - você a vê, você a sente, você não pode se livrar completamente dela e ela sempre procurará a tua morte espiritual juntamente com a dela, o que muda, de fato, é que agora estaremos livres, com as raízes pecaminosas desse mundo desvencilhadas dos nossos pés e os vícios, pecados domésticos e outras de nossas tendências, que provavelmente continuarão existindo, já não nos dominarão mais.
Terminado esse conflito interno inicia-se outro processo: a luta no mundo. Uma vez vencidas as trevas internas, não podemos parar, pois o comodismo nos faz afundar novamente os pés no lodo pegajoso que cobre a Terra. Corramos!! Ao lado de outros como nós, sem temor, sem receio, em nome dO Príncipe dos Exércitos, em nome dO Senhor dos Exércitos, lutemos!! Levemos o Evangelho libertador para aqueles que se encontram nas entranhas dos vermes imensos que consomem o chão em nossos pés, aprisionados em correntes nas profundezas de masmorras gélidas e escuras, obrigados a servir como escravos ao terrível Senhor deste Século. Lutemos! Transpassemos as névoas, as trevas, os espinhos, lamaçais e vales de ossos secos, adentremos nas terras que jazem na sombra da morte, desbravemos florestas horripilitantes, abatendo ou espantando, com a luz que carregamos, os demônios terrestres e alados que perambulam no coração das Sombras, sem temer suas faces terríveis e seus gemidos gélidos, que nos fazem sentir calafrios na espinha. Corramos, com a Espada empunhada, as terras desse mundo inteiro, andemos nas cavernas e atravessemos as cordilheiras mais elevadas. Não há nenhuma força que pode contra nós! Nenhuma!!! Pois o próprio Criador é quem está do nosso lado!! Se empunhamos a Espada da Palavra, Ele é a PRÓPRIA PALAVRA e um dia virá, com a Espada de Sua boca, que são Suas palavras, para julgar ao seu fio e aniquilar todos aqueles que hoje se opõem a nós. Não temamos, apenas lutemos, o juízo cabe à Ele, a nós somente cabe cruzar o mundo levando a Palavra, que é Ele, a todos os cárceres, derrubando com a própria Espada de Cristo todos os demônios que os aprisionam. Essa é a nossa missão e é isso que devemos fazer!! Não nos cabe arrecadar grandes coisas materiais, pois é exatamente isso que prende essa humanidade caída à Satanás, não nos cabe buscar fama, não nos cabe buscar NADA que naturalmente é desse mundo caído, pois tudo o que lhe é próprio também é corrente que aprisiona à ele. A nós só nos cabe tudo dedicar como oferta a Deus, TUDO, e tudo dedicando, iniciar marcha como guerreiros que nada além de espada, armadura e alguns mantimentos possuem, utilizando-nos, como as nossas maiores riquezas, dos dons espirituais que o Espírito Santo nos deu para a Sua Obra. O mais? Tudo o que foge do sentido máximo de nossa vida é trapo de imundícia, é esterco, é pó. Com isso não digo que devemos nos tornar andarilhos totalmente miseráveis, mas, aceitando o que Deus, que tudo possui, nos dá por meio de Sua graça, não nos detér demais nas coisas terrenas e ter como prioridade a nossa missão, a Causa de Cristo, a quem representamos - o que é uma imensa responsabilidade.
Lute! LUTE!! Somente assim você será achado em Deus. Como? Ora, quem não luta contra si mesmo e contra esse mundo, prossegue mergulhado em sua natureza infernal e preso aos dentes da besta caída que resume essa humanidade. Não é de Deus, não pode ser trabalhado por Deus, não se dispõe a mudar e, portanto, deixa bem claro que prefere o Inferno. Lute!! Homens, onde está o seu famoso "coração selvagem"?! Onde? Onde está a bravura de, como uma fera selvagem, lutar e se debater com todas as energias contra as cordas e redes contra ti lançadas, afim de se libertar daquilo que quer te prender para arrancar teu couro? Onde?! Lutemos, desafiemos, corramos contra a podridão em nós e a oposição maligna desse mundo. Somente assim Deus nos fará crescer, nos dará mais!!
Ora, Davi, no momento em que decidiu enfrentar Golias, lembrou-se dos dias em que enfrentou leões e ursos para cuidar das ovelhas e, somente por ter enfrentado os problemas "diários", no dia de sua grande batalha encontrou forças e fé para vencer -1 Samuel 17. Da mesma forma, Davi só teve forças para fugir da perseguição posteriormente promovida por Saul porque antes enfrentou Golias e cresceu e força física e espiritual nisso; por fim, Davi só se tornou rei, só ganhou a coroa, porque resistiu a Saul, ou melhor, porque um dia, muito tempo antes, decidiu, ao invés de fugir, enfrentar leões e ursos. Às vezes ignoramos a luta, dizendo: "é só um pecadinho" ou "isso é muito pouco pra me preocupar", mas, sem enfrentar e vencer os "pecadinhos" e "probleminhas", Deus nunca poderá nos colocar para enfrentar algo maior, pois seremos muito fracos, Deus nunca poderá nos confiar nada além de "um talento" ou "leite" -1 Coríntios 3:2-3! Se Davi não tivesse se preocupado com o pouco, com as ovelhas de sua família, não teria sido colocado para proteger Israel -Lucas 16:10. Se Davi não tivesse aprendido a dar a vida pelas suas ovelhas nos dias de pastor, não teria condições de ter enfrentado Golias, entendendo que, dessa vez, deu a sua vida em nome da nação inteira e, da mesma forma, nunca poderia ser rei, pois enquanto perseguido, aprendeu a ser líder. Unindo tudo, os problemas o tornaram um líder disposto ao sacrifício, que é exatamente o padrão de liderança que O Pai procura. O Senhor usa dos desafios, dos problemas, dos momentos em que nos frustramos, vemos que somos fracos e totalmente dependentes de dEle, para nos fortalecer -2 Coríntios 12:9-10-, para melhorar-nos, para nos confiar mais, para nos levar a enfrentar problemas maiores, para nos levar mais profundamente nas trevas mortais desse mundo caído, afim de atingir e salvar mais dos cativos do Inimigo. Ora, que honra!! Além de Deus, pelos desafios, nos ensinar a viver nesse mundo, fortalecendo nosso caráter, nossa fé, nossa dependência dEe e nosso amor pelos próximos, nos ensina a lutar nesse mundo e nos leva a transmitir a Sua salvação eterna à muitos - pense no valor que tem a salvação eterna de uma pessoa!! Portanto, por amor a Deus e aos próximos, lutemos!!! E, quando finalmente partirmos para a Casa do Senhor dos Exércitos, deixemos um legado positivo e duradouro para as próximas gerações terem algo sólido e construtivo em que se apegar e espelhar.
Veja bem: o maior nos exércitos do Senhor não é aquele que tem a armadura mais cuidada, lustra e ornamentada, nem aquele que tem as mãos mais macias e o rosto mais belo, tampouco aquele que tem a espada mais brilhante e preservada. Não!! O líder dos exércitos não é um covarde que manda os outros irem para guerra e fica assistindo! Um líder de verdade para os exércitos do Senhor é aquele que tem a sua armadura surrada pelas intensas e constantes batalhas, cujas mãos estão grossas e calejadas de tanto combater, de tando empunhar a espada, assim como o seu rosto, que está marcado pelo frio das montanhas geladas de um mundo frígido, avermelhada pelo calor das chamas das entranhas desse mundo, de onde tirara cativos, e cicatrizada pelos golpes e setas na batalha. O líder é aquele que vai na frente, que enfrenta, antes de todos, o mais grosso das corjas inimigas!! O líder não é aquele de olhar inocente, preguiçoso ou dominador, é aquele cujo o olhar, centrado e firme, evidencia alguém que tem vasta experiência e que já viu aberrações e enfrentou demônios que deixariam qualquer um atônito. Sim, o líder em Cristo é aquele que mais cicatrizes possui, que menos se preocupou com a sua própria integridade física em prol da vida dos cativos!! É o exemplo de conduta para os seus seguidores e vai na frente, pisando, antes de todos, nos espinhos, no lodo, nas pedras pelo caminho - jamais aquilo que temos hoje, do tipo de vai por último, depois que todos já limparam os destroços e deixaram rosas pelo chão. O verdadeiro pastor é aquele que não deixa as suas ovelhas enfrentarem os lobos, leões e ursos, esperando que elas façam o trabalho sujo e, ainda, almejando, gananciosamente, a sua lã para vender e lucrar, o verdadeiro pastor é aquele que, vindo o urso, o lobo ou o leão, lança-se antes de todos, vai na frente e, tomando a lança, os enfrenta, preferindo a vida do rebanho de que cuida do que a sua própria -João 10:11. O verdadeiro pastor não dorme numa mansão, que comprou com o dinheiro da lã das ovelhas, enquanto elas dormem no pasto e no sereno, o verdadeiro pastor fica alerta a noite inteira na porta do aprisco, vigiando, atento, afim de evitar a vinda de predadores e ladrões. Ele se sacrifica pelos que Deus confiou em suas mãos. Falo do contexto do líder aqui, mas para os cristãos em geral, essa idéia de usufruir do desgaste do pastor não é válida, use para ti a figura do guerreiro, pois você deve ser um imitador de Cristo e Ele não foi uma ovelha, Ele foi um verdadeiro paladino, a, pela privação, luta e entrega, desafiar os maiores poderes desse mundo. Mateus 10:16-18; 2 Timóteo 3:12; Mateus 6:19-20 e 33; Marcos 8:36.
Concluo essa postagem desafiando-te a hoje, ainda hoje, tirar um tempo especial e, sim, mais do que quinze minutos, para, de modo introspectivo, desbravar as trevas de teu ser e desafiar sem medo algum, com total entrega à Deus, as aberrações que ainda habitam as tuas entranhas, maquinando a tua morte. Aniquile, arrebente, queime, pise, rasque, espante, faça de tudo para desligar de tua vida tudo aquilo que tem alguma origem em Satanás, tudo aquilo que te prende à esse mundo satânico, tudo aquilo que cria uma ligação íntima entre você e o Pai da Mentira. Faça isso, comece hoje a jornada dO Guerreiro, dê esse primeiro passo, enfrente os leões e ursos HOJE, para que, amanhã, tenha a honra de enfrentar gigantes e, no final, o privilégio incalculável de receber a Coroa da Vida! Apocalipse 2:10.
Natanael Castoldi
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terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Fundamento

