Um Mirante para Verstellen: Persuadidos

Por mais que nos achemos super-cristãos ou grande coisa por sermos humanos, não passamos, no fundo, de seres naturalmente carentes e bobos. O ser humano não vive sem alguém ou algo para se submeter, sempre se prostra a algum senhor, sozinho jamais prossegue, pois há algo em nós que nos condiciona à isso, por mais que desejemos a auto-suficiência e independência. Essa carência e necessidade de apego à algo, de colocar sempre um dominador sobre nós -nem que seja a própria carne- pode ser uma terrível armadilha quando visamos o senhorio errado. Como disse: o ser humano é bobo e pode ser muito facilmente persuadido por uma idéia ou alguém que prometa conforto e segurança emocional, principalmente se tais "presentes" forem dados imediatamente. No fundo não somos muito mais pacientes do que uma criança de cinco anos. Isso é um perigo.

O senhorio dos mundanos eu nem preciso citar. Mas e os cristãos, todos realmente se prostram ao senhor que afirmam seguir? Nem metade, como já falei dezenas de vezes no blog. Não se submeter à Deus significa que tais cristãos foram persuadidos pelos mesmos senhores mundanos: o homem, o mundo e Satanás. Como sabemos a qual senhor esses cristãos servem?

O homem: aqui ocorre um erro comum e que poucos percebem, mas é gravíssimo. O cristão pode perceber se ele se submete à sua própria natureza quando ele tenta persuadir Deus, como se ele fosse maior do que o Pai, É ÓBVIO QUE DEUS É QUEM NOS DEVE PERSUADIR e não o contrário! Existem duas facetas nesse tipo de submissão: a independência escancarada de Deus ou a falsa e forçada dependência.

A primeira forma é simples: tentar fazer muita coisa por conta, achando-se apto para vencer sozinho, às vezes também atirar um pedacinho de "carne" para o monstro da natureza humana despertar alguns minutinhos e arbitrar uns momentos de prazer carnal. O cristão que se prostra ao "homem" não se prostra apenas a si mesmo, mas se torna escravo da velha criatura.

... A segunda forma é um pouco mais complexa. Trata-se do seguir forçado e pouco coerente da Palavra, aqueles exageros, fruto de uma visão embaçada de Deus, de uma compreensão errônea do que Ele é. Aqui há o radicalismo.

O cristão, muitas vezes, deixa de ouvir qualquer forma de música secular, por exemplo, esquecendo-se de que a música é fruto da essência humana e o homem, naturalmente e assim como Deus o fez, é um ser musical. Pense bem: a Bíblia diz que o cantar das aves é louvor à Deus, por que? Não porque elas o fazem com consciência, mas porque estão fazendo aquilo que Deus as criou para fazer e isso Ele "acha bom" (Gênesis 1:21; Salmos 148:7-10; 150:6). Ouvir música clássica, um rock bacana ou alguma outra forma de música complexa e boa para a alma e os ouvidos não necessariamente seria pecado, pois, não sendo a música destinada à Satanás ou remetida à algum ato impuro, é fruto genuíno da habilidade pura e natural da musicalidade humana. -Não esqueça que Davi expulsava os demônios de Saul apenas TOCANDO harpa (1Samuel 16:23).

... Deus não é assim, irracional, e creio que Ele se alegra com a boa música, assim como se alegra com o cantar das aves, que louvam simplesmente fazendo o que foram criadas para fazer. Uma boa música CONVÉM, uma boa música EDIFICA e, como resultado daquilo que Deus colocou em nós, pode ser para a Sua GLÓRIA! (1Coríntios 6:12; 1Coríntios 10:31) Veja bem o versículo 31: "(...) quer comais, ou façais outra qualquer coisa (...)" Até o comer pode ser feito para Deus! E olha que não comemos massa em forma de Bíblia, cruz ou pomba.

O tipo de cristão que se proíbe de ouvir qualquer forma de música secular pode ter intenções ótimas, mas pense bem, ele quer criar uma espiritualidade nalgo que Deus não necessariamente condenaria afim de, querendo ou não, mostrar-se para Ele, chamar Sua atenção, tentar persuadí-Lo: "Hei Deus, olha como eu sou puro, olha como eu sou bacana, venha comigo, vai gostar da minha companhia." Jesus fala o contrário: "Vinde a mim!" Mateus 11:28-30.