Podemos falar milhares de páginas sobre pecado, filosofia, ciência, revelando grandes mistérios da fé cristã, mas nada disso tem peso algum se não tiver uma razão para ser feito, um alicerce no qual se estabelecer. Algo que muitos teólogos têm feito, e eu devo me cuidar para não entrar nessa, é ter o cristianismo e a Bíblia como objetos de estudo, apenas, que "dissecam" até onde podem, afim de conseguir explicar e compreender todos os mecanismos do determinado sistema, esquecendo-se de que na fé cristã existe algo além da mera ciência, do mero conhecimento. A verdade é que ela não passa de teoria vazia e inútil se for levada apenas como material de estudo. Paulo diz em 1 Coríntios 13 exatamente isso: sem amor, nada do que viermos a fazer tem algum valor, não passando de uma vã filosofia -Colossenses 2:8-, de uma pífia obra.
Eis o fundamento de tudo na fé cristã: amor. Não trata-se daquele tipo amor que você vê sendo proferido na Parada Gay, que mal usa versículos bíblicos, concebendo-se de uma maneira extremamente superficial, resumido apenas ao ato carnal do sexo, mas falo do amor de Cristo, que levou-O a suar sangue, a ser espancado e torturado de todas as formas e, por fim, acabar morto numa cruz; falo do amor paulino, que levou o apóstolo a abrir mão de todo o conforto e tranquilidade para cruzar o mundo conhecido levando a mensagem de Cristo aos gentios, padecendo, por causa disso, de grandes perseguições -apedrejamento, surras, ataques morais-, terminando por ser preso numa terrível masmorra romana e decapitado à mando de Nero. Ora, como Paulo falaria doutro amor, senão do amor sacrifical? Paulo não poderia falar de amor relacionando-o ao que comumente pensamos, se ele preferiu a castidade, afim de servir integralmente à Deus e morrer por Ele, assim como Jesus o fez pelo apóstolo! Jesus também não poderia, ao falar de amor, estar sendo tão superficial quanto nós, pois também manteve-se casto, detido exclusivamente em Sua missão sacrifical nesse mundo, até porque o próprio amor que Ele por nós demonstrou foi essencialmente o  privar-se de tudo o que é carnal, de todo o conforto e sossego, para viajar curando, perdoando pecados, expulsando demônios, desafiando fariseus, alimentando famintos, rejeitando bajulações e, por fim, deixando-se crucificar. Ora, como alguém ousa usar as palavras de Cristo e de Paulo para incentivar a libertinagem? Para estimular algo que geralmente nem amor é, aproximando-se mais de uma relação puramente sexual e egoísta? Falta honestidade e entendimento - Romanos 1:26-28 deixa claro que tudo isso se resume em paixão carnal e perversa. Amor não é "sentimento do coração", pois a própria Bíblia afirma que o coração é extremamente enganoso e vil -Jeremias 17:9; Provérbios 3:5.
O amor bíblico, segundo Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, excede em muito a razão, pois está além do alcance de nossa compreensão profana. Ora, nenhum ser humano consegue, naturalmente, amar como Jesus amou, nenhum!! E essa é a graça do cristianismo: ele existe para oferecer ao ser humano tudo aquilo que ele carnalmente não consegue e não quer. Ora, quem quer, naturalmente, amar como Cristo? Ninguém quer abrir mão do conforto e da própria vida em nome do próximo - é mais fácil aceitarmos o amor do que exercermos. Mas é exatamente isso que Deus nos propõe: amar à Ele e ao próximo, abrindo mão de nossa própria vida, de nossa riqueza, de nosso conforto -Lucas 9:23. Se não fosse assim, que razão teria a fé cristã? Ora, se estivesse oferecendo algo que todo mundo naturalmente já procura, seria inútil. Eis aqui, portanto, algo que não pode ter vindo da mão de um homem, pois nos incentiva a coisas que ninguém, de fato, quer e que, portanto, só pode vir do próprio Deus, o que se evidencia ao analisarmos a perfeição de um pensamento assim, pois o único remédio em prol de uma sociedade imaculada é o amor, o amor descrito na Bíblia!! Se todos vivessem o amor de Deus nos relacionamentos humanos, ninguém deixaria o próximo padecer qualquer necessidade, todos seriam saciados, porque Jesus nos ensina a, amando como Ele nos amou, se necessário, até abrirmos mão de nossa própria vida, -João 15:12- e pra quem ama à ponto de entregar a sua vida, não custa abrir mão de riquezas e pertences para o auxílio daquele que está envolto em privações -Mateus 5:39-44. João Batista também nos ensina algo semelhante em Lucas 3:11-14. A Parábola do Bom Samaritano, por fim, exemplifica bem o que acabou de ser dito: esquecendo-se de nossos preconceitos e inimizades, devemos auxiliar, abrindo mão do nosso tempo, recursos e até fama -Marcos 2:16-, aquele que está necessitando. O texto, por sinal, se desenvolve dentro da questão de "como adquirir a Vida Eterna", o que é, no mínimo, estranho, porém é exatamente o que entendemos quando lemos Lucas 10, à partir do verso 25, concluíndo no 37.
Existe uma questão interessante sobre essa assunto que podemos basear em Mateus 16:24-26:
"Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?"
Ora, o texto diz que aquele que quer, de fato, seguir a Cristo, precisará valorizar menos a sua vida do que a vida dO Senhor, permitindo-se padecer de todo o sofrimento e privação que, por ventura, lhe sobrevier por causa de sua fé e determinação cristã -Filipenses 4:11-14. Então lembro-me de Lucas 12:9: "Mas quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus." O que isso tem em relação ao texto de Mateus? Simples: negar a Cristo diante dos homens é algo muito fácil, basta, não abrindo mão de sua própria vida, ou seja, permitindo-se dominar pelos prazeres, ignorar a vida de Cristo, vida essa que Ele quer demonstrar ao mundo através do cristão. Concluímos, com base nisso, que somente pode ser de Deus aquele que O ama e somente ama a Deus aquele que abre mão de sua vida, deixando a vontade dO Pai ter primazia. Como melhor podemos demonstrar esse amor, no qual abrimos mão de nossa vida? O único cenário onde ele se desenvolve é entre os homens, pois se Lucas 12:9 diz que negamos Cristo ao vivermo carnalmente diante dos homens, O pregamos vivendo a Sua vida diante destes mesmos homens. Como, então, viver a vida de Cristo? Demonstrando o amor dEle, que é sacrificial e desinteresseiro, utilizando-se de tudo o que temos e somos como ferramenta em prol do bem material e eterno daqueles que nos cercam. Essa mentalidade, fundamentada em absoluto amor, é tudo o que precisamos, após entregues aO Salvador, para desenvolvermos a nossa fé e, por conseqüência, ignorar isso é o mesmo que ignorar Deus, porque Ele é amor e, de antemão, nos preparou para as obras em prol do bem dos outros -1 João 4:16; Efésios 2:10. A melhor forma de amar a Deus é, por amor à Ele, amar as Suas criaturas todas, criaturas estas que Ele ama ardentemente, à ponto de ter enviado o Seu amado filho para a humilhação e morte em seu favor -João 3:16-, logo, o amor em nós é antes uma obrigação para com Deus, realizada até mesmo contra a nossa vontade, do que um mero sentimento humano - 1 João 4:20.
Com base no raciocínio lógico desenvolvido acima, chegamos ao ponto crucial de toda a Lei e de todo a Nova Aliança, no qual tudo se baseia, todo o sentido da fé se desenvolve, todo a razão de "ser ou não ser" se alicerça: "O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único SenhorAmarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes." Marcos 12:29-34.

Deus pede que O amemos acima de todas as coisas e, na lógica do texto, isso significa que o amor por Ele deve ser maior do que o amor por nós mesmos. Deus quer que o amemos como sendo o nosso ÚNICO DEUS, sem idolatria a nós mesmos, fazendo-o com toda a sinceridade, sendo Ele quem ocupa todo o nosso coração, oferecendo-O toda a nossa alma para que habite, permitindo que domine os nossos pensamentos e atitudes, e, por fim, conforme o versículo dá a entender, nos disciplinando para, até forçadamente, amá-Lo - isso quando essa não é nossa vontade máxima. Amando primeiramente - e ardentemente- à Deus, devemos amar o nosso próximo -o que é conseqüência-, fazendo-o como amamos a nós mesmos, ou seja, menos do que amamos à Deus, mas, ainda assim, de modo o bastante a se igualar ao zelo que temos com a nossa própria vida. Um exemplo prático desse amor é tal: se teu próximo deve ser amado como tu te ama, ao ver um mendigo esfomeado, dê-lhe, no mínimo, metade daquilo que você mesmo está comendo. Simples, não? Nem tanto! O fato é que isso é seríssimo, pois, negando amar o teu irmão como ama a ti mesmo, está te colocando num nível de superioridade em tua vida que compete com a primazia de Deus, já que está beirando idolatria, além do fato de você, nitidamente, estar indo contra a vontade dO Pai, que é pleno amor, logo, desrespeitando-O, assim evidenciando a verdade de que você não O ama com todas as tuas forças, o que pode determinar se, de fato, você está nEle ou não. Não digo que essa realidade precisa ser natural em nós e que quando não sentimos algo profundo pelo próximo, não estamos salvos em Cristo, pois a Bíblia nos ensina a lutar contra as nossas vontades carnais e, utilizando-se até mesmo da força, ir no rumo oposto ao que nós realmente queremos, isso exige disciplina e esforço, não sendo uma vontade e sentimento natural. Como já disse, amar plenamente não se baseia em sentimento, se baseia em obra, e é isso que estou querendo deixar claro: não amar, em obras, o teu próximo, indica grande individualismo egocentrista na tua vida, o que ataca o Senhorio do Pai em teu ser, além de ser escancarada desobediência da tua parte para com Deus, demonstrando uma realidade alarmante de falta de amor por Ele -Tiago 1:22-27.
Sobre os Dois Grandes Mandamentos do amor, Cristo sabiamente disse o seguinte -Mateus 22:40: "Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas." Isso significa duas coisas: quem não ama a Deus e ao próximo, está lançando nas chamas a Bíblia inteira, descumprindo TUDO o que está escrito, mas, por outro lado, quem pratica estas duas coisas, está, automaticamente, fazendo TUDO o que é necessário -depois, é claro, de confessar Jesus como Senhor e Salvador. Em resumo: amar a Deus e ao próximo é um conceito que, quando bem compreendido, nos afastará do pecado, não por medo -1 João 4:18-, mas por amor à Deus e ao próximo, assim como nos fará cumprir, de coração, tudo o que O Senhor nos pede, pois, amando-O e amando ao próximo, automaticamente realizaremos as boas obras, evidência do caráter de Cristo em nós, evidência de Sua habitação em nosso ser.
Veja como o cristianismo não tem nada com mero cumprimento de leis! Trata-se da formação do amor de Deus em nós e a demonstração desse amor aos outros, já que tudo o que Deus nos pede para fazer por Ele está fundamentado em amor, cuja razão está na manutenção da vida, tanto a nossa quanto a do próximo. Não trata-se, por exemplo, de algo como o hinduísmo, do qual os fiéis, há alguns dias, consumaram um ritual envolvendo o abate sacrifical de 15 mil búfalos, o que apenas promove a fome e a violência. Não, Deus só nos pede para fazer coisas que, de modo a ser óbvio, promovem a vida em toda a sua plenitude. Quando compreendemos, pela observação do Universo, que o Deus Criador só pode ser pleno amor, então concluímos que o cristianismo é a única "religião" que pode ser verdadeira -"Inescapável" e "Pandemia". É sobre a demonstração desse amor que falaremos na seqüência.
Veja bem, Jesus mesmo disse que amando à Deus e ao próximo poderemos fazer tudo o que está contido na Palavra e, por isso, vou testar essa verdade. Você, cristão, que ama a Deus, amando o próximo, certamente cumprirá a Grande Comissão -Mateus 28:18-10;  você, cristão, que ama a Deus, amando o próximo, certamente não o julgará -Mateus 7:3; Romanos 2:1-4; você, cristão, que ama a Deus, amando o próximo, certamente não fará acepção de pessoas, tentando escolher quem pode ou não frequentar uma celebração da Igreja -Tiago 2:1 e Romanos 2:11; você, cristão, por amor à Deus e ao próximo, aceitará, por exemplo, o homossexual como o pecador que ele é, assim como você, procurando, também por amor à Deus e à ele, a sua cura, que não vem pela pressão e opressão -Mateus 9:12; você, cristão, por amor à Deus e ao próximo, sairá de sua zona de conforto e irá para lugares que a tua carne, acomodada, repudia, levando mantimentos de tua própria casa -que, na verdade, são de Deus- e o Evangelho aos idosos em ancionatos, aos deficientes mentais em escolas especiais, aos mendigos embaixo de viadutos, aos drogados nas esquinas à noite, às prostitutas na beira das rodovias, aos presidiários em suas prisões, aos pobres em suas vilas... Sim, você fará isso!! Você, cristão, por amor à Deus, fará questão de aniquilar todo o racismo, todo o ódio, toda a violência física e verbal, todo o julgamento embasado em arrogância e maldade, sim, você fará questão de promover o julgamento de tua carne, que é incessante inimiga de Deus! Você fará questão de mortificar o teu comodismo, o teu individualismo e a tua ganância também por amor aos próximos, pois aquela prostituta da rodovia é tida com repúdio por quase todos e provavelmente ninguém chegou-se à ela em amor e lhe falou de Cristo, assim como o drogado da esquina, que pode usar da droga como escape para uma vida totalmente estraçalhada - 1 Pedro 1:22; Efésios 4:15. Você, cristão, por amor à Deus e ao próximo continuará sendo visivelmente um filho de Deus enquanto estiver com tuas companhias mundanas, pois, te vendo, vendo o teu exemplo e a vida que você leva, aqueles que sofrem nas garras desse mundo injusto e cruel, poderão encontrar respostas e salvação. Você, cristão, por amor à Deus e ao próximo, não olhará pornografia na internet, primeiro porque isso desagrada à Deus, ao Seu padrão moral e ao ideal de Sua criação -assim como todo o pecado- e, segundo, porque, amando as pessoas que mergulham no universo do sexo, não estimulará essa indústria, que aniquila a vida de milhares, sejam promotores ou consumidores, enveredando-os em vícios mortais e na destruição e desvalorização de seu corpo, espírito e nome -Romanos 1:28-32, atenção especial para os versos 28 e 32, vide também Mateus 5:28 e Tiago 4:4. Você, cristão, por amor aO Criador e ao próximo, também não terá relações sexuais com ninguém antes do casamento, pois honra teu Deus, honra a ti mesmo e também honra o outro, que não quer usar como objeto para teu prazer egoísta, que não quer perverter e fazer pecar contra O Senhor -Mateus 18:6. Você, cristão, por amor a Deus irá adorar em louvor, mas por amor a Deus e também ao próximo, procurará por músicas cujos ritmos e letras sejam úteis, aplicáveis e impactantes para os incrédulos em suas devidas realidades, promovendo mudança de vida. Você, cristão, não falará apenas de bênçãos e calmaria, mas, em verdade, por amor a Deus e ao próximo, deixará que os incrédulos e novos cristãos saibam da luta, da privação, da dor que esse estilo de vida promove, não mentirá, não os irá, pela mentira, fazer tropeçar -pois "meia verdade" é igual a completa mentira-, por isso você falará de pecado, de Juízo, de Inferno e de mudança de vida! Falará do "vinde"-Mateus 11:28-, mas, também, do "ide" -Mateus 28:19-20 e Mateus 10:16-19. Você, cristão, também irá para os cultos de tua igreja, porque ama a Deus e, com sinceridade, quer conhecê-Lo mais, também porque, amando os teus irmãos, quer ter a oportunidade de demonstrar-lhes isso, de, amando-os, partilhar com eles tal amor - isso em atitude, em postura -, desenvolvendo, juntamente com a congregação, o amor dO Pai. É por isso que a Igreja é essencial nesse mundo, não para enriquecer, não para ter mídia, não para fazer shows, mas para ser um reduto onde, independentemente do que aconteça nesse mundo, o amor prevalece na essência, o amor de Cristo se desenvolver na plenitude, sem politicagem, sem abusos, sem guerras e julgamentos, onde os líderes são, por amor às "ovelhas" e aos incrédulos, os maiores servos entre todos -Tito 1:5-9; Marcos 10:43-44- e onde cada um, movido pelo exemplo de Jesus, se prontifica a "lavar os pés" do outro -João 13:14; Colossenses 13:3. Filipenses 4:8 trabalha bem com a questão de santidade, nesse parágrafo trabalhada.
O amor! Esse é o marco decisivo do cristão, é o diferencial, o maior de todos, o mais chamativo, a única imagem de Cristo que os incrédulos terão para ver. Nada do que fizermos nesse mundo tem sentido sem amor. Nada nesse meu blog faz sentido sem o amor, primeiramente por Deus, a quem o dedico, e, então, pelos próximos, a quem quero convencer sobre O Pai e sobre a conduta cristã. A própria igreja não tem valor nenhum se não exercer o amor, se mergulhar no capitalismo, na disputa política, na guerra contra as classes e massas. É claro, a igreja, por amor a Deus e ao próximo, defenderá a verdade, mas, também por amor a ambos, não incitará o ódio de ninguém, pois ela, fundamentada em amor, jamais deverá deixar o ódio como marca - "a árvore boa produz bons frutos"-Mateus 7:17. Jesus disse que por meio de nosso amor, fundamentado nEle, seríamos reconhecidos como servos Seus -João 13:35-, ou seja, não há melhor evangelismo, nem melhor defesa da verdade cristã, do que a demonstração prática daquilo que ela prega, daquilo que Jesus disse e fez! Ora, a fé sem obras está morta -Tiago 2:26! Cristãos sem amor, se é que podem ser chamados de "cristãos", são exatamente iguais aos mundanos, ou melhor, são mundanos, não causando diferença nenhuma numa sociedade totalmente mergulhada no individualismo e arrogância, e não é para isso que Cristo veio ao mundo, logo, o dito "cristão" sem obras, sem sabor, sem promover diferença nenhuma -a não ser para pior, como um mau exemplo-, não merece nada além do que ser lançado fora e pisoteado -Mateus 5:13- e, quem sabe, é exatamente isso que lhe acontecerá no dia em que, diante de Deus, for julgado pela sua hipocrisia e omissão -1 Pedro 1:17; Tiago 4:17; Mateus 12:30; Romanos 2:6-11.
A conclusão mais óbvia disso tudo é que, sem amor não existe cristianismo e, sem cristianismo não existe o perfeito amor, que é o de Cristo, O Perfeito. É exatamente por isso que o nosso mundo, que nega O Salvador, está, cada vez mais, mergulhado na frieza. Nós, cristãos, só o somos se amarmos e ponto final!! Nós, cristãos, só temos utilidade se tivermos amor!! Mas pense, é fácil ter "amor" pela vovozinha que quer atravessar a rua, mas se você, fazendo-o por ser mais tranquilo e cômodo, nega-se a sentar-se com um mendigo e, ignorando o cheiro, conversar com ele, se preocupar com a sua vida, perguntar-lhe sobre como sobrevive ao inverno, como consegue se sustentar e, por fim, chegar ao ponto central de tudo, que é Cristo, então, simplesmente, não tem amor, mas, no teu comodismo, com base na lei do mais fácil, é o rei da tua vida, não permitindo-se, por amor à Deus, deixar-se usar como uma ferramenta de amor ao próximo, seja ele quem for - você não escolhe quem tem o "privilégio" de receber o teu amor, Deus é que te escolhe para, gratuitamente, despejar o Seu amor para com todos aqueles que Ele quer, ou seja, todo mundo -João 3:16; Gálatas 3:28. Esse conceito é muito simples: se Deus é amor e Ele ama, inclusive, o mais podre dos homens, você, amando à Deus, também deverá amar esse homem. Quem não ama, não está em Deus e não é de dEle, pelo contrário, faz o que é satânico, carnal e, portanto, é do Diabo -1 João 3:10. Ora, sendo assim, aquele que não ama está condenado ao mesmo Inferno para o qual está condenado Satanás!!! Essa história de "comodismo cristão" não existe, pois se você está acomodado, não é cristão e não está em Deus, cumprindo muito melhor a vontade do Pai da Mentira do que a vontade de Deus.
Concluo essa postagem te exortando para refletir sobre a tua vida e sobre a igreja de nossos dias. O quanto eu e você temos sido cristãos? O quanto devemos mudar para sê-lo plenamente?! O amor é um assunto sério, sem ele é impossível agradar a Deus, sem ele é impossível fazer qualquer coisa que leve a marca de Cristo e, portanto, sem ele, não há salvação, pois o amor de Deus é o motivo primordial para Ele nos perdoar e salvar, logo, se não o fazemos também para com os próximos, demonstramos que compreendemos muito pouco o significado daquilo que Deus fez por nós, evidência do quão pouco concordamos com o que O Pai nos fez, pois, na prática, fazemos -e, portanto, queremos- o oposto -Mateus 7:12. Quem teve a "dívida" perdoada por Deus, se, por falta de amor, não perdoar as "dívidas" dos próximos, corre o risco de perder a graça imerecida que anteriormente recebera -Mateus 18:23-35. Ora, isso é muito lógico! Isso é totalmente justo!! A salvação não é por obras, é pela fé, mas a perseverança na fé salvífica é, sim, pelas obras -Tiago 1:21, 2:14. Mera "fé" não é algo decisivo, pois somente "crer" não significa nada se não houver a prática, a teoria é morta e inútil se não for exercida!! E a melhor - e única - forma de exercer toda a teoria bíblica é fundamentando-se no amor!! Sem amor, repito, nada faz sentido, nada tem razão nenhuma, sem amor nós somos inúteis, sem amor nós somos satânicos, sem amor estamos fadados ao Inferno!! E essa é uma realidade inegável. 1 Coríntios 13:1-2:
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria."