O mesmo acontece com aqueles jejuns de guaraná ou salgadinho, muitas vezes sem sentido ou motivações questionáveis. "Viu Senhor? Agora eu estou passando necessidade por TUA causa, agora estou sentindo uma imensa vontade de tomar refri, mas, como sou bom, não vou tomar. Sou legal pra Ti, né?" Às vezes falta coerência. O mesmo acontece, muitas vezes, nos cultos. O que sai da boca não condiz com o que existe no coração e, se não for de coração, o cristão pula, grita alto, ora com determinação para... chamar a atenção de Deus e tentar persuadí-Lo. "Deus, vê como eu to fazendo melhor do que os outros, Tu vai gostar mais de me usar, pode acreditar!" Isso pode ser definido como farisaísmo.

JAMAIS devemos tentar persuadir Deus, é quase o mesmo que suborná-Lo. Ele é que deve nos persuadir, nós é que devemos nos persuadir por Ele!!! Deus não vai deixar de me abençõar nalgo, não sendo pecado, se eu, porventura, não seguir um roteiro "extra-bíblico" de "como se faz". Comunhão com Ele e conhecimento Bíblico é o que há de mais seguro.

--O mundo e Satanás são outros dois senhores que podem persuadir os cristãos mais do que Deus se estes não se converterem de verdade. Postura segundo o mundo e o pecado demasiado definem esses cristãos. Sobre isso já falei muito no blog.--

É claro, às vezes radicalismo facilita a salvação, pois a pessoa se priva de muitos pecados. Mas chega a pontos que a postura se torna insóbria, forçada demais e Deus não gosta de atos forçados, como se fôssemos escravos, nem de insobriedade, já que Ele é o Senhor da sabedoria. Uma pessoa que monsturaliza e teme tudo parece duvidar da consistência de sua fé, da sua decisão. Crer que tudo o que não leva um adesivo cristão não é de Deus é diminuir o poder dEle, a Sua área de atuação - e atribuir mais poder e domínio à Satanás, fazendo-o maior do que o Eu Sou. Até parece que ao dar "play" numa simples música secular o Inimigo vai vir pela tela, nocautear os anjos e me dominar. Claro, não menosprezo o poder do Malingo, mas não o supervalorizo. Também sei que Deus não é sentimental a ponto de recolher Sua guarda por coisa como qualquer arte "não-gospel".

Marcos 12:17 diz para darmos a Deus o que é dEle... então não tiremos o que está em Suas mãos! O homem não deve tentar limitar Deus. O homem não pode duvidar de Deus. Muitos cristão, por exemplo, vêem morcegos e cogumelos como coisas do Maligno apenas porque o Maligno usa dessas imagens, mas não é porque uma seita decide venerar os garfos que não poderei mais comer com um.

As criaturas, as obras de Deus são genuinamente dEle...

... e não devem, só porque não estão entorno de uma igreja, ser prematuramente tachadas de "malignas". O mesmo vale para a música, a arte, que na essência é Obra de Deus, sim! Claro, deve-se buscar conhecer bandas antes de ouví-las e fazer um estudo sobre o estilo musical para verificar sua natureza. Mas não esqueça: não é porque os darwinistas usam o chimpanzé para tentar derrubar a fé cristã que o chimpanzé é do Inimigo... um casal deles esteve na arca, ok?

Bom, se não puder ouvir ou apreciar nenhuma arte secular, então devo colocar uma tanga e me enfiar no mato, pois não poderei comprar, ver, ouvir e fazer quase nada... nem sequer conversar com um incrédulo, já que "ele não é de Deus". Faça-me um favor! Deus não quer puxa-sacos, Ele não quer insanidade!

-Não esqueça: ouvir música gospel, mas não dar atenção à ela, também não tem valia. É o mesmo que ouvir uma música qualquer. Deus não pode ser enganado, Ele percebe quando o louvor é, ou não é, genuíno.-

O problema de argumentar com fervor contra algo é acabar no extremo oposto. A idéia de demasiado liberalismo jamais quero transmitir! Regras são importantes para mantér o homem na linha e é melhor tê-las em exagero do que não possuir nenhuma. O ideal, de fato, é possuir regras, mas que sejam filtradas pela coerência, pela razão. Deus deu conhecimento ao homem para saber o que é certo e errado, leis demais podem extrapolar esse conceito ou serem desnecessárias. Seguir muitas regras, também impulsiona a independência do Pai, já que cumprindo uma infinidade de leis o cristão acha já ter feito o suficiente.