De qualquer forma, o medo do Inferno não pode, jamais, ser um estímulo para se exercer o amor, pois esse amor, fundamentado no medo, não é bíblico e, também, não é genuíno, é interesseiro. O simples fato de o cristão estar num relacionamento de initimidade e gratidão com Deus deve fazê-lo buscar agradá-Lo em amor, o simples fato de pessoas estarem padecendo de todos os tipos de necessidades, privadas do amor dos próximos, deve impulsionar o cristão que, em genuíno amor, dá-se em prol do bem daqueles que ele ama, daqueles que Deus ama mais do que tudo, mais do que o Seu Filho. Deus ama o teu próximo? Ame-o também, por amor à Deus e, logicamente, por amor ao indivíduo. Quem odeia aquilo que Deus ama, realmente consegue amar à Deus?! Lembre-se disso: nada é certo só por ser "certo", o que é correto o é simplesmente porque coopera com a vida, seja a tua, seja a o próximo ou seja a vida de Deus em ti e, da mesma forma, nada é errado simplesmente por sê-lo, o que é errado o é porque atenta contra a vida, quer seja a tua, quer seja a do outro, quer seja a de Deus em ti e no próximo. Não tem como amar a Deus sem amar ao próximo e não tem como amar ao próximo sem, antes, amar a Deus! Deus, pela Graça, te dá, primeiramente, o Seu amor e, depois, você o desenvolve amando-O e amando ao próximo - assim, também, amando-O, pois amar o próximo é amar a Deus e amar a Deus é amar o próximo, já que Deus é amor e de um servo dEle, tomado pelo Seu Espírito, só pode -e deve- sair amor -Lucas 6:44-45. Quem, uma vez na Videira, que é Cristo -amor-, produz fruto que não Lhe é típico -maldade-, será lançado fora, nas chamas, pois já não pertence à Ele -João 15:5-6.
Guarde isso: o amor depositado em ti não pode vir de ti mesmo, mas da parte de Deus e do próximo; da mesma forma, o amor depositado no próximo não deve vir dele, mas de Deus e de ti! Trata-se de um compromisso mútuo, no qual é necessário haver unanimidade no Pai. Leia Filipenses 2:3-4 e Romanos 12:13-20, ênfase no verso 16.

Natanael Castoldi

Leia também:
-O Mandamento
-Gratidão
-Bravura
-Salvos pela dor
-Nas areias do Coliseu
-Um Só Caminho
-A Dança da Morte
-Moral?
-De fato cremos?
-Quem somos?
-A Rebelião
-Seriedade
-"Ímpio justo"?
-Camuflado
-Cristianismo teórico

domingo, 13 de novembro de 2011

Evidente

Volta e meia me deparo com o anseio de escrever sobre assuntos polêmicos e incertos, o que, confesso, produz em mim grande anseio, porém, como este ano, em especial, tenho usado para desbravar o universo do conhecimento teológico, deparar-me com questões problemáticas é inevitável e eu, que tenho alguns problemas em conviver com a dúvida, coisa que com a qual tenho aprendido a lidar -"Está em oculto"-, não consigo fugir do desafio de enfrentá-los e, sem temer, talvez até ousadamente demais, o faço. O que segue nessa postagem trata-se de um aprofundamento de conceitos já bem desenvolvidos nesse blog, mas, como já faz tempo que não falo do assunto, meu pensamento se desenvolveu e estudei o Novo Testamento, creio que seja interessante dar uma resposta mais conclusiva - falo de predestinação e perseverança na salvação, coisa bem fundamentada nas postagens "Anticristianismo cristão", "Pedindo pra morrer" e "Ímpio justo?".
Nos últimos meses, principalmente depois da últimas postagens, um conceito tem se fortalecido em mim e no qual me baseio para desenvolver meus pensamentos teológicos: o cristianismo é o apogeu de toda a lógica, razão e verdade, pois na profundidade de todo o pensamento e conhecimento, Deus é inescapável. Sei que a simples observação da natureza criada não só mostra que Deus existe, mas deixa escancarado todo o Seu poder e padrão moral, a natureza evidencia o Deus cristão, como você pode ler em "Inescapável". Ora, se Deus é logicamente inescapável, se o cristianismo é totalmente viável, lógico, óbvio, bem alicerçado na razão, então por que temer desenvolver conceitos teológicos segundo o que meu pensamento conceber como a questão mais lógica, razoável? Se o meu pensamento estiver baseado em genuína razão, certamente não estará indo contra a verdade bíblica. O que quero dizer, leitor, é que, havendo questões problemáticas dentro da fé cristã, como o assunto que seguirá, parece-me que o caminho mais coerente é resolvê-lo pelo crivo da mais pura lógica, pelo crivo daquilo que se observa, que se percebe nesse mundo já que, convenhamos, a Bíblia, sendo a verdade, nunca irá negar as realidades. Com isso não quero dizer que a razão deve ser colocada antes das Escrituras como autoridade sobre nós, até porque isso é impossível, já que a plenitude da razão está na Palavra, quero, sim, dizer que é viável, após fundamentar-se bem na Bíblia, utilizando-a como mecanismo máximo para se compreender o mundo, encontrar, através da lógica, que ela tão bem nos ensina a usar, as peças que faltam - ou melhor, que não faltam, apenas são difíceis de encontrar. Não, não creio que existam paradoxos na Palavra.
Valendo-se desse raciocínio, o que me parece mais óbvio, concebendo um Deus perfeito em amor -1 João 4:16- e justiça -Salmos 7:9-,  o que se percebe pela análise da criação e leitura das Escrituras, é que Deus não selecionou uns poucos para a salvação, pois Seu amor pleno, podendo permitir a salvação a todos, não O faria reduzir a oportunidade à alguns e, também, a Sua justiça, perfeita, não pode abrir excessões: seria justo destruir toda a humanidade, mas, havendo a justa oportunidade de reconciliação com O Pai, tornar-se-ia injusto que, num mundo inteiro de pessoas igualmente caídas, apenas uma parcela dos iguais pudesse chegar-se ao Pai, enquanto todo o restante, sem chance alguma, fosse condenado eternamente. Isso não combina com um Deus relacional e motivado para reconstruir a humanidade perdida com a Queda. Não quero dizer que a predestinação incondicional não possa ser a verdade, pois, também, não parece-me tão distante a possibilidade de Deus ter escolhido alguns para salvar e recomeçar a humanidade perdida, enviando servos Seus para a procura destes, mas quero deixar claro que, numa análise de questões inquestionáveis, enquadra-se bem melhor a idéia da livre escolha e de uma oportunidade universal de salvação, que é o que prega João 3:16. Esse primeiro ponto se conclui assim: se duas questões avessas entram em atrito, aparentando paradoxo, o meu crivo em prol do desempate, que é a lógica, a razão fundada sobre conceitos invioláveis, como os atributos de Deus, é ferramenta viável e segura. Ora, havendo versículos determinantes sobre duas realidades opostas -predestinação ou livre arbítrio-, mas ambos passíveis de interpretação, me sinto bem mais seguro em interpretar os relativos a predestinação à luz do livre arbítrio, já que do lado deste há todo o peso da lógica, da razão. Se temos um Deus que dá liberdade porque nos ama plenamente, além de ser justo, então a percepção mais óbvia está na verdade de que temos o direito ou não de escolhê-Lo - que TODOS têm esse direito. Só estamos nesse mundo para termos a oportunidade de escolher! Mateus 7:13-14. É claro que alguns têm menos oportunidade de conhecer O Pai, mas Deus, sabendo disso e justo como É, não lhes cobra além da sua pequena medida - Lucas 12:48; Romanos 2:11-16 e 14:12.
Nessa questão me dou o direito de repetir aquilo que já falei outrora, vide a postagem "A Razão": o livre arbítrio, aquele no qual você realmente escolhe se quer ou não ser de Deus - não o falso, que alguns ainda ousam chamar de liberdade, no qual você é predestinado a ser salvo ou não e, independendo de sua vontade, Deus te faz querê-Lo e, para os que Ele não o faz, não há chance nenhuma de virem a conhecê-Lo, porque Ele não quer, o que me soa muito estranho -, o real livre arbítrio, baseado pura e simplesmente em escolha sem manipulação, sem teatro, parece-me um dos pontos-chave para uma compreensão sóbria do cristianismo. Por que estaríamos aqui hoje, nesse mundo, sofrendo e sendo testados, se o veredicto já foi dado? Por que a Bíblia existe para nos orientar à salvação, se ela vem independentemente de nossa vontade e se desenvolve sem o nosso aval? O sacrifício de Cristo é representativo num universo onde as pessoas já estão predestinadas à salvação desde antes da fundação do mundo, independendo de qualquer coisa?! Ora, como podemos entender as motivações das ações de Deus nesse mundo sem tomarmos ciência da liberdade imensa que temos, aquela que, por sinal, derrubou-nos no Éden? A liberdade de escolha é uma verdade bíblica massivamente apresentada ao longo de TODA a Palavra; Deus, justo juiz, não seria plenamente justo se julgasse os seres humanos por algo que eles, predestinados a desagradá-Lo ou não, fizeram sem opção - estando tudo, de antemão, determinado. Veja bem: leis só servem para o reino dos livres, afim de pôr limites aos que têm opções de "ser ou não ser", já numa masmorra, onde os prisioneiros estão acorrentados à parede e nada podem fazer, nenhuma lei é necessária, pois eles não precisam de limites, já que limitação é tudo o que conhecem. Eles são obrigados a permanecer presos no mesmo metro quadrado, sem liberdade de escolha, sem alternativas e, logo, sem terem como quebrar lei alguma. Da mesma forma, havendo a Bíblia para nos auxiliar, parece-me que a liberdade plena é inescapável - se, independendo de nossa vontade, somos escolhidos e usados, predestinados a agradar à Deus, então nenhuma lei, nenhuma regra, nenhuma orientação é realmente necessária, pois tudo o que formos fazer, presos à obrigação, o é simplesmente por sermos predestinados para tal.
Nessa postagem não estou falando de "calvinismo" e "arminianismo", ou "teísmo aberto", não quero defender o pensamento de Armínio e julgar o pensamento de Agostinho, quero, simplesmente, compreender essas questões à luz da Bíblia, chegando o mais próximo possível do "cristianismo", a compreensão das coisas pela ótica de Cristo, que é Deus. O próximo tópico que abordarei acerca dessa questão se refere à textos que não nos trazem doutrina explícita e que, por isso, não são comumente lembrados quando discutimos o assunto dessa postagem, mas que, nas entrelinhas, no fundamento da questão, apresentam uma verdade eterna, que serviu de parâmetro para a ação de Deus em determinado evento e que, portanto, se aplica também a nós. Todo o Antigo Testamento se fundamenta em liberdade de escolha, já que vemos Israel constantemente se rebelando contra a Lei e se afastando de Deus - ora, é lógico que isso não era a vontade de Deus, não fazia parte dos Seus planos, mas, havendo livre arbítrio para os homens, foi um resultado da opção humana, logo, não havia uma "predestinação" inserida nesse contexto. Os Livros Proféticos são a maior prova de que Deus nos dá plena liberdade de escolhermos ou não por Ele, caso contrário, por que Ele irar-se-ia tanto com os filhos de Israel quando O entristeciam? Num contexto de predestinação para "ser ou não ser", a ira se torna de complicada natureza, pois aos que erram não há oportunidade para virem a acertar e aos que acertam, não há oportunidade para escolherem errar. Por que irar-se contra quem obrigamos a não fazer o que é correto? Ora, na predestinação há muitos que não podem escolher por Deus, porque não foram predestinados, permanecendo, então, sem opção, em seu estado de morte e maldade, distantes de qualquer chance de agradar à Deus, somente poderão desagradá-Lo e a ira por esse desagrado, inescapável, torna-se questionável. Agora, se analisarmos do ponto do livre arbítrio, então sim, a ira faz todo o sentido, porque tendo a opção de agradar à Deus, segundo a Sua vontade, os homens, livres, decidiram por ignorá-Lo, tratando-se, então, de uma ira legítima, fundamentada sobre uma culpa verdadeira, advinda de uma maldade real, produzida intencionalmente, não obrigatoriamente. Nos Livros Proféticos Deus também trabalha com condições, como vemos em Malaquias 2:2: "SE". Ora, condições indicam alternativas e alternativas indicam liberdade de escolha. De que adianta dar alternativas, se não houver liberdade? Dar a "liberdade" de o homem agradar à Deus quando ele é incapaz de fazê-lo é como oferecer uma jarra vazia e permitir que tua visita mate a sede. Permitir o impossível é o mesmo que não permitir - além disso, é irônico e me soa mais como maldade do que qualquer outra coisa. Parece-me que Deus só pode cobrar do homem aquilo que, de fato, o homem, em sua liberdade, fez ou deixou de fazer. A oportunidade de "ser" e "fazer" com base em liberdade é muito clara na Palavra - João 15:14.
O raciocínio que quero aplicar aqui é o seguinte: havendo um "paradoxo" no Novo Testamento acerca de predestinação incondicional e livre arbítrio, sabendo que os versículos de ambos os lados são passíveis de interpretação, posso recorrer a uma realidade explícita no Antigo Testamento, uma verdade eterna por detrás do contexto histórico, para desempatar. Se a liberdade de escolha é determinante no Velho Testamento, há grandes chances de continuar existindo no Novo Testamento. Dessa forma, interpreto os versículos mais usados em prol da predestinação à luz do livre arbítrio, decisivo em grande parte da narrativa bíblica. Vemos muito mais liberdade explícita e implícita na narrativa das Escrituras, do que imposição, indicando que o padrão de Deus prioriza o livre arbítrio e, como sabemos, Deus não muda, Ele É.
Até agora vimos que o livre arbítrio é uma opção bem mais viável e aceitável partindo do ponto da lógica e razão, da natureza e necessidade do cristianismo, segundo o padrão moral de Deus e com base nos conceitos que o Antigo Testamento nos mostra. Mas nada disso faz sentido se não entendermos alguns fundamentos da questão aqui tratada:

O primeiro ponto, a fundamentar a idéia de que somos predestinados, está na natureza do homem caído. Os adeptos dessa doutrina acreditam que o homem é tão naturalmente vil que jamais, em hipótese alguma, pode desejar algo bom, desejar Deus, pois seu coração é terrivelmente enganoso e inimigo dO Pai, havendo a necessidade de o Espírito Santo entrar, purificar e fazer renascer o espírito do indivíduo, para que, santificado, tenha uma genética espiritual apta a "escolher" por Deus. Portanto a única possibilidade, segundo eles, é que o novo nascimento aconteça antes da conversão, o que parece não combinar com a verdade bíblica. Eu simplesmente não consigo ver o homem caído dessa forma, para mim é um mito essa história de que o homem sem Deus é incapaz de fazer qualquer coisa boa, qualquer coisa nobre, é incapaz de optar pelo que é bom, pois, na prática, vemos incrédulos falando verdades, ajudando necessitados e morrendo em prol doutros - se a prática mostra isso, então a teoria está precipitada. O homem possui, numa região do cérebro, uma área onde estão inseridas as verdades morais, portanto todo o homem naturalmente sabe quando está fazendo algo certo ou errado e esse mecanismo, em nós colocado por Deus, é um incentivo às boas ações e, mais ainda, ao natural reconhecer de nossa postura incoerente, que faz gritar a nossa consciência. Isso pode servir de estímulo para o incrédulo procurar uma igreja, simplesmente porque a sua consciência gritou alto o suficiente para que, reconhecendo a sua conduta vil e mortal, busque uma solução. Aqui entra outra questão: o ser humano instintivamente busca a sobrevivência, logo, quando a vida está desmoronando, é natural que ele olhe para uma realidade oposta e deseje se inserir nela, portanto, quando o incrédulo está padecendo de infindáveis problemas, ver uma igreja alegre e a Bíblia como solução, é alternativa gritante. Vamos esclarecer um conceito: quando a Bíblia diz que o incrédulo não pode agradar à Deus, ela não diz que ele não pode fazer boas escolhas, simplesmente afirma a verdade lógica de que, distante dO Pai, nada do que fizer terá alguma valia para Ele, pois a salvação não é por obras. De todas as boas escolhas, a única escolha boa que o incrédulo pode fazer afim de agradar a Deus é aceitando-O como Senhor e Salvador - o detalhe é que, à partir do momento em que o incrédulo começa a fazer essa escolha, ele simplesmente deixa de ser incrédulo, concluindo-a na posição de um filho de Deus.
A realidade colocada acima é vastamente observada em nossos dias, até porque muitos incrédulos buscam uma igreja com as intenções erradas, procurando prosperidade e comodidade, idéia essa que o Espírito Santo não iria inserir na mente deles, pois Deus não mente -Tito 1:2-, o que mostra que, por conta, o homem que sofre pode olhar para uma igreja e passar a frequentá-la, com intenções boas ou ruins. O fato é que, mesmo sendo ruim a intenção inicial, Deus pode trabalhar aos poucos na vida do incrédulo através de outras pessoas ou da ação do Espírito Santo, não dentro do corpo, pois não o faria sem a vontade do indivíduo -Deus não "arromba portas", Apocalipse 3:20-, mas "cochichando" no seu ouvido, martelando a sua consciência, afim de fazê-lo compreender a realidade da Nova Aliança. O livre arbítrio prossegue como aquilo que mais perto está do que se observa e experimenta.
O segundo ponto que favorece a idéia da predestinação está no conceito de "tempo". O raciocínio dos defensores dessa idéia é de que Deus, sendo maior do que tudo, está acima do tempo e, sendo eterno, só pode ser atemporal. De fato, a questão do tempo é importantíssima, pois se Deus sabe todo o futuro, então o livre arbítrio inexiste, já que nada iremos fazer que já não esteja determinado, mas como o livre arbítrio é uma doutrina evidente na Palavra, então parece que as coisas futuras não estão determinadas, logo, são passíveis da influência do presente momento. A idéia de que Deus está acima do tempo é precipitada, pois parte do pressuposto de que o tempo é alguma coisa em si mesmo, algo criado, algo para se estar acima, mas não, o tempo não possui imagem, não é uma matéria nem energia, o tempo não é nada além de uma conseqüência e um causador da matéria e do espaço: ele existe quanto algo se movimenta, se desenvolve, e algo só se movimenta e desenvolve onde ele existe. Essa idéia me faz crer que Deus, existindo e se movendo, possui a realidade do tempo em Si mesmo - leia "Ad aeternum". De qualquer forma, se Deus é atemporal, a realidade não muda, o tempo não está totalmente pronto e visível do início ao fim, pois, independendo da atemporalidade de Deus, o universo material é temporal - o que aconteceu não existe mais para ser revisitado e o que acontecerá ainda não existe, pois não aconteceu para ser conhecido. Estar acima do tempo em Si mesmo não implica o pleno conhecimento futuro daquilo que está imerso no tempo, pois a matéria, na qual se desenvolve o tempo, não pode estar em "dois momentos ao mesmo tempo", logo, se toda a matéria do passado está no presente e ainda não chegou no futuro, nem passado e nem futuro podem ser visitados e o futuro prossegue desconhecido. As duas únicas formas de o futuro estar visível agora são: a existência de infindáveis dimensões de espaço e tempo, onde as coisas se repetem num eterno presente, ou se o tempo inteiro, do início ao fim, já aconteceu uma vez e agora está se repetindo novamente, traçando exatamente o mesmo caminho. Ambas opções parecem-me insanas, desnecessárias. Isso diminui a soberania de Deus? Não, pelo contrário, a idéia de que "Deus sabe o que vai acontecer no futuro" é que parece problemática, pois indica que o que acontecerá está determinado, fadado a acontecer, independentemente de Deus e que a Ele somente cabe "saber". Prefiro crer num Deus cuja vontade seja o grande determinante do futuro.
Aqui entramos noutro mérito dessa mesma questão: Deus sabe o futuro! É muito simples compreendermos isso ao entendermos que nada nesse universo é maior do que Ele, O Criador, e que, portanto, nada tem o poder de fazê-Lo fracassar. Se Ele quer fazer algo e tem isso como ponto determinante em Seu trabalho em prol da humanidade, então Ele automaticamente já sabe o futuro: o que Ele planeja acontecerá, pois Ele levantará pessoas, talvez nesse caso até escolherá alguns, promoverá eventos de todo o tipo, enviará anjos... em prol da consumação daquilo de que não abrirá mão. O Velho Testamento, mais uma vez, nos evidencia essa realidade: a Lei Mosaica, desenrolada em Êxodo, Levítico e Deuteronômio, era condicional, fonte de bênçãos aos obedientes e maldição aos desobedientes -Deuteronômio 30:19-, Deus estava dando a chance de Seu povo acertar ou errar, por isso Israel fracassou, porém outra importante aliança, a Abraâmica -Gênesis 12:1-3-, era incondicional, o que significa que, independentemente da liberdade de escolha do povo, O Pai trabalharia num plano irrevogável, Ele mesmo o realizaria por completo, sem a necessidade de aceitação ou rejeição humana, e foi exatamente o que Deus construiu de Abraão até Jesus, o ápice dessa aliança. Isso nos mostra que há coisas fundamentais para Deus dentro de Sua obra, afim de reconstruir a realidade perdida no Éden e, para tais, Ele mesmo trabalha para assegurar o sucesso, outro exemplo disso está na Segunda Volta de Cristo, que O Pai promoverá de uma forma ou de outra, independendo de qualquer fator, Ele sabe que isso acontecerá no futuro simplesmente porque Ele fará acontecer. Por sinal, 2 Pedro 3:9 dá a entender que o futuro realmente está em aberto, pois a volta de Cristo está sendo adiada em prol de uma maior disseminação de Seu nome. Outra questão sobre Deus saber o futuro é muito simples quando Ele é O Criador e, logo, conhecedor de todos os mecanismos de Sua criação, podendo prever as ações e reações daquilo que Ele conhece perfeitamente. Como conclusão dessa parte, com base na razão bíblica, ao lermos um versículo que fala da presciência de Deus, parece viável pensar nessa "presciência" como o conhecimento de algo que ainda não aconteceu, mas que o próprio Pai fará acontecer; de algo que ainda não aconteceu, mas que, conhecendo o funcionamento da criação, Deus sabe que acontecerá.
A próxima questão a ser abordada refere-se aos versículos que falam explicitamente sobre "predestinação". Ao longo de todo esse trabalho eu já lhe dei alguns parâmetros interessantes nos quais basear a tua interpretação dessas passagens e no ponto acima podemos tirar algumas lições importantes. O que farei na seqüência é aplicar o que tenho dito desde o começo:
Romanos 8:30
"E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou."