Veja só: em determinada situação o cristão comete algo precipitado e complicado de ser contornado, ao invés do seu conselheiro orar antes de dar a resposta segundo o que Deus quer, se apega, primeiro, ao "manual de como fazer" e manda, até de maneira incoerente e dificílima, seu ouvinte tentar o "contorno" conforme a "regra", mesmo, nesse caso, sendo a maneira mais destrutiva, nem sequer se cogitam as alternativas. Cada situação é única, dificilmente o diagnóstico é o mesmo para duas. Se há mais de uma alternativa, então que aquele que aconselha ore antes de "indicar os remédios" para que seja feita a vontade do Pai, mesmo que ela acabe sendo a mesma citada acima. Mas é sempre bom verificar, não é?

Sem dúvida há cristãos que vêem o universo espiritual e Deus como seres mecânicos e fáceis de manipular, apenas basta "plugar" os cabos em determinada ordem, digitar o código e tá tudo resolvido. As coisas são mais complexas do que pensamos...

... e, ao mesmo tempo, muito mais racionais e "sem frescuras"!

Bom, disse para cuidar com muitas e insóbrias regras extra-bíblicas. Agora alerto para que, abrindo algum espaço ao som secular, por exemplo, não venhamos a confraternizar com o Inimigo. Tomemos cuidado com as armadilhas, com os disfarces que Satanás veste para nos enganar. 2 Coríntios 11:14.

Situação em que, abrindo espaço e sendo cordiais, homens persuadidos acabaram sendo traídos pelos visitantes são inúmeras na história e aconteceram, dramaticamente, na América Colonial.

No século XVI os astecas foram arruinados pelos espanhóis e um dos motivos para a rápida queda perante o europeu foi o engano que cometeram em relação ao branco. Vindos em navios imensos, montados em cavalos, bem vestidos e brancos, os espanhóis foram confundidos com divindades e Montezuma convidou os exploradores e seu líder, Cortés, para uma celebração no coração de seu palácio. Ali, no centro da imensa capital azteca, foi fácil prender o líder e tomar a cidade.

Algo parecido aconteceu com os indígenas que recepcionaram os pioneiros ingleses a chegar na Nova Inglaterra. Foram extremamente dóceis e atenciosos com os colonos, ensinando-lhes técnicas de sobrevivência nas novas terras e garantindo-lhes a sobrevivência no primeiro inverno que aqui pessaram. Resposta européia? Mataram todos esses índios e seguiram massacrando-os por séculos até praticamente se extinguirem.

...Portanto, cuidemos com o que deixamos entrar em nossa casa, em nossa vida. Na maioria das coisas que vemos e ouvimos há traços que escancaram sua natureza maligna ou benigna, mas sempre há aquelas em que a verdade se oculta por detrás de máscaras. Procure saber a religião, as motivações e as mensagens que transmitem teus músicos, da mesma forma cuide com os filmes. O ideal, no final, é "não tentar ver chifre em cabeça de cavalo nem auréola nos chifres do cabrito." Fé em Deus, temor, coerência!

Natanael Castoldi

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Confira aí a letra e a música Mirror Mirror, do grupo Blind Guardian, e veja a Palavra escancarada. Eles não são uma banda gospel, mas falam, como cristãos, verdades que eu mesmo já escrevi nesse blog. Uma música assim não pode transmitir uma mensagem bíblica? Logicamente pode! --Até cantar belezas naturais pode ser louvor ao Deus Criador! Pense bem: nem sempre precisamos falar do Artista, falar de sua arte também é plausível - "...a wonderlful world..."

Os cristãos de hoje parecem evitar tudo o que seja impactante e só buscam, quase que exclusivamente, o que conforta. A disciplina não é confortável, um susto não é confortável, mas muitas vezes se faz necessário, pois o cristão que não ama a Deus não dará atenção a um louvor que fale sobre isso, mas poderá tremer nas bases com uma mensagem como a de baixo, coisa que no meio "gospel" os músicos evitam dizer e que escandalizaria os 'crentes' se fosse dito.

--Se algum cristão não acha saudável, às vezes, algo pesado como o que virá abaixo, então não pode ler a Bíblia inteira, pois o que ela diz nem sempre é confortável! Assim como o cristianismo não o é. -Regras, disciplina, lamentações!--

Natanael novamente