Em primeiro lugar, "predestino" não significa algo derradeiro e final, mas parece uma vontade, um desejo, um anseio por fazer acontecer algo antes que de fato ele ocorra. Deus "predestina" ao desejar que sejamos salvos, mas é um "destino prévio", que irá se consolidar segundo a nossa vontade, já que da vontade de Deus já é desde O Princípio. Em resumo: você se converte, se entrega ao Pai, que, então, te predestina à salvação, mas, no processo, o teu destino final é opção tua. Deus é quem te predestina, te chama, te justifica, e te glorifica, Ele é quem tem tal poder, você não, mas ainda assim te cabe aceitar toda essa graça imerecida - aceitar é produto de livre escolha.
Deus "predestinou", sim. A "vontade prévia" de Deus ao criar o ser humano era a perfeição, o relacionamento, o homem, originalmente, é predestinado a ser como Ele. Antes da fundação do mundo Deus, quando planejava criar o homem, já o predestinava à perfeição nEle. Com base nesse raciocínio, toda a humanidade, antes da criação do mundo, fora predestinada à perfeição, TODA A HUMANIDADE. A humanidade foi quem Deus predestinou desde o princípio. Mas veja a ordem das coisas no versículo de Romanos: "predestinou"..."chamou". O "predestino" vem antes do "chamado", ou seja, antes de haver um chamado geral para a salvação, a humanidade fora predestinada à ela, havendo um nítido problema entre esses dois momentos, pois, se já há um "predestino", por que "chamar"? Se é um destino definido, não seria mais fácil deixar o tempo passar e a coisa se consumar naturalmente, como predito? Pois é, Deus predestinou a humanidade, que caiu, mas chamou-a de volta para si, Deus chamou toda a humanidade! É aqui que entra outro versículo bíblico, que completa em a idéia de Romanos, este, porém, dito por Jesus: "muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos" -Mateus 22:14. Ora, se Deus chamou muitos, mas escolheu somente alguns, então o ato de escolha de Deus vem depois do ato de predestinar, já que vem depois do ato de chamar. Ele primeiro predestinou a humanidade inteira a ser como Ele, mas ela caiu, então Ele decidiu chamá-la novamente para Si, porém escolheu somente alguns dos que chamou. Repito: a escolha vem depois do predestino, dando a idéia de que, sendo a escolha um ato de seleção, o predestino não o foi, sendo, portanto, uma realidade universal. A questão é: quem Deus escolheu? Essa "escolha" não significa uma eleição incondicional? Não, não significa uma eleição incondicional, pois não parece haver motivos para chamar todos sabendo previamente quem deverá ser escolhido, pois se houve um chamado geral, então há uma oportunidade geral de escolha, caso contrário, seria mais efetivo chamar só os que seriam escolhidos. Por sinal, perceba a ordem das coisas nesse versículo: "chamados"..."escolhidos". O que isso indica? Ora, algo muito simples: Deus escolhe depois de chamar, não antes. Se a predestinação, da forma como é pregada, fosse a regra, então Ele primeiro escolheria e, somente depois, chamaria - porém não é assim que se lê. A lógica de todo esse raciocínio é muito simples: Deus chamou muitos, mas só escolheu aqueles que aceitaram, voluntariamente, a Sua proposta. Jesus, em Mateus 11:28-30, faz esse chamado ao dizer "vinde", mas, repare: Ele apenas chama, não obriga, Ele faz uma proposta que pode ou não ser aceita, que depende da vontade daquele que ouviu, resultando em dois destinos: serão escolhidos, achados em Cristo, os que ouvirem e responderem positivamente a esse chamado -Mateus 7:24- e condenados, lançados nas trevas, aqueles que, ouvindo, não derem bom retorno -Mateus 7:26.
Romanos 8:29
"Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos."

Todo o raciocínio anterior se aplica aqui, mas há algo que quero ressaltar: então fomos predestinados, antes da fundação do mundo escolhidos para sermos conforme a imagem de Cristo? Sim, de fato esse era o plano original da criação e agora é o plano final para a mesma. A mesma humanidade que fora, inicialmente, predestinada para a santidade em Deus, mas que perverteu-se, é a humanidade de hoje, que agora se vê predestinada a ser novamente como no princípio fora. Sim, como humanidade seremos refeitos segundo a imagem de Cristo, que é o plano original e final da Criação, quem aceita essa verdade, portanto, está concordando com esse predestino, esse "destino prévio", almejado antes do "destino real". De qualquer forma, o versículo acima não se refere à salvação, refere-se à formação da imagem de Cristo naqueles que conheceram a Deus -João 8:32-, o que é o "predestino" de todo aquele que se converte, que aceita o sacrifício e o senhorio de Jesus.
João 10:26-28
"Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão."

É óbvio que aquele que não crê em Deus não O escuta e que, quem crê e tem um relacionamento com Ele distingue a Sua voz. É óbvio que somente que segue Jesus pode ser considerado discípulo, cristão, e quem não o faz, não é dEle. Também é óbvio que nenhuma força maligna ou humana tem condições de competir com Deus quanto ao senhorio das "ovelhas", Deus jamais permitirá que um salteador entre no Seu aprisco para roubas as Suas ovelhas, aquelas que estão nEle e querem permanecer nessa situação. Mas aqui entra outra questão: é impossível que alguém entre no aprisco para roubar as ovelhas, mas é possível que a ovelha, tendo livre arbítrio, tome a iniciativa de sair dele - essa é a mesma realidade aplicada no Éden, quando Adão e Eva saíram do Jardim de Deus por vontade própria, após pecarem conhecendo a condenação. Esse texto não dá indícios de que trata de predestinação, de que homens escolhidos naturalmente atenderão ao chamado e irão ao encontro de Deus, o texto, na verdade, fala de uma realidade desenrolada depois do primeiro passo, tal é o entregar-se à Cristo, pois as ovelhas ali figuradas já habitam o aprisco de Jesus, não o escutam de longe para chegarem-se à Ele, mas, estando com Ele, O escutam de perto e O seguem num relacionamento de intimidade, tal desenvolvido com o tempo de vivência.
Os versículos acima podem ser melhor compreendidos à luz dos primeiros versos desse mesmo capítulo de João, que mostram as ovelhas já na segurança do aprisco, visitadas e guiadas pelo pastor. O versículo 3 apresenta uma realidade diferente do versículo 9, pois o primeiro trabalha com uma realidade de salvação estabelecida e o outro dá a entender que aqueles que estão seguros no verso 3 um dia tiveram de tomar a iniciativa do verso 9 e entrar no aprisco, ou seja: as ovelhas que no verso 3 conhecem bem O Pastor, O escutam e O seguem, um dia não O conheciam, não O ouviam e nem O seguiam, tendo que ter dado um passo determinante para chegarem no estágio de eterna segurança. Vale ressaltar que o verso 9 trabalha com uma condição, não uma predestinação, pois utiliza-se do "SE", indicando que aqueles que passaram a fazer parte do aprisco de Cristo o fizeram por livre vontade.

O texto anteriormente citado de Apocalipse 3:20 é derradeiro para compreender o texto de João - até porque, quem sabe, o João do Evangelho é o mesmo João de Apocalipse. Novamente falamos de "chamado". Jesus "caminha" entorno do mundo batendo todas as portas e chamando aqueles que habitam além delas, esperando que alguém O escute e O receba em sua casa. O texto de Apocalipse também é condicional, utilizando-se do "SE". Jesus chama a todos, mas escolhe quem, voluntariamente, lhe abre as portas. Jesus chama a todos, mas tem como ovelhas Suas apenas aqueles que atendem ao chamado e O seguem.
Romanos 9:21
"Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?"

Uma coisa é certa: tanto o cristão quanto o incrédulo foram criados por Deus. O ímpio, sendo como for, é criação de Deus e só existe porque Ele permite, assim como o justo. Talvez esse raciocínio ajude a compreender melhor esse texto. A questão é: como ser "vaso de honra"? Enchendo-se do único que agrada a Deus, Cristo. Como ser "vaso de ira"? Permanecendo cheio de si mesmo. De um lado está O Filho, que viverá eternamente com Deus, do outro está o homem carnal, fadado ao juízo. Sobre Jesus fora despejada a ira de Deus que caberia a nós, logo, aceitando-O, a ira dO Pai já não cairá sobre nós, pois caiu sobre Aquele que, então, passa a nos representa, porém, fora de Cristo, a ira de Deus impera, pois sem Jesus a dívida não está paga e o fogo infernal é o destino. Tanto o condenado quanto o salvo são obra do mesmo oleiro, mas um deixa-se trabalhar melhor pelo Pai, tornando-se o recipiente mais nobre da casa, usado para servir o vinho e a água pura, enquanto o outro, rebelde e mal trabalhado - isso por ter resistido -, servirá para levar restos de comida aos porcos e, quando desgastado, ser estilhaçado. Ora, o mesmo Paulo de Romanos é o de 2 Timóteo e esse mesmo Paulo repetiu a idéia dos "vasos" enquanto instruía seu seguidor, deixando mais claro esse conceito, vide o capítulo 2, versos 20-21:
"Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra."

Percebe? Mais uma vez aparece o "SE", indicando condição. No verso 19 Paulo exorta para Timóteo apartar-se de toda a iniquidade, pois, fazendo-o, tornar-se-ia um vaso de honra. Não me parece necessário falar mais muito sobre o assunto, pois você pode ligar essa idéia ao que já fora falado anteriormente.

Romanos 9:18
"Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer."

O contexto fala do Faraó que, no livro de Êxodo, tem o coração endurecido por Deus. A questão, porém, que temos que levar em conta é que Deus endureceu o coração do Faraó só à partir da Sexta Praga, ou seja, o Faraó endureceu seu próprio coração por cinco vezes, isso porque quis, então, só na sexta, Deus passou a endurecê-lo. É o conceito de Romanos 1:24: se o homem insiste em lutar contra Deus, fazendo constantemente o que Ele odeia, num dado instante O Pai larga-o a sua própria sorte, permitindo que faça o que tanto procura, pois, no final das contas, temos livro arbítrio. Gálatas 6:7 é claro: quem semeia morte, colherá morte!
Romanos 9:11-12
"Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor."

Aqui entra a questão do plano irrevogável de Deus: Ele quer, Ele fará. De qualquer forma, esse texto fala uma verdade que eu nunca discuti: não podemos comprar Deus, suborná-Lo, como imperfeitos, nada do que formos como seres humanos carnais poderá nos levar ao Perfeito, como seres feitos de matéria caída, nada daquilo que sair naturalmente de nós será puro para O Pai. Isso tudo é graça de Deus, que recebemos dEle de maneira incondicional, não importa em que situação de depravação estivermos. De qualquer forma, o texto em questão não está falando de salvação, mas de uma profecia acerca da nação de Israel. Jacó não foi eleito para a salvação e Esaú para a morte, Deus apenas colocou Esaú numa situação de servidão em relação ao seu irmão.
De fato, não planejada escrever um texto exaustivo, como tem sido costume, mas meu raciocínio, que está se desenvolvendo enquanto escrevo, acabou delongando-se, mas como hoje pretendo resolver definitivamente, pelo menos para mim, a questão proposta, não temo demorar-me, já que isso certamente terá valia para a vida inteira. Espero que você também esteja nesse espírito e, por isso, te convido para prosseguirmos. Sigamos para os versículos decididamente pró-livre arbítrio.

João 1:29, João 3:16, 1 Timóteo 2:4 e 2 Pedro 3:9 deixam bem claro que o chamado para a salvação é para todos, para o mundo inteiro, não apenas para alguns poucos. Romanos 10:9 é decisivo: você não está salvo por predestinação divina, mas porque, com a tua boca, voluntariamente, confessou o senhorio de Cristo. Os versículos em questão geralmente são pouco usados na discussão do tema aqui desenvolvido e é esse um dos maiores problemas para a resolução desse assunto: versículos decisivos são ignorados. Outro versículo desse tipo que chamou-me a atenção está em Tito 1:6, que diz que é necessário que os bispos tenham filhos fiéis, ordem que não pode ser encaixada num universo de predestinação, no qual os pais não têm condição nenhuma de cooperar na salvação de seus filhos, sendo que são ou não salvos, porém, se isso está sendo pedido, então há plenas condições dos pais doutrinarem corretamente seus filhos para que venham a se converter - logo, não estão de antemão predestinados para a salvação ou condenação, isso é algo aberto.
Lendo Romanos, escrito pelo mesmo Paulo dos textos anteriores, encontrei uma passagem totalmente embasada na doutrina do livre arbítrio, que, de tão clara, me parece inescapável. Vejamos o que diz Romanos 11:19-24:
"Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. Então não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado. E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar. Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira!"
O contexto histórico não é necessário aqui, pois a verdade eterna por detrás de qualquer interpretação é evidente e derradeira: aquele que permanece em Deus, não permanecendo na incredulidade, será salvo. Ora, "permanecer" é um verbo que designa continuidade, vontade! De qualquer forma, a idéia de enxerto é bem clara: é possível que aqueles que estão em Cristo uma vez sejam cortados e lançados fora, mas, de modo condicional, acabem sendo novamente colocados na árvore, enxertados. Estamos tratando, então, de perda da salvação, mas um retorno à realidade salvífica. Esse texto me lembra de João 15:1-11, que nos trata, sendo cristãos, como ramos ligados à Cristo, a Videira, mas que, uma vez improdutivos, seremos cortados e aniquilados, porque deixamos de receber a seiva de Cristo em nossas folhas, bloqueados pelo pecado. Esse texto fala muito sobre permanência na Videira, o que exige esforço e atitude voluntária. O defensor da predestinação irá dizer que "os ramos cortados na verdade nunca foram ramos ligados à Videira", mas isso atenta contra o que está explícito no texto! Os que foram -são- cortados, só o foram porque estavam ligados à Videira, pois se não estivessem, não seriam cortados, porque isso seria desnecessário - eles definitivamente saíram de uma situação de liga com Cristo para uma de fogo eterno. O mesmo raciocínio é válido para Hebreus 6:4-6 e 10:25-27; 2 Pedro 2:20-22; 1 Timóteo 5:8, 12, 15, 6:10 e 21; 2 Timóteo 2:5, 18, 25-26 e 4:10. É evidente que quando alguém se desvia, sai de uma realidade boa e ruma uma realidade péssima - se na verdade ele nunca esteve salvo, então não se desviou, pois nunca saiu de uma realidade para outra. Não se pode resistir ao evidente.
Hebreus e Timóteo são cartas cheias de apelos para perseverança, conceito que, por si mesmo, já evidencia a realidade que a salvação pode ser perdida, porque se não pudesse, seria totalmente desnecessário trabalhar essa questão. Se é necessário perseverar, então é possível, deixando de perseverar, desviar-se, segundo o que se leu no parágrafo anterior. 1 Timóteo 4:16: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem."

Leitor, para não me delongar mais nessa que, certamente, é uma das maiores postagens desse blog, vou encerrar por aqui, esperando que todo esse trabalho tenha te servido de alguma coisa, solucionado uma questão que, por ventura, estivesse te incomodando. Desde então peço perdão se fui precipitado ou falei besteira nalguma questão, pois não é minha intenção, já que quero, antes de tudo, esclarecer, nobremente, a verdade que me foi colocada. Creio ter chegado a uma conclusão decisiva e que, pelo menos para mim, tranquiliza, não me fazendo crer mais, mas respondendo uma questão intrigante e com a qual não consigo conviver facilmente. Também quero deixar claro que é possível que a idéia que rebati nesse estudo seja a verdade, porém parece-me que Deus, deixando essa parte da verdade em mistério, não espera que tenhamos uma opinião correta sobre a questão, mas que nos posicionemos segundo a melhor compreensão que tivermos. Hoje, mais do que nunca, eu compreendi e, estando certo ou errado, me sinto imerso em grande paz para expôr a minha opinião, que é, segundo a minha sinceridade, o mais bíblica possível, entendo que a Bíblia está, em tudo, de acordo com a mais pura e profunda lógica.
Natanael Castoldi

